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quarta-feira, 28 de maio de 2025

IDEIAS DE CANÁRIO! - Dinah Ribeiro de Amorim

 



IDEIAS DE CANÁRIO!

COMENTÁRIO SOBRE O CONTO DE MACHADO DE ASSIS!

Dinah Ribeiro de Amorim (25/05/2025)

 

Interessante esse conto de Machado de Assis, como tudo que o grande escritor escreveu! O maior escritor brasileiro, na minha opinião.

Ele estabelece um diálogo curioso entre o homem Macedo, um estudioso da vida e dos animais e o canário alegre, cantante e feliz. Mesmo estando preso na gaiola,

Dá voz à ave que responde às perguntas do Macedo, espantado ao vê-lo feliz no meio de uma pequena loja de objetos feios e antigos, um brechó nos dias de hoje. O canário se destaca no meio de tanta bagunça, mas responde que o mundo, para ele, era, somente uma gaiola, numa loja de antiguidades. Não tinha ambições.

Quando Macedo, compadecido, o compra, leva-o para sua casa, estudando todas as reações da ave, faz daquele canário, seu único objeto de estudo. Novamente interrogado, o canário muda sua compreensão do mundo, que agora era uma linda gaiola, numa varanda bonita de uma casa, em meio a rica paisagem.

Existe aí vários questionamentos sobre o propósito do autor: cada um interpreta o mundo de acordo com o que conhece, com o que aprende, numa interpretação feliz! Satisfação com o que é! Como vive! O que lhe coube como destino!

Pode também ter criado no canário, uma certa ambição, Macedo deve ter lhe aumentado o desejo de vivenciar coisas melhores. Despertou-o a uma nova concepção do que é o mundo.

Após a doença de Macedo, que dura alguns dias, o criado, que trata do canário, o deixa escapar e ninguém mais o encontra.

Talvez o canário feliz com o seu presente atual, a paisagem que o cerca, sente, de repente, a sede da liberdade, a descoberta de um outro mundo, lá fora, em meio à natureza, livre como os outros pássaros, com domínio próprio sobre a vida.

Ao encontrar Macedo, mais tarde, afirma-lhe que o mundo, agora, para ele, é a liberdade, voar de folha a folha, em meio ao infinito azul do céu.

Podemos afirmar que talvez o autor esteja celebrando a liberdade, através da fuga de um canário de sua gaiola; a descoberta da maior felicidade em dominar e ter controle do próprio mundo ou, também, da afirmação do que é o mundo através do conhecimento de outros valores mais importantes.

                                            Fim!

BALEIA, O CÃO FIEL - Adelaide Dittmers

 



BALEIA, O CÃO FIEL

Adelaide Dittmers

 

Os olhos tristes de Baleia se fixaram na pobre família, que o criara desde pequenino.  O

esforço em abanar o rabo para demonstrar a gratidão, que sentia, fez tremer seu corpo fraco e doente.  Sei que vou morrer, tentava dizer na sua linguagem de cão.

Os dois meninos abaixaram-se para acarinhá-lo, passando as mãozinhas magras e encardidas pelas feridas do corpo de Baleia.  Ele encolheu-se.  Não queria transmitir-lhes a sarna, que devorava sua pele.

Um latido rouco, quase inaudível, quis falar-lhes que seu desejo era que se alimentassem dele para matar a fome, que os consumia. Esse era seu último desejo, a expressão de sua gratidão.

Mirou-os pela vez última e estremeceu pelos estertores que a morte trás.  E se foi.  O choro dos meninos ecoou por aquela região seca e sem vida.

 




Confissão de um Cachorro - Hirtis Lazarin

 


Confissão de um Cachorro

Hirtis Lazarin

 

Eu nasci na rua e na rua me criei.  Livre e sem nome, caminhava por todos os cantos.  Assustado e com medo porque tudo era novo pra mim.

 

Descobri que há gente boa e gente ruim. Alguns entendem minha fome e me oferecem alguma coisa pra comer. Outros fazem cara de nojo, batem os pés e me expulsam com gritos. Escuto muito “Sai daqui, vira-lata”.  Não sei o que é “vira-lata”. Só sei que não é coisa boa. 

 

As crianças me fazem carinho e alisam meus pelos, longe dos olhos dos pais. Será que elas entendem que não tenho ninguém e que gosto do carinho e da companhia delas?

 

Não conheci meu pai, fiquei pouco tempo com minha mãe e meus irmãos, eu os perdi por aí.

  

Há muitos cães vivendo na rua. Afasto-me dos grandes. Tenho medo deles. Olhei-me num pedaço de espelho jogado no lixo e vi a minha imagem refletida. Sou pequeno, magro e pelos bem curtos. Não gostei do que vi e até senti pena de mim. 

 

Um cachorro sem raça, sem nome e de porte franzino. Acho que eu me daria o nome de “Fragilidade”. Sei que é uma palavra bonita e comprida bem diferente de mim, mas sou  livre e escolho o nome que eu quiser. 

 

Ontem abriguei-me num ponto de ônibus, um cantinho acolhedor. Alguém me chutou. Não sei o porquê. Acordei sangrando e fugi.

 

Hoje está chovendo, estou molhado e com muito frio. Procuro um abrigo.

 

Não sei explicar bem o que é ser de raça, mas se for lutar pela sobrevivência, sou de raça desde que eu nasci.



BALEIA - DINAH RIBEIRO DE AMORIM

 



BALEIA! 

(fluxo de pensamento)

Dinah Ribeiro de Amorim

 

— Fora, Baleia! Não tem comida para você.

 

Saio andando de cabeça baixa, orelhas murchas, caminho pelo chão batido e seco, até me cansar...

Sinto, de repente, a terra macia, uma água se aproxima, permaneço quieto e parado. O local se enche de água. Fico boiando nessa água limpa e cheirosa, sinto-me bem, alivia o meu cansaço.

Meu corpo se transforma, ao invés de patas, tenho nadadeiras que parecem asas. Mergulho e nado nessa água gostosa, que alivia o calor de fora e me distrai da fome. Olho ao redor, vejo que me olham, curiosos, alguns peixinhos...

Meu nome é Baleia, mas nunca pensei que era um peixe. E peixe grande!

Abro a boca e vários, pequenos, me saciam a fome. Os maiores, peixes grandes como eu, fogem, assustados.

Que delícia de vida estou levando. Sem sede, sem fome, sem excesso de calor, longe daquela terra seca e miserável que tinha.

De repente, um latido forte, caio numa cachoeira. Esforço-me para sair dela. Abro os olhos. Percebo que dormi.

Volto ao chão de terra, ao calor do tempo, à fome que sentia.

Não sou peixe, mas o cão Baleia, moro com retirantes desse sertão maldito; expulsam-me quando a família consegue um naco de carne; mal dá para todos.

Triste e solitário continuo a caminhar...Talvez ache algum bichinho apetitoso nesse deserto sofredor...

segunda-feira, 19 de maio de 2025

PAZ - Pedro Henrique

 


PAZ 

PEDRO HENRIQUE

Houve um tempo em que costumava dizer que a vida era um aglomerado de bosta, coisa esta que sai de nós, dos outros, e somos obrigados a passá-la no corpo e sentir seu odor sem nada poder fazer.

Algo como uma espécie de sentença por não sei o quê. Quiçá por ter vindo ao mundo. Parece que muitos, como eu, já nascem agraciados com a dor. E se tem uma coisa que esta história tem, é dor.

Sobretudo quando decidimos pular nas águas turvas, perturbadoras e agressivas que a constitui. Não diria que há algo oceânico que pode assombrá-los. Ouso afirmar apenas que é uma história comum. Melhor que umas, pior que outras, mas jamais, sob hipótese alguma, à margem do real.

Curiosos? Então lá vai.

Seu nome era Vicência Santos da Silva. Mulher trabalhadora, lavadeira compromissada. Calma, que só. Sua mãe, Dalva, sempre dizia para ela ser mais aplumada, porque a vida não é boa com gente tranquila demais.

Mas Vicência afirmava que não sabia ser de outro jeito. Portanto, sua mãe, sempre que batia em seus irmãos e nela, em virtude de algo que fizessem, dava preferência para a vara arrancar o pouco de carne que a filha tinha nas costas.

Argumentava que batia mais nela para ver se virava mulher forte e não uma menininha que vivia sorrindo para tudo e todos.

Entretanto, foi justamente seu sorriso que encantou Valmir, o dono do botequim que seu pai tinha prazer em frequentar. O rapaz ficou enfeitiçado por Vicência. A procurava em todos os cantos possíveis: casa, bar, igreja, rua, entre outras localidades.

Além disso, contratou os serviços de dona Dalva e, consequentemente, os da amada também, haja vista que esta trabalhava com a mãe.

Com o tempo, Vicência ia animada para a casa do rapaz, ficava a noite inteira anterior à faxina imaginando-se nos braços de Valmir e não tinha forças para acorrentar a ansiedade que corria faminta por suas vísceras.

Em uma madrugada de lua cheia, o destino resolveu selar a aliança entre ambos de uma vez por todas, utilizando-se de um beijo daqueles, com direito a língua e tudo.

E a princípio era assim, beijo pra cá, beijo pra lá. Sem contar as rosas, bombons e noites de jantares no bar. Pena que depois do casamento os beijos se foram, as rosas murcharam, os bombons acabaram e as noites de jantares eram-lhes concedidas somente nos sonhos.

Com isso, o até então príncipe encantado se revelou o pior de todos os canalhas. Pena que Vicência só soube disso quando engravidou.

Tapa? Isso é eufemismo. Falo de soco no estômago, sopa quente na cara, chutes e chicotadas. Falo de gritos, de puxões de cabelo, de rosto se encontrando com parede, mesa, chão. E calada, sem se manifestar. Tinha de esconder sua dor no anonimato, sucumbir a ela e sem saber como: viver.

Quando o homem chegava bêbado em casa e dentro de si tinha o desejo. Podia estar no quinto sono que tinha de acordar para o satisfazer. Uma vez, quando negou, ele a pegou pelos cabelos, tirou suas roupas, amarrou-a com o fio de ferro de passar e tomou o que desejava.

Os gritos de um pedido de socorro que ecoavam, não da boca, mas da alma, faziam-se escutar por aqueles que moravam perto. Entretanto, quem era o corajoso que bateria de frente com aquele que tem a fama de ter colocado a sete palmos do chão uma vida e que se gabava por tal feito?

Houve um tempo em que Vicência aguardava o marido, seja a hora que chegasse, e o deixava tirar dela o que nem tinha. Sua dignidade foi pisada, seu amor-próprio dilacerado, o amor que tinha pela vida? Ah, esse se dava às interrogações do destino.
           Lembrava-se da mãe. Contudo, sentia vergonha demais em voltar. "Para quê?" Pensava. "Para dar razão à velha?" "Para chegar em casa e ouvir: Eu sabia que esse encosto nem o próprio marido iria querer.”

Preferia ficar e aguentar calada, como desde o dia em que nascera: o peso da mão da vida. Chegara, querendo ou não, até aqui, embora, em certos momentos, pegasse se lembrando de como tudo era diferente.
            Era tão bonita, tinha tantos sonhos, costurava tão bem. Não tinha dúvidas de que poderia ter aberto uma lojinha de roupas cujo nome seria "Vicência Modas". Ah… lá faria seus designs, receberia, com o maior prazer, suas clientes. Diria que aquela peça ficou linda mesmo sabendo que não estava, ofereceria champanhe, aperitivos, e todos os seus serviços, mas o que tinha de fato em suas mãos era medo. Medo da bebê que, por um milagre, não havia morrido, apesar da gravidez de risco.

Desde que teve ciência de que era menina, engolia no peito a forte martelada de saber que sua prole seria a próxima. Via na cara de Valmir o desejo pela pele da filha.

Todavia, a bebê crescia e aflorava dentro de seu ventre, indo na contramão de todas as suas tentativas abortivas.

Dessa forma, para selar a tortura de vez, quando estava limpando o chão da cozinha em uma tarde de terça-feira, o medo apertou seu peito de tal maneira que não conseguia respirar. Tinha chegado a hora.

Não tinha telefone em casa porque o marido era louco e muito ciumento, além disso, temia que ela contasse para alguém os maus-tratos que sofria. Portanto, Vicência teve de juntar forças onde não tinha e foi andando para um terreiro que ficava perto de seu casebre. Diziam pelas redondezas que a mãe de santo, mãe Zelina, tinha sido uma parteira de mão cheia. Sendo assim, Vicência decidiu ir até ela.

Quando chegou, foi atendida e acolhida, como filha que nunca se sentiu. A senhora olhava para ela com espanto, incompreendendo toda a conjuntura, afinal, a garota só gritava. No entanto, logo soube.
           
Com isso, pegou-a pelo braço e a guiou até seu quarto, mas as pernas de Vicência perderam sua força e o chão se revelou como o único local apto, naquele momento, para que se realizasse o parto.

Mãe Zelina não se intimidou, pegou panos e toalhas limpas, colocou um canecão com água para ferver e relembrou sua antiga vida. Não se passou muito tempo até a moça colocar aquela criança para fora com uma facilidade que impactou a parteira.

Nesse sentido, quando mãe Zelina foi entregar a filha nos braços de Vicência, esta implorou que não o fizesse. Pediu inquieta que mandasse a menina para o mais longe dali. Suas lágrimas e seu clamor embargado de desespero já foram o suficiente para que mãe Zelina — graduada na universidade da vida — entendesse o porquê.

Depois de ganhar fôlego, Vicência saiu dali e foi para um córrego que localizava-se no alto do maior morro da região. Sabia que tinha chegado a hora. Que não havia saída. Se não o fizesse, ele o faria.

Já estava cansada. Não compreendia como conseguiu tamanha longevidade naquele casamento. Portanto, olhou para as águas do profundo córrego e permitiu que elas lhe dessem paz.

quarta-feira, 14 de maio de 2025

A IDENTIDADE DO MORIBUNDO - Microconto - Pedro Henrique Pereira

 



Pedro navegando por novas experiências, desta vez o MICROCONTO.


A IDENTIDADE DO MORIBUNDO


Havia um homem morto no meu quintal. A pancada esplendorosa de tal fenômeno defrontou-me com farpas viscerais. Essas, cuja alma grita com a introdução.
A vida, do nada, decidiu girar e girar e cada poro revelar, mostrando o corpo nu que vem ao mundo na fragilidade de um bebê.
O vento, o odor, eu. Tantos elementos que tornaram a recepção do olhar do defunto um copo de sofreguidão a se tomar.
Há nele o arrepio dos séculos e a rigidez dos corpos que obtiveram a santa segregação pelo fardo da hostilidade que reside no peito e na boca de cada homem.
Ao observá-lo, analiso também minha própria vida, que de nada pode consigo mesma.
Não tive a noiva ideal. Essa, preferiu meu primo.
Não conquistei minha vaga. Foi dada a um incompetente que nem um relatório tinha habilidade de produzir.
Não fui bom filho. Meus pais afirmavam que meu irmão era melhor. Em síntese, “falhei em tudo”.
É por esse motivo que nada me afasta do morto, pois ele não passa do rio cuja água cristalina reflete meu próprio eu.

 

A FORMIGUINHA MICHELE! - Dinah Ribeiro de Amorim

 

 


 

A FORMIGUINHA MICHELE!

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Moro em apartamento com pequeno quintal. Último andar do prédio. Só eu e o céu também.

Costumo cultivar algumas plantas, já possuo até pequenas árvores. Todas em vasos, pois a terra que havia foi coberta com cimento.

Às vezes, alguns bichinhos aparecem, para minha tortura, detesto que entrem em casa, mesmo pequenos. Sou alérgica a qualquer tipo de picada ou mordida.

Logo cedo, corro ao quintal para brigar com passarinhos, que bicam minhas jabuticabas, em botão. Não as deixam amadurecer.

Entre uns bichinhos e outros, formigões, formigas, e aranhas pequenas. Varro tudo ou esmago com os pés. Nem sempre a água do esguicho resolve. Sinto verdadeira mania em atacá-los toda manhã.

Numa dessas, espantada, paro em cima de uma formiga que me atrai a atenção. Seguro-me na vassoura e a observo, curiosa. Tão pequenina, tenta levar uma folha nas costas, três vezes maior que ela. Ou até mais.

Fico alguns minutos observando-a e, como derruba a folha muitas vezes e volta a pegá-la, enterneceu-me, e tentei acompanhar o seu trabalho. Não tive coragem de matá-la. Achei que o problema dela não era eu, a minha casa, o meu corpo, mas sim algo mais importante.

Percorri, com os olhos, a sua caminhada e, lentamente, dirigiu-se a um buraco bem pequeno no muro, de onde foi ajudada por outras que enfiaram a folha para dentro.

Na manhã seguinte, tornei a vê-la e, sem coragem de empurrá-la, batizei-a de Michele. Tive o cuidado de não a varrer como aos outros bichinhos que encontrava.

Percebi logo que Michele era a encarregada da alimentação do formigueiro e, com dó, solidária ao seu trabalho, só faltava lhe dar bom dia. Como se me escutasse.

Agora, quando varria ou molhava o quintal, deixava sempre umas folhinhas espalhadas perto do formigueiro, esperando Michele aparecer e facilitar o seu trabalho.

Moro sozinha, converso às vezes com plantas e flores, mas com formigas, a primeira vez.

Um tipo de loucurinha legal. Se é que existe alguma.

O tempo passou, a estação mudou, chegou aquele verão forte com suas chuvas violentas. Enxurradas para todos os lados. Até algumas telhas do terraço de cima, digo quintal, caíram, e tive que trocá-las. Caia água na sala. Os relâmpagos, aqui de cima, acendiam tudo, seguidos de trovões extremamente barulhentos. A natureza bela e certa também tem seus dias negros e tristes.

Quando o tempo amainou, verifiquei alguns estragos no meu quintal. Vasos caídos, flores e raízes arrancadas, chão sujo com poças ainda cheias de água. Demoraram a secar.

Preocupada, procurei o buraquinho das formigas, no muro. Nem aparecia. Cheio d’água. E as formiguinhas, coitadas? Nenhuma. Afogadas, com certeza, no temporal excessivo.

Pensei em Michele, a formiguinha trabalhadeira, será que conseguiu se salvar? Talvez alguma folha caída da árvore a tenha levado embora. Servido de barco para navegar em novas águas e procurar outros caminhos. Será que as formiguinhas também têm céu? Possuem algum tipo de alma?

Saudades de Michele e de observar o seu trabalho!

quinta-feira, 8 de maio de 2025

PROJETO ICAL - ESCRITORES EM DESTAQUE

 

PROJETO ICAL

ESCRITORES EM DESTAQUE


Pesquise a vida e obra de um dos autores abaixo. Anote curiosidades. Veja a bibliografia dele. O gênero que mais aplicava nos textos. Observe o estilo literário. Leia uma obra, um poema, um conto do autor, e faça uma análise do texto literário. Marque trechos da obra para os colegas conhecerem.

Será muito gratificante “descobrir” quem é nosso escritor.

 

1.           Hirtis vai escolher primeiro e sua explanação será no dia 14/04 às 20h pelo Zoom. Não faltem. 


2.          Adelaide será a segunda a escolher o autor. Sua explanação será no dia 21/05 às 20h pelo Zoom. Não faltem. 

3. Dinah Amorim - Clarice Lispector - será dia 04/06 às 20hs

Não faltem


4. Pedro Henrique - Conceição Evaristo - será dia 11/06 às 20 hs.

Não faltem.


5. Henrique Schnaider - Érico Veríssimo - será dia 25/06 às 20 hs

Não faltem.


Sugiro que visitem nossa BIBLIOTECA VIRTUAL. Nessa página repleta de boa leitura gratuita (PDF, Áudio-livros e animações). Lá está também os contos e livros citados nas aulas do PROJETO ESCRITORES EM DESTAQUE.

E você vai escolher qual autor para falar de sua vida e obra?



1. MACHADO DE ASSIS
Pesquisa e trabalho executado por Adelaide Dittmers:

Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839, no Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. E faleceu em 29 de setembro de 1908, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

A obra completa de Machado de Assis é extensa e inclui 10 romances, 10 peças teatrais, 200 contos, 5 coletâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crônicas.

 

Machado e a esposa Carolina Augusta

Joaquim Maria Machado de Assis (Rio de Janeiro21 de junho de 1839 – Rio de Janeiro, 29 de setembro de 1908) foi um escritor brasileiro, amplamente reconhecido por críticos, estudiosos, escritores e leitores como o maior expoente da literatura brasileira.  Sua produção literária abrangeu praticamente todos os gêneros, incluindo poesia, romance, crônica, dramaturgia, conto, folhetim, jornalismo e crítica literária. Machado de Assis testemunhou a Abolição da Escravatura e a transição política do Brasil, com o golpe da proclamação da República em substituição ao Império, além de diversos eventos significativos no final do século XIX e início do século XX, sendo um notável comentador e relator dos acontecimentos político-sociais de sua época.[

Nascido no Morro do LivramentoRio de Janeiro, de uma família pobre, mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade. Para o considerado crítico literário norte-americano Harold Bloom, Machado de Assis é o maior escritor negro de todos os tempos, embora outros estudiosos prefiram especificar que Machado era mestiço filho de um descendente de negros alforriados e de uma portuguesa da ilha de São Miguel (Açores). Seus biógrafos notam que, interessado pela boemia e pela corte, lutou para subir socialmente abastecendo-se de superioridade intelectual e da cultura da capital brasileira. Para isso, assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas (particularmente pela Diretoria da Agricultura), e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Machado de Assis pôde assistir, durante sua vida, que abarca o final da primeira metade do século XIX até os anos iniciais do século XX, as enormes mudanças históricas na política, na economia e na sociedade brasileira e também mundial. Em sua maturidade, reunido a intelectuais e colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.

A extensa obra machadiana constitui-se de dez romances, 205 contos, dez peças teatrais, cinco coletâneas de poemas e sonetos, e mais de seiscentas crônicas. Machado de Assis é considerado o introdutor do Realismo no Brasil, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Embora não haja uma lista completa e definitiva de todas as traduções, sabe-se que o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas foi traduzido para os seguintes idiomas: inglês, francês, espanhol, alemão, italiano, sueco, polonês, tcheco, russo, romeno, estoniano, holandês e esperanto. Memórias Póstumas de Brás Cubas é posto ao lado de todas suas produções posteriores, Quincas BorbaDom CasmurroEsaú e Jacó e Memorial de Aires, ortodoxamente conhecidas como pertencentes à sua segunda fase, em que se notam traços de crítica social, ironia e até pessimismo, embora não haja rompimento de resíduos românticos. Dessa fase, os críticos destacam que suas melhores obras são as do que se passou a chamar de "Trilogia Realista".Sua primeira fase literária é constituída de obras como RessurreiçãoA Mão e a LuvaHelena e Iaiá Garcia, onde se notam características herdadas do Romantismo, ou "convencionalismo", como prefere a crítica moderna.[22]

Sua obra foi de fundamental importância para as escolas literárias brasileiras do século XIX e do século XX e surge nos dias de hoje como de grande interesse acadêmico e público para entender o Brasil e o mundo.  Influenciou grandes nomes das letras, como Olavo BilacLima BarretoDrummond de AndradeJohn BarthDonald Barthelme e muitos outros. Ainda em vida, alcançou fama e prestígio pelo Brasil e países vizinhos. Hoje em dia, por sua inovação literária e por sua audácia em temas sociais e precoces, é frequentemente visto como o escritor brasileiro de produção sem precedentes, de modo que, recentemente, seu nome e sua obra têm alcançado diversos críticos, influenciados, estudiosos e admiradores do mundo inteiro. Machado de Assis é considerado um dos grandes gênios da história da literatura, ao lado de autores como DanteShakespeare e Camões. Machado de Assis e Eça de Queiroz são considerados os dois maiores escritores em língua portuguesa do século XIX. Foi incluído na lista oficial dos Heróis Nacionais do Brasil e é homenageado pelo principal prêmio literário brasileiro, o Prêmio Machado de Assis.


 

CONTO 

IDEIAS DE CANÁRIO

Autor: Machado de Assis


Um homem dado a estudos de ornitologia, por nome Macedo, referiu a alguns amigos um caso tão extraordinário que ninguém lhe deu crédito. Alguns chegam a supor que Macedo virou o juízo. Eis aqui o resumo da narração.

No princípio do mês passado - disse ele -, indo por uma rua, sucedeu que um tilbury à disparada, quase me atirou ao chão. Escapei saltando para dentro de uma loja de belchior. Nem o estrépito do cavalo e do veículo, nem a minha entrada fez levantar o dono do negócio, que cochilava ao fundo, sentado numa cadeira de abrir. Era um frangalho de homem, barba cor de palha suja, a cabeça enfiada em um gorro esfarrapado, que provavelmente não achara comprador. Não se adivinhava nele nenhuma história, como podiam ter alguns dos objetos que vendia, nem se lhe sentia a tristeza austera e desenganada das vidas que foram vidas.

A loja era escura, atulhada das cousas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas, enferrujadas, que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia desordem própria do negócio. Essa mistura, posto que banal, era interessante. Panelas sem tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia preta, chapéus de palha e de pelo, caixilhos, binóculos, meias casacas, um florete, um cão empalhado, um par de chinelas, luvas, vasos sem nome, dragonas, uma bolsa de veludo, dous cabides, um bodoque, um termômetro, cadeiras, um retrato litografado pelo finado Sisson, um gamão, duas máscaras de arame para o carnaval que há de vir, tudo isso e o mais que não vi ou não me ficou de memória, enchia a loja nas imediações da porta, encostado, pendurado ou exposto em caixas de vidro, igualmente velhas. Lá para dentro, havia outras

cousas mais e muitas, e do mesmo aspecto, dominando os objetos grandes, cômodas, cadeiras, camas, uns por cima dos outros, perdidos na escuridão.

Ia a sair, quando vi uma gaiola pendurada da porta. Tão velha como o resto, para ter o mesmo aspecto da desolação geral, faltava-lhe estar vazia. Não estava vazia. Dentro pulava um canário. A cor, a animação e a graça do passarinho davam àquele amontoado de destroços uma nota de vida e de mocidade. Era o último passageiro de algum naufrágio, que ali foi parar íntegro e alegre como dantes. Logo que olhei para ele, entrou a saltar mais, abaixo e acima, de poleiro em poleiro, como se quisesse dizer que no meio daquele cemitério brincava um raio de sol. Não atribuo essa imagem ao canário, senão porque falo a gente retórica; em verdade, ele não pensou em cemitério nem sol, segundo me disse depois. Eu, de envolta com o prazer que me trouxe aquela vista, senti-me indignado do destino do pássaro, e murmurei baixinho palavras de azedume.

— Quem seria o dono execrável deste bichinho, que teve ânimo de se desfazer dele por alguns pares de níqueis? Ou que mão indiferente, não querendo guardar esse companheiro de dono defunto, o deu de graça a algum pequeno, que o vendeu para ir jogar uma quiniela?

E o canário, quedando-se em cima do poleiro, trilou isto:

— Quem quer que sejas tu, certamente não estás em teu juízo. Não tive dono execrável, nem fui dado a nenhum menino que me vendesse. São imaginações de pessoa doente; vai-te curar, amigo...

— Como - interrompi eu, sem ter tempo de ficar espantado -. Então o teu dono não te vendeu a esta casa? Não foi a miséria ou a ociosidade que te trouxe a este cemitério, como um raio de sol?

— Não sei que seja sol nem cemitério. Se os canários que tens visto usam do primeiro desses nomes, tanto melhor, porque é bonito, mas estou que confundes.

— Perdão, mas tu não vieste para aqui à toa, sem ninguém, salvo se o teu dono foi sempre aquele homem que ali está sentado.

— Que dono? Esse homem que aí está é meu criado, dá-me água e comida todos os dias, com tal regularidade que eu, se devesse pagar-lhe os serviços, não seria com pouco; mas os canários não pagam criados. Em verdade, se o mundo é propriedade dos canários, seria extravagante que eles pagassem o que está no mundo.

Pasmado das respostas, não sabia que mais admirar, se a linguagem, se as ideias. A linguagem, posto me entrasse pelo ouvido como de gente, saía do bicho em trilos engraçados. Olhei em volta de mim, para verificar se estava acordado; a rua era a mesma, a loja era a mesma loja escura, triste e úmida. O canário, movendo a um lado e outro, esperava que eu lhe falasse. Perguntei-lhe então se tinha saudades do espaço azul e infinito...

— Mas, caro homem - trilou o canário -, que quer dizer espaço azul e infinito?

— Mas, perdão, que pensas deste mundo? Que cousa é o mundo?

— O mundo - redarguiu o canário com certo ar de professor -, o mundo é uma loja de belchior, com uma pequena gaiola de taquara, quadrilonga, pendente de um prego; o canário é senhor da gaiola que habita e da loja que o cerca. Fora daí, tudo é ilusão e mentira.

Nisto acordou o velho, e veio a mim arrastando os pés. Perguntou-me se queria comprar o canário. Indaguei se o adquirira, como o resto dos objetos que vendia, e soube que sim, que o comprara a um barbeiro, acompanhado de uma coleção de navalhas.

— As navalhas estão em muito bom uso - concluiu ele.

— Quero só o canário.

Paguei-lhe o preço, mandei comprar uma gaiola vasta, circular, de madeira e arame, pintada de branco, e ordenei que a pusessem na varanda da minha casa, donde o passarinho podia ver o jardim, o repuxo e um pouco do céu azul.

Era meu intuito fazer um longo estudo do fenômeno, sem dizer nada a ninguém, até poder assombrar o século com a minha extraordinária descoberta. Comecei por alfabetar a língua do canário, por estudar-lhe a estrutura, as relações com a música, os sentimentos estéticos do bicho, as suas ideias e reminiscências. Feita essa análise filológica e psicológica, entrei propriamente na história dos canários, na origem deles, primeiros séculos, geologia e flora das ilhas Canárias, se ele tinha conhecimento da navegação, etc. Conversávamos longas horas, eu escrevendo as notas, ele esperando, saltando, trilando.

Não tendo mais família que dous criados, ordenava-lhes que não me interrompessem, ainda por motivo de alguma carta ou telegrama urgente, ou visita de importância. Sabendo ambos das minhas ocupações científicas, acharam natural a ordem, e não suspeitaram que o canário e eu nos entendíamos.

Não é mister dizer que dormia pouco, acordava duas e três vezes por noite, passeava à toa, sentia-me com febre. Afinal tornava ao trabalho, para reler, acrescentar, emendar. Retifiquei mais de uma observação - ou por havê-la entendido mal, ou porque ele não a tivesse expresso claramente. A definição do mundo foi uma delas. Três semanas depois da entrada do canário em minha casa, pedi-lhe que me repetisse a definição do mundo.

— O mundo - respondeu ele - é um jardim assaz largo com repuxo no meio, flores e arbustos, alguma grama, ar claro e um pouco de azul por cima; o canário, dono do mundo, habita uma gaiola vasta, branca e circular, donde mira o resto. Tudo o mais é ilusão e mentira.

Também a linguagem sofreu algumas retificações, e certas conclusões, que me tinham parecido simples, vi que eram temerárias. Não podia ainda escrever a memória que havia de mandar ao Museu Nacional, ao Instituto Histórico e às universidades alemãs, não porque faltasse matéria, mas para acumular primeiro todas as observações e ratificá-las. Nos últimos dias, não saía de casa, não respondia a cartas, não quis saber de amigos nem parentes. Todo eu era canário. De manhã, um dos criados tinha a seu cargo limpar a gaiola e pôr-lhe água e comida. O passarinho não lhe dizia nada, como se soubesse que a esse homem faltava qualquer preparo científico. Também o serviço era o mais sumário do mundo; o criado não era amador de pássaros.

Um sábado amanheci enfermo, a cabeça e a espinha doíam-me. O médico ordenou absoluto repouso; era excesso de estudo, não devia ler nem pensar, não devia saber sequer o que se passava na cidade e no mundo. Assim fiquei cinco dias; no sexto levantei-me, e só então soube que o canário, estando o criado a tratar dele, fugira da gaiola. O meu primeiro gesto foi para esganar o criado; a indignação sufocou-me, caí na cadeira, sem voz, tonto. O culpado defendeu-se, jurou que tivera cuidado, o passarinho é que fugira por astuto...

— Mas não o procuraram?

— Procuramos, sim, senhor; a princípio trepou ao telhado, trepei também, ele fugiu, foi para uma árvore, depois escondeu-se não sei onde. Tenho indagado desde ontem, perguntei aos vizinhos, aos chacareiros, ninguém sabe nada.

Padeci muito; felizmente, a fadiga estava passada, e com algumas horas pude sair à varanda e ao jardim. Nem sombra de canário. Indaguei, corri, anunciei, e nada. Tinha já recolhido as notas para compor a memória, ainda que truncada e incompleta, quando me sucedeu visitar um amigo, que ocupa uma das mais belas e grandes chácaras dos arrabaldes. Passeávamos nela antes de jantar, quando ouvi trilar esta pergunta:

— Viva, Sr. Macedo, por onde tem andado que desapareceu?

Era o canário; estava no galho de uma árvore. Imaginem como fiquei, e o que lhe disse. O meu amigo cuidou que eu estivesse doudo; mas que me importavam cuidados de amigos? Falei ao canário com ternura, pedi-lhe que viesse continuar a conversação, naquele nosso mundo composto de um jardim e repuxo, varanda e gaiola branca e circular...

— Que jardim? Que repuxo?

— O mundo, meu querido.

— Que mundo? Tu não perdes os maus costumes de professor. O mundo - concluiu solenemente - é um espaço infinito e azul, com o sol por cima.

Indignado, retorqui-lhe que, se eu lhe desse crédito, o mundo era tudo; até já fora uma loja de belchior...

— De belchior? - trilou ele às bandeiras despregadas. Mas há mesmo lojas de belchior?






 2. GRACILIANO RAMOS:

Pesquisa e trabalho realizado por Hirtis Lazarin:

Graciliano Ramos de Oliveira nasceu na cidade de Quebrângulo, Alagoas, no dia 27 de outubro de 1892, faleceu no Rio de Janeiro, no dia 20 de março de 1953, vítima de câncer de pulmão. Teve praticamente 20 anos de vida literária, mas suas obras ficaram para a história.

 Foi romancista, cronista, contista, jornalista, político e memorialista brasileiro, considerado um dos maiores nomes da literatura brasileira.

É considerado o mais importante prosador da geração de 30. O estilo próprio de sua narrativa, sem floreios, seco e simples, propicia uma abordagem direta e profunda das situações e das personagens retratadas. Destaca-se pela habilidade em abordar a interioridade e reações psicológicas humanas e as relações humanas com o meio que se impõe.

 

                                  Momento Histórico

Graciliano Ramos viveu durante um período de grandes transformações e turbulências políticas e sociais no Brasil. Ele nasceu na República Velha, marcada pela política do café com leite e pelo coronelismo. Viveu a transição para a Era Vargas com o Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial. Após a Segunda Guerra, presenciou o retorno da democracia e a criação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), no qual se filiou e depois se afastou.

Preso em 1936, sem acusação formal, por suposta ligação com o PCB, partido comunista, passou 11 meses na Colônia Correcional de Dois Rios, experiência que relatou em "Memórias do Cárcere".

 Ruínas do Lazareto (Ilha Grande -  RJ)


A vida e o contexto histórico de Graciliano Ramos tiveram um impacto significativo em sua obra, que frequentemente aborda temas como:

O drama social do sertão nordestino, marcado pela seca, a pobreza e a exploração.

A crítica às relações de poder e a busca por liberdade.

A reflexão sobre a vida e a morte, a política e a história brasileira.


              Características literárias de Graciliano Ramos

Ele figura entre um dos principais expoentes do chamado Segundo Modernismo, ou  Modernismo de 30. Marcado pela consciência pessimista do subdesenvolvimento, os autores desse movimento tinham como horizonte a compreensão de que os problemas sociais brasileiros eram estruturais. Portanto, desenvolveram uma literatura que retomava as formas tradicionais do romance realista, cujo projeto ideológico propunha uma denúncia dos contrastes sociais do Brasil."

Suas obras, de forma geral, são marcadas por um pessimismo profundo em relação ao homem. Ele cria situações em que as personagens se veem sempre em constantes inquietações quanto às questões da existência humana. Cada personagem corresponde a um tipo social que de fato existe e sua elaboração provém da junção entre a pesquisa da interioridade psicológica humana aliada aos tipos sociais brasileiros.


                              Análise de “Vidas Secas”

Obra de Graciliano Ramos

    “Se aprendesse qualquer coisa, necessitaria aprender mais, e nunca ficaria satisfeito.”


1 - Personagens:

Fabiano

Vaqueiro rude e sem instrução, não tem a capacidade de se comunicar bem e lamenta viver como um bicho, sem ter frequentado a escola. Ora reconhece-se como um homem e sente orgulho de viver perante as adversidades do nordeste, ora se reconhece como um animal. Sempre a procura de emprego, bebe muito e perde dinheiro no jogo.

Sinhá Vitória

Mulher de Fabiano, mãe de 2 filhos, é batalhadora e inconformada com a miséria em que vivem. É esperta e sabe fazer conta, sempre prevenindo o marido sobre trapaceiros.

O menino mais novo

Admira a figura do pai vaqueiro, integrado à terra em que vivem.


O menino mais velho

Não tem interesse nessa vida sofrida do sertão e quer descobrir o sentido das palavras, recorrendo mais à mãe.

(A falta de nome dos meninos reforça a ideia de que eles são apenas coisas, sem individualidade ou importância, dentro de um contexto de extrema dificuldade).

Baleia

Cadela que é tratada como membro da família. Pensa, sonha   e age como se fosse gente.

Fazendeiro

Homem desonesto que explorava seus empregados


O soldado amarelo


Tomás da bolandeira

Personagem secundário:

Tomás da Bolandeira não é um personagem que participa ativamente na história, mas é constantemente lembrado pelos personagens principais, Fabiano e Sinhá Vitória.

Modelo de vida

Ele é visto como um modelo a ser seguido, especialmente por Fabiano, que o admira pela sua educação e pela capacidade de se expressar de forma mais elaborada.

Cama de couro

A cama de couro de Tomás da Bolandeira, um objeto de desejo de Sinhá Vitória, simboliza a riqueza e o conforto que a família Fabiano não tem.

Vocabulário e linguagem

A capacidade de Tomás da Bolandeira em utilizar um vocabulário mais amplo é outra característica admirada por Fabiano, que o vê como uma forma de exercer poder e influência.

Símbolo de poder:

Apesar de não ser um personagem que exerce autoridade direta, Tomás da Bolandeira representa um padrão de vida e cultura superior, que Fabiano e Sinhá Vitória admiram e buscam alcançar, mesmo que inconscientemente, como um modo de lutar por melhoria.

Importância na narrativa

A figura de Tomás da Bolandeira é importante porque revela as aspirações e as dificuldades da família de Fabiano em um contexto de pobreza e seca, destacando as desigualdades sociais da época, como a diferença entre os que têm educação e os que não têm.

2 - Tempo da obra

O tempo da narrativa não está especificado. Mas tudo indica        que a história se passa em algum momento durante as três primeiras décadas do século XX. Assim, o que predomina é o tempo psicológico.

3 - Espaço

O sertão nordestino é o espaço da ação.

4 - Enredo

Sinha Vitória, Fabiano, os dois filhos e a cachorra Baleia, todos famintos, se arrastam em busca de sombra. Diante deles, a “catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas”. Chegam a uma fazenda. Baleia captura um preá. Fabiano faz uma pequena fogueira para assar a caça. Depois da chuva, a fazenda renasce. A família fica vivendo ali, com esperanças renovadas.


5 - Narrador

O romance  conta com um narrador onisciente, o qual tem conhecimento total dos fatos e do mundo interior dos personagens. Desse modo, a história é narrada segundo a perspectiva desses personagens.

6 - Características da obra

O romance, publicado pela primeira vez em 1938, possui um aspecto fragmentado, já que traz a visão particular de cada um dos protagonistas da obra. Ele é dividido em 13 capítulos e  possui características do romance de 1930.

7 - Conclusão

Vidas Secas é um profundo retrato da sociedade brasileira, sobretudo de seus problemas sociais. Dessa forma, Graciliano traça uma crítica social retratando as dificuldades encontradas por uma família pobre de retirantes. Eles têm de conviver constantemente com a miséria e a seca que assola o sertão nordestino.

Os Retirantes” (1944) -  Portinari 


Curiosidades

Graciliano Ramos tinha 37 anos quando foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios (interior de Alagoas) em 1927 e tomou posse em 1928. Ele renunciou ao cargo em 1930, após dois anos de mandato.

Os textos que escreveu durante seu mandato como prefeito são conhecidos por sua linguagem direta, objetividade e estilo literário, mesmo em documentos oficiais como relatórios de gestão. Ele usava a ironia e a clareza para abordar os problemas da cidade, fugindo da linguagem burocrática usual.

                                 Alguns Textos

ILUMINAÇÃO – 7:800$000

“ A Prefeitura foi intrujada quando, em 1920, aqui se firmou um contrato para o fornecimento de luz. Apesar de ser o negócio referente à claridade, julgo que assinaram aquilo às escuras. É um BLUFF. Pagamos até a luz que a lua nos dá.


Sr. Governador.

Esta exposição é talvez desnecessária. O balanço que remeto a V. Excia. Mostra bem de que modo foi gasto em 1929 o dinheiro da Prefeitura Municipal de Palmeira dos Índios. E nas contas regularmente publicadas há pormenores abundantes, minudências que excitaram o espanto benévolo da imprensa. Isto é, pois, uma reprodução de fatos que já marrei, com algarismo e prosa de guarda-livros, em numerosos balancetes e nas relações que os acompanharam.

CEMITÉRIO – 243$000

Pensei em construir um novo cemitério, pois o que temos dentro em pouco será insuficiente, mas os trabalhos a que me aventurei, necessários aos vivos, não me permitiram a execução de uma obra, embora útil, prorrogável. Os mortos esperarão mais algum tempo. São os munícipes que não reclamam.

POBRE POVO SOFREDOR

É uma interessante classe de contribuintes, módica em número, mas bastante forte. Pertencem a ela negociantes, proprietários, industriais, agiotas que esfolam o próximo com juros de judeu. Bem comido, bem bebido, o pobre povo sofredor quer escolas, quer luz quer estradas, quer higiene. É exigente e resmungão. Como ninguém ignora que se não obtém de graça as coisas exigidas, cada um dos membros desta respeitável classe acha que os impostos devem ser pagos pelos outros.

A obra VIDAS SECAS - Graciliano Ramos - faz parte do acervo literário da nossa BIBLIOTECA VIRTUAL. Faça uma visita à página da Biblioteca, vai se surpreender com o volume do acervo, com a qualidade do menu escolhido. Lá você encontrará obras gratuitas em PDF para salvar no seu computador, as obras em áudio-livro, algumas encenações em animações. Não perca.





           3. LIGIA FAGUNDES TELLES:

Lygia Fagundes Telles nasceu em São Paulo, no dia 19 de abril de 1923, e faleceu aos 98 anos em São Paulo em 3 de abril de 2022. Romancista e contista, membro da Academia Paulista de Letras, da Academia Brasileira de Letras e da Academia de Ciências de Lisboa.

 

     4ARIANO SUASSUNA:  

Ariano Vilar Suassuna nasceu no Palácio da Redenção, na cidade de Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, capital da Paraíba, em 16 de junho de 1927, e morreu em 2014.


5. GUIMARÃES ROSA:

João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, pequena cidade do interior de Minas Gerais, no dia 27 de junho de 1908. foi uma das principais expressões da literatura brasileira. O romance "Grandes Sertões: Veredas" é sua obra prima. E morreu em 1967.

 

6. CLARICE LISPECTOR:

Pesquisado e apresentado por Dinah Amorim - 04 de junho de 2025.


Clarice Lispector nasceu na aldeia de Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920. Nascida Haya Pinkhasovna Lispector, passou a se chamar Clarice. faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro de 1977.

Clarice Lispector

Advogada, Escritora e Jornalista brasileira

Clarice Lispector (1920-1977) foi um dos maiores nomes da literatura brasileira do Século XX. Com seu romance inovador e com sua linguagem altamente poética, sua obra se destacou diante dos modelos narrativos tradicionais. Seu primeiro livro, “Perto do Coração Selvagem”, recebeu o Prêmio Graça Aranha.




Infância e Adolescência

 

Clarice Lispector nasceu na aldeia de Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920. Era filha de casal de origem judaica que fugiu de seu país diante da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa.

Ao chegarem ao Brasil fixaram residência em Maceió, Alagoas, Clarice tinha apenas dois meses de idade, por iniciativa de seu pai, todos mudaram o nome. O nome original era Haya Pinkhasovna Lispector, mas no Brasil passou a se chamar Clarice.

Depois, a família mudou-se para a cidade do Recife, onde Clarice passou sua infância na casa localizada na Praça Maciel Pinheiro, 387, no Bairro da Boa Vista. Aprendeu a ler e escrever muito nova e logo começou a escrever pequenos contos.


Casa onde Clarice passou a infância - Recife, Pe

 

Estudou inglês e francês e cresceu ouvindo o idioma dos seus pais, o iídiche.

overlay-cleverCom 12 anos, a família foi para o Rio de Janeiro no Bairro da Tijuca. Era frequentadora assídua da biblioteca.



Clarice e o marido


Em 1941, Clarice ingressou na Faculdade Nacional de Direito e empregou-se como redatora da "Agência Nacional". Depois, trabalhou no jornal "A Noite". Em 1943 casou-se com o amigo de turma, Maury Gurgel Valente. Em 1944 formou-se em Direito. Só veio a receber o grau de Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais em 1952.

Primeiro livro

Em 1944, Perto do Coração Selvagem, que retrata uma visão interiorizada do mundo da adolescência, que abriu uma nova tendência na literatura brasileira.

O romance provocou verdadeiro espanto nos melhores críticos da época, como Antônio Cândido e Álvaro Lins. Sua narrativa quebra a sequência de começo, meio e fim, assim como a ordem cronológica, e funde a prosa à poesia.

A obra Perto do Coração Selvagem teve calorosa acolhida do público e, no mesmo ano, recebeu o Prêmio Graça Aranha.

Viagens e novas publicações

Ainda em 1944, Clarice Lispector acompanhou seu marido, diplomata de carreira, em viagens fora do Brasil. Sua primeira viagem foi para Nápoles, na Itália. Com a Europa em guerra, Clarice ingressou, como voluntária, na equipe de assistentes de enfermagem do hospital da Força Expedicionária Brasileira.

Em 1946, de volta ao Brasil, publicou O Lustre. Depois de uma longa estada na Suíça, em 1949 publicou A Cidade Sitiada. Nesse mesmo ano, nasceu seu primeiro filho, Pedro. Dedicou-se a escrever contos, e em 1952 lançou Alguns Contos.


Mãe e filhos

 

Em 1954, nasceu seu segundo filho, Paulo, em Washington, Estados Unidos. E lá também nasceu seu livro Perto do Coração Selvagem, publicado em francês.




Jornalismo e Literatura Infantil

Em 1959, Clarice se separou do marido e retornou ao Rio de Janeiro, acompanhada de seus dois filhos. Logo começou a trabalhar no "Jornal Correio da Manhã", assumindo a coluna "Correio Feminino".

Em 1960 trabalhou no "Diário da Noite" com a coluna "Só Para Mulheres" e, nesse mesmo ano lançou Laços de Família, um livro de contos que recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro.

Em 1967 publicou O Mistério do Coelhinho Pensante, seu primeiro livro infantil, que recebeu o Prêmio Calunga, da Campanha Nacional da Criança.

Nesse mesmo ano, ao dormir com um cigarro aceso, Clarice Lispector sofreu várias queimaduras no corpo e na mão direita. Passou por cirurgias e vivia isolada, sempre escrevendo. No ano seguinte publicou crônicas no Jornal do Brasil. 

Clarice passou a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro. Era considerada uma “pessoa difícil”. Em 1976, pelo conjunto de sua obra, Clarice ganhou o primeiro prêmio do X Concurso Literário Nacional de Brasília.

Última publicação em vida

Em 1977, Clarice Lispector escreveu Hora da Estrela, sua última obra publicada em vida, na qual conta a história de Macabéa, uma moça do interior em busca de sobreviver na cidade grande.

A versão cinematográfica desse romance, dirigida por Suzana Amaral em 1985.

 

Características da obra de Clarice Lispector

A autora fez parte da “Terceira Geração Modernista” ou “Geração de 45” - época de renovação das formas de expressão literária na prosa e, principalmente nos gêneros conto e romance.

Em busca de uma linguagem especial para expressar paixões e estado da alma, a escritora utilizou recursos técnicos modernos como a análise psicológica e o monólogo interior.

É considerada uma escritora intimista e psicológica, mas sua produção acaba por se envolver também em outros universos, sua obra é também social, filosófica e existencial.

As histórias dela raramente têm um começo meio e fim. Sua ficção transcende o tempo e o espaço, e os personagens, postos em situações limite, são com frequência femininos quase sempre situadas em centros urbanos.

Clarice nunca aceitou o rótulo de escritora feminista. Apesar disso, muitos de seus romances e contos têm como protagonistas personagens femininas, entre elas: Joana, de Perto do Coração Selvagem, Virgínia, de O Lustre, Lucrécia Neves, de A Cidade Sitiada e Macabéa, de A Hora da Estrela, e Ana no conto AMOR.

As cartas de Clarice

Por causa de seu casamento com um diplomata, Clarice viveu quase duas décadas fora do Brasil e escreveu muitas cartas aos amigos, e com olhar cosmopolita ela fala sobre os absurdos do cotidiano, as agruras da condição humana e as banalidades da vida. Suas cartas foram reunidas na obra Todas as Cartas, publicada em 2020.

O livro reúne cartas enviadas para João Cabral de Melo Neto, a quem ela faz elogios (“sendo eu ateia e o senhor um religioso profundo, o seu Deus é o meu”), Rubem Braga, Érico Veríssimo e sua esposa Mafalda, com quem conviveu em Washington. Além de Lúcio Cardoso, com quem trava longas conversas sobre livros.

A amizade que manteve com o escritor Fernando Sabino também foi registrada no livro “Cartas Perto do Coração” (2001), que revela uma profunda ligação entre os dois. As cartas dela foram enviadas de Berna e de Washington, onde morou. Nelas, Clarice revela uma série de frustrações por estar longe de casa.

A Morte

Clarice Lispector faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro de 1977, vítima de um câncer de ovário, um dia antes de seu aniversário. Seu corpo foi sepultado no cemitério Israelita do Caju.

 


                                            Um dos poucos sorrisos de Clarice.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

7. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE:

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira de Mato Dentro, interior de Minas Gerais, no dia 31 de outubro de 1902. Morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

 

   8. EUCLIDES DA CUNHA:

Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha nasceu em Cantagalo, Rio de Janeiro, no dia 20 de janeiro de 1866. Suspeitando que estivesse sendo traído por sua esposa, Euclides dirigiu-se para a casa do amante (que era oficial do Exército e atirador) e sem êxito tentou alvejá-lo, mas foi assassinado com três tiros que atingiram o coração e o pulmão. (Anos mais tarde, seu filho tentou uma vingança, mas teve o mesmo fim do pai).

Euclides faleceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de agosto de 1909.

 

9.MONTEIRO LOBATO: 

José Renato Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, São Paulo, no dia 18 de abril de 1882. Ao nascer. Era filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Monteiro Lobato. Após a morte do pai fez alteração no nome para ficar igual ao pai, então passou a se chamar José Bento Monteiro Lobato.


10. ERICO VERÍSSIMO:

Será pesquisado e trabalhado por Henrique Schnaider, no dia 25 de junho 2025.

Romancista que figura entre os maiores da literatura brasileira, Erico Verissimo, que se definia como um “contador de histórias”, nasceu em Cruz Alta (RS), em 17 de dezembro de 1905.


11. CONCEIÇÃO EVARISTO:
Será pesquisada por Pedro Henrique, e apresentado no dia 11/06/2025


Conceição Evaristo é uma importante escritora brasileira. Nasceu em MG. Formada em Letras pela UFRJ. Em 1996 se torna mestra em Literatura pela PUC/RJ.

Recebeu o título de Personalidade Literária do Ano pelo Prêmio Jabuti, em 2019.




ARIANO E SUA SINA - VIDA / OBRAS / CURIOSIDADES DE ARIANO SUASSUNA

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