O furação
Henrique
Schnaider
Era o final das férias de Ana, benefício
pelo qual lutara tanto nos últimos anos, mas que pelo excesso de trabalho,
tantas vezes fora adiado.
Ainda lhe restariam alguns dias diante
daquela beleza natural. De um lado a mata virgem provendo o espaço de ar puro e
muitos pássaros, de outro, o mar que lhe oferecia oportunidade de manter os pés
na areia, e aquele horizonte sem fim onde se encontram céu e mar.
A antiga casa dos pais, nessa praia quase
deserta com grande extensão de orla para caminhar pelas manhãs, tem sido seu
refúgio sempre que consegue folga.
A jovem Ana estava sozinha na praia quando soube que se aproximava um furacão.
Ana sentiu certo pavor e por alguns
momentos manteve-se estática, sem reação. Depois, os pensamentos já se
embolavam na mente e a situação já era de verdadeiro desespero e aflição...
Ana lembrava-se de quantas vezes, esteve
naquela casa, junto com seus pais e irmãos, desde os seus cinco anos de idade,
ela passava suas férias de verão e ainda tão jovem, conheceu Paulo, amigo de
seu irmão e com o passar do tempo acabaram se apaixonando e namorando.
Como são todos os jovens, pouco precavidos,
Ana acabou engravidando, mas ambas as famílias foram compreensivas e curtiram
muito a gravidez e finalmente nasceu Aníbal, criança linda, que deu muita
alegria a todos.
Os jovens Ana e Álvaro casaram-se e
acabaram formando uma família linda.
Ela acabou se formando engenheira, e Álvaro formou-se em Medicina. Ambos alcançaram sucesso nas profissões e conseguiram ficar bem
financeiramente .
Na segunda gravidez foi uma felicidade
geral e ela conseguiu uma licença maior, e foi curtir a sua maternidade na
velha casa de pais na praia, o marido descia para encontra-la nos finais de
semana.
Passados alguns dias o noticiário da
televisão comunicou que se aproximava um
furacão naquela região. Subitamente, houve queda de energia e o sinal
telefônico foi a zero, interrompendo todas as possibilidades de comunicação. A
jovem engenheira passou rapidamente os olhos pelas colunas da velha construção,
tentava avaliar se a sua casa antiga
resistiria à fúria dos elementos.
Lembrou-se do porão, lugar de esconderijo
das crianças nas férias. Resolveu se esconder lá, pois lhe parecia mais seguro
naquele momento E lá naquele subsolo escuro e abafado manteve-se trêmula aguardando
a passagem da tempestade.
A hora não passava. Tateava na escuridão a estrutura, e a casa muito
bem construída, resistia bravamente. Os pensamentos iam e vinham os dois filhos, o casamento tão bem afinado, a
carreira de engenharia tão desafiadora, a infância que agora brotava no breu do
porão com irmãos e primos se escondendo ou brincando com as ferramentas e redes
do pai. Muitos planos ainda por realizar, e outros tantos que lhe brotavam.
Lá fora os ruídos iam aos poucos reduzindo.
Sentiu que o tremor da construção estancou. Finalmente o furacão,
transformou-se em apenas uma tempestade tropical. Ela subiu vagarosamente a
pequena escada de madeira e viu-se no quintal arrasado pela ventania. A pequena jaqueira resistiu
firme guardando seus segredos de menina. Ela sorriu aliviada. Tratou de correr
ao telefone e conseguiu comunicar-se com o marido. Naquele momento sentiu que ainda teria um futuro brilhante pela
frente.
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