DILEMA
Adelaide Dittmers
Muitas pessoas escondem segredos. A dúvida de
revelá-los corrói suas almas e suas vidas.
Valentina revolvia-se na cama. A escuridão do
quarto encobria sentimentos ambíguos, que a desorientavam. Qual o caminho a seguir? O que era
certo? Haveria o certo ou o errado na
situação em que se sentia enredada.
Seu pai sempre foi seu ídolo. Inteligente, ético, carinhoso e
compreensivo. Quando se sentia perdida,
era o barco que a levava para um porto seguro. A âncora, que a fazia parar e
pensar. Como poderia julgá-lo? Parceiro
presente e amoroso da sua mãe.
Levantou-se como se tivesse levado um grande susto,
empurrando as cobertas e sentando-se. Os
punhos fechados pressionam o colchão.
Precisava sair. Andar sem direção. Colocar a cabeça
no lugar. Vestiu-se rapidamente, ainda
atordoada pela noite insone. Percorreu o
corredor com os tênis nas mãos para não acordar o pai e saiu para a rua.
O dia começara a empurrar a noite e derramava
suavemente a claridade pela cidade, que, sonolenta, começava a acordar pouco a
pouco.
Vagou pelas ruas sem um rumo certo. A grande praça
surgiu à sua frente. Um vento suave
sacudia as folhas das árvores, que exalavam o fresco aroma da natureza. Um sabiá fazia seu concerto matinal.
Ela se jogou em um banco. Os olhos perdidos e o coração descompassado.
A imagem da mãe doente fez com que fechasse seus olhos, espalhando a dor que
sentia por todo o corpo, que, involuntariamente, se contraiu.
A descoberta que fizera de que o pai, um
conceituado médico, havia escondido uma droga, que pretendia dar à mãe, que
estava sofrendo terrivelmente, acometida por um câncer, que estava devorando
seu corpo e empalidecendo sua alma, atingiu-a como um raio.
Ele estava agindo por amor, mas teria esse direito?
Não poderia ter escolhido tirar os medicamentos e antecipar o desenlace.
O choro a sacudiu.
Tinha que agir e impedi-lo de cometer esse crime. Sentiu-se no meio de
um furacão de emoções contraditórias.
Entregar o pai querido ou calar?
Levantou-se resoluta. Iria confrontá-lo.
Entrou em casa com passos firmes, o coração aos
saltos.
Ouviu um choro convulso, vindo do quarto. Correu para lá. O pai soluçava abraçado à
mãe, que acabara de partir. O frasco da droga vazio jazia na mesinha de
cabeceira.
Estacou à porta, a respiração suspensa. Correu até a cama e os abraçou. Sabia agora o que fazer. A decisão estava
tomada.
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