SUSTO À PRIMEIRA VISTA
Vanessa Proteu
Ana, de repente, ouve um barulho na
cozinha e vai verificar. É noite e o relógio na parede começa a badalar. Ela se
vira e se depara com um vulto. Ana corre desesperadamente e abandona a casa
alegando haver nela uma figura estranha capaz de causar pavor e desespero em
quem mora lá. Essa é a lembrança da última vez que Alfredo, um jovem fantasma,
conseguira assustar alguém.
Ele está indignado, pois nos últimos tempos, suas
tentativas de causar pânico nas pessoas não estavam funcionando como
antes. E o famoso “buuuuu!” já não era
mais tão assustador, nem mesmo os grunhidos no meio da noite. Sem emprego, sem
diversão, esse fantasma carioca estava meio deprê. Há tempos não aparecia nenhum morador na sua
casa na rua do ouvidor, número 100. Alfredo trancara-se no porão, pois já havia
desistido da vida, se é que podemos dizer que assombração tem vida.
Numa manhã, porém, ele ouviu uma movimentação estranha:
— Mermão, o que será isso? — perguntou a si. Para sua surpresa, era a família de
Brenda, uma adolescente mimada e cheia de manias, obcecada por beleza e
exageradamente fresca.
Alfredo logo se animou:
— Agora sim... Mas como vou fazer para espantá-los? Faz
tanto tempo que não faço isso, cara! Vou precisar de um plano. Já sei, quando a galera estiver dormindo, eu
derrubarei algumas coisas, faço as portas se baterem e, quem sabe, até faça as
luzes piscarem. Mas, e quando eles me virem?
Hum... Deixa eu pensar... Acho que vou dar uma gargalhada bem forte que
até as janelas vão tremer. Vai ser “daora”, meu! Mal posso esperar. Ansioso, Alfredo anda de
um lado para o outro, atravessando as paredes e esfregando as mãos. Ah, ele ficou muitíssimo animado com aquela
movimentação! À medida que o sol se despedia, o relógio fazia tic-tac, tic-tac
e a noite se aproximava, o nosso temido fantasma se preparava. Trovões e relâmpagos abrilhantavam o show.
Nada daria errado. — Será que eu uso branco ou preto? Nossa, como sou
indeciso! É melhor eu usar preto, pois o
branco está fora de moda e quem usa branco é o Gasparzinho, o fantasminha
camarada. Eu não quero parecer com ele.
Ao cair da noite, pelas mãos da tempestade, as luzes se
apagaram e Alfredo começou o seu espetáculo. As velhas portas rangiam como se
sentissem dores, as cortinas sacudiam e cada membro da família se arrepiava.
Estava dando tudo certo. Alfredo estava pronto para sua aparição no quarto de
Brenda e assim que ele atravessou a parede...
— Ahhhh !!! — ouviram-se gritos. No clarão dos raios,
eles finalmente se viram. Brenda usava uma máscara facial marrom, rolinhos no
cabelo e um roupão roxo. Ambos gritaram. Foi susto à primeira vista.
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