Consulta médica
Ana Catarina SantAnna Maues
Sr. Sebastião, um nortista, estava
recente na cidade de São Paulo,
hospedado na casa do filho, Cláudio,
para uma consulta médica.
— Que cidade fria!
Reclamava seu Sebastião desde que chegou no sudeste do Brasil, vindo do
Pará. Minha terra é que é gostosa,
quente que só o quê, não vou ficar muito por aqui não, tô até com saudade das
picadas do carapanã de lá.
O filho escutava e não
falava nada. Sebastião, experimentando uma sobremesa de açaí continuava:
— Esse açaí daqui não
presta, o bom mesmo é o de lá, tão
grosso que demora a escorrer pela
vasilha. Lá se toma na cuia acompanhado de pirarucu. Ah meu filho! Aqui não se vive bem não.
Cláudio, filho de
Sebastião, tem bastante paciência com o pai, pois reconhece sua pouca
instrução, mas neste momento responde irritado:
— Calma, você vai
voltar pra sua terrinha meu pai, não se preocupe. Sua consulta no médico já foi
marcada. Um pouco de ânimo seria bom, o senhor está me deixando louco, cada
hora inventa algo e fala, fala, aff!!!
Não consigo me concentrar, o senhor sabe que trabalho com computadores,
e isso requer muita atenção.
Finalmente chegou o
dia da consulta, e seu Sebastião, entrando no consultório vai logo falando:
— Bom dia dotô. Sou um homem direto ao assunto, não quero
perder meu tempo e nem do sinhô. Meu filho acha que eu tô com a ispinhela caída, pois sinto muita dor
nos quarto. Tudo começou quando vi uma pereba no pé, me abaixei, mas tinha
comido muito no café, o sinhô sabe né, café no norte é bem farto, tem mingau,
tapioca, macaxeira, e eu tava empachado, o zóio tava nuviado com remela, ai
perdi o equilíbrio e caí. De lá pra cá é uma dor nas cadeira que não passa. Foi
mal jeito no espinhaço não foi?
—
Bem, seu
Sebastião. Vou pedir alguns exames radiológicos e depois vemos o que aconteceu.
Ok?
Feitos os exames,
seu Sebastião, desta vez com o filho, retorna ao consultório.
O médico verifica tudo
e vê que não é nada de sério. Receita anti-inflamatório e conversa explicando
tudo ao paciente.
Dias depois, já no
aeroporto, embarcando pra sua terra tão querida, despedindo-se do filho, fala:
— Viajar nesse troço me
dá gastura, não sou passarinho. Chego lá com o pé durmente. Sabe o que acho que aconteceu meu filho, mau
olhado do cumpadre Jacinto. Mas meu santo é forte e o quebranto não pegou. A
primeira coisa que vou fazer quando chegar, é ir até o ver-o-peso e comer peixe
fresquinho.
Pai e filho se
abraçam, em despedida comovente.
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