MINHA PREFERÊNCIA
Do
Carmo
Eu sempre preferi salgadinho a
doce. E graças a essa preferência, fiquei amiga de um famoso vendedor ambulante
que ficava borboleteando a Secretaria de Estado em que eu trabalhava, nas horas
críticas da fome. Sempre no horário da saída para o almoço e no final do
expediente.
Seus quitutes, realmente, eram
pedaços de céu quentinho. Para meu desespero, nunca deixei de comprá-los,
fingia ser a Olivia Palito e comia.
Já se havia tornado hábito eu
encomendar salgadinhos no almoço e pegá-los ao final do dia e levá-los para
casa, além dos devorados na hora.
Certa vez, um vendedor
desconhecido, estava no lugar do senhor João, com o qual já tínhamos amizade de
querência, como ele dizia.
Curiosa perguntei:
- O senhor João não veio hoje?
O senhor o está substituindo? O que aconteceu para ele não vir?
Simplesmente respondeu:
- Aquele velhaco está onde
deveria estar a muito tempo. Está no xilindró, a senhora nunca ficou com chifre
de bode na barriga depois de comer? Ele usa erva da maldade para viciar as
freguesas. Agora ele vai pagar o que fez para mim, dizendo que ele trabalha
melhor do que eu.
Bastante incrédula, voltei
para casa com os salgadinhos desse novo vendedor, não toquei neles por ter
dúvidas, de repente lembrei-me de que havia anotado o telefone do senhor João,
para alguma encomenda extra.
Como um raio, liguei para casa
dele e quem atendeu foi um dos filhos que muito indignado, respondendo a minha
pergunta, contou-me o seguinte:
- Infâmia, senhora, fizeram
uma enorme armação para meu pai, batizaram os sanduiches com folhas de erva do
Diabo. Um desconhecido comprou um desses sanduiches e logo foi a uma Delegacia
próxima e denunciou meu pai, que imediatamente foi algemado e levado preso.
Agora somente nos resta
esperar pelo julgamento, que será no próximo mês. Um dos meus professores da
Faculdade é seu advogado de defesa, uma vez que é um dos comilões assíduos e
amigão. Está confiante na vitória.
Os dias andaram na rapidez de
tartaruga, tartarugando a passar.
Finalmente o julgamento
começou. Muitos preâmbulos, apresentações e inicia a chamada das testemunhas,
sendo primeiro as de acusação.
Ao chamarem a segunda
testemunha, uma senhora levanta-se muito alterada, tenta começar a falar, mas,
entre cascata de lágrimas confessa que tinha ajudado na troca dos sanduiches
bons pelos batizados.
O acusador tentou fugir, mas
os seguranças rapidamente o algemaram, então ele declarou ter sido pago pelo
vendedor senhor Fulgêncio, o desconhecido, para denunciar o senhor João do
crime de entorpecente.
O senhor João estava lívido,
assustado e sem saber o que fazer.
Sua esposa e os filhos
revoavam ao seu redor, abraçando e beijando, deixando-o sufocado. De repente,
feliz levantou os braços e gritou:
- Agradeço, oh! Meu Deus. Como
o senhor é bom e justo comigo!
Os jurados diante da
sinceridade do libertado réu, batem palmas.
Depois de uns dias de feliz
restauro de vida, volta com seu baú repleto de delícias, vendendo tudo aos
famintos e saudosos comilões.
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