Qual o bem maior?
Ana Catarina SantAnna Maues
Helena fazia mestrado em Antropologia. Quando debruçava-se nas pesquisas não percebia as horas passarem. Já muito havia lido sobre estranhas
civilizações com hábitos curiosos, mas a leitura que agora fazia da
comunidade Kuruguá, chamou-lhe
atenção, devido eles considerarem
a fertilidade como bem maior,
valorizando-a de forma rígida.
Antigos nômades que eram, caminhavam procurando
terras para coleta, caça, pesca,
e a proliferação dos membros da comunidade. Quando encontravam uma bela planície
fixavam-se, aspirando que fossem férteis. As mulheres tinham como única função
a reprodução, e assim como a terra, caso
não produzissem, eram exterminadas. Elas necessariamente tinham que
mostrar seu rebento dentro de um ano após o acasalamento com os machos
reprodutores. Mulheres e terra deveriam
ser fartas. O ritual de aniquilamento,
era semelhante, realizado minutos antes da comunidade partir em busca de
um novo lugar para fixarem-se. Eles
reuniam-se e jogavam em toda aquela
terra uma substância avermelhada, a mesma que as mulheres inférteis
deveriam beber, estando amarradas ao
tronco de uma árvore sem fruto. Depois de alguns instantes, iniciava um calor
abrasador por todo o local umedecido com o tal líquido, e tudo começava a
queimar. Da terra incandescente apareciam labaredas. Os corpos das
mulheres iniciavam a queima de dentro para fora, seus gritos podiam ser
ouvidos a distancia. Mulheres e terra
ardiam e consumiam-se num fogo reparador, assim pensavam.
Homens, mulheres e as
crianças, deixavam o local sem olhar para trás. Quando encontravam água
banhavam-se, julgando estarem libertando-se de toda infertilidade do antigo
lugar. Bem longe dali iriam por certo
encontrar outra planície para assentar.