Uma floreira especial
Ana Catarina SantAnna Maues
Minha bisa era uma pessoa de postura
majestosa. Lembro-me dela balançando
na velha cadeira, com ar autoritário, de olhar aguçado e penetrante, que
alcançava a alma da gente. Não havia quem a encarasse, nós crianças então,
abaixávamos logo a cabeça quando de frente a ela.
Recordo como se fosse ontem do dia em que
após sua morte, reuniram-se para a partilha de seus bens. Fui logo imaginando
as inúmeras joias e objetos de valor envolvidos, a monta de dinheiro na certa
escondido e agora descoberto. Estávamos ricas, pensei em mim e na minha mãe.
Hoje sou bisa também e de vez em quando
olho para aquela floreira de grossa porcelana, enfeitada com flores baratas,
objeto herdado naquele dia frustrante e isto me inspira e reforça o desejo de
não proceder como ela. Seu temperamento amargo distanciou netos e bisnetos. Ela
deixou sim uma herança, que não foi material, mas um legado, o de não
reproduzir sua imagem, copiar seu exemplo e repetir seus hábitos.
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