Não foi um dia qualquer
Hirtis Lazarin
A
noite foi longa e o sono não vinha. A ansiedade tinha razão. No dia seguinte,
minha primeira entrevista de emprego.
Um
terninho clássico, cabelos presos e um brinco de pérolas miúdas era o meu
“look”. “Discrição”! - Conselho de mãe.
O
ônibus estava quase vazio e meu pensamento cheio de incertezas. Treinei uma
série de respostas, nada de improvisação na hora da entrevista. Era assim que
eu pensava.
Desci
do coletivo e só, então, percebi que nuvens cinzentas e pesadas se juntavam. Era
chuva pesada que cairia. E logo.
Mal
percorri alguns metros e a tempestade desabou.
Abri
a bolsa, mas cadê a sombrinha?
Corri
em busca de um abrigo. Não deu tempo. Um vento forte e indiscreto despiu-me
quase por inteiro. A água escorria pela rua e pelo meu corpo.
Senti
dó de mim...
Não
sei se por vergonha, desespero ou irritação, sentei-me na calçada. Tomei
consciência: perdi minha primeira chance de trabalho. E eu tinha certeza de que
tudo daria certo.
Na
rua, o fluxo de carros aumentou. Buzinas funcionando a todo vapor. Um caos e todos
querendo chegar e, eu ali, sozinha e abandonada, querendo ficar.
Lembrei-me,
então do meu “Nono” e orei.
Orei
todos os palavrões que ele esbravejava quando uma pedra chutava o seu dedão.
Gostei. Muitas pessoas já fizeram isto num momento de desespero. Bota pra fora todos os palavrões que lembrar.
ResponderExcluirAbraços Helio