INVESTIGAÇÃO CONCLUÍDA
Hirtis
Lazarin
O
casamento deles entrou em crise. Por mais que Luíza procurasse, não encontrava
motivos para o que estava acontecendo.
Beto
estava irreconhecível. O homem gentil e bem-humorado sumiu. Andava pela casa,
de um lado pro outro, sempre resmungando: era a conta de luz muito alta, a
comida salgada; ora era a música irritante, ora era a televisão que não podia
ser ligada.
Ficava
até de madrugada no computador e não admitia que a esposa se aproximasse. As
perguntas ficavam soltas no ar sem resposta. Começou a sair mais cedo para o
trabalho e ela falava sozinha à mesa do café.
Luíza
e Beto não formavam um casal perfeito. Brigavam, discutiam quando as opiniões
eram muito diferentes, ficavam até um tempinho sem falar, cada um querendo ser
o dono da verdade. Mas tudo não passava de um joguinho bobo e, por trás da cara
fechada e bicos, não se aguentavam de saudade.
Até
então, caminhavam juntos, partilhando os mesmos ideais. Beto era advogado numa
empresa conceituada e Luíza se especializava em “designer” de interiores. A
casa nova e financiada cabia perfeitamente dentro do orçamento e ainda podiam
se dar ao luxo de uma viagem internacional no período de férias. Problema financeiro não existia.
Luíza
precisava descobrir o que estava acontecendo.
Um casamento não se joga assim pela janela. O mais cruel é suportar a primeira ideia que
vem à cabeça de toda mulher: TRAIÇÃO.
Teve
muita paciência até descobrir a senha do celular do marido. O mais dolorido foi acessar as redes sociais;
a coragem demorou uma semana pra chegar. Mexeu e remexeu o quanto pode e não
encontrou nenhuma pista. Teria ele outro
celular?
Foi
no sábado quando voltavam do supermercado que a paciência de Luíza se esgotou e
a briga ultrapassou os limites do civilizado. Tudo começou com o gasto nas
compras. Ela já tinha reduzido todas as despesas e não tinha mais como cortar.
Já à
porta de casa, antes do carro entrar na garagem, Luíza soltou o cinto de
segurança; queria fugir pra que o pior não acontecesse. Os braços compridos e
fortes de Beto impediram-na de qualquer reação.
Ele
pisou forte no acelerador e o carro preto zuniu no asfalto molhado. Arrastou
cavaletes de uma construção, ultrapassou farol vermelho, entrou na contramão e
quase atropelou pessoas que passavam na faixa de segurança.
Alcançou
a rodovia feito um desvairado, ziguezagueando na pista em velocidades que iam
de cem a cento e oitenta quilômetros por hora.
Ouvia-se um “buzinaço” dos outros veículos que cruzavam a pista, em
alerta aos motoristas.
Luíza
sentia o pavor da morte. Os gritos não
tinham mais força; foram reduzidos a grunhidos de desespero.
E,
numa curva fechada, Beto perdeu o controle. O carro se desestabilizou, bateu na
mureta de arrimo e girou sobre si mesmo em trezentos e sessenta graus. Capotou
várias vezes e despencou morro abaixo.
Tudo
virou um emaranhado de lata contorcida e dois corpos. Ele morreu no local e a
esposa só voltou pra casa após dois meses de internação.
Ainda
em recuperação e fazendo fisioterapia, Luíza esperava o momento pra começar uma
investigação. Nada fazia sentido. Nada justificava aquele revés na vida...
E,
numa tardinha bem fria de inverno, a campainha toca. Era um oficial de justiça
e uma intimação judicial de despejo por falta de pagamento das prestações da
casa financiada.
Luíza
não precisava investigar mais nada.
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