O Ingresso
de Jaime na Vida Adulta
Rejane Martins
Jaime não suportava mais aquela fase da vida, não era nem criança, nem adulto. Como ser
adolescente é chato. Ser cobrado em suas responsabilidades como adulto e no
instante seguinte ser julgado como uma criança, e sendo assim não tinha direito
à vontades e exigências.
Mas naquela manhã tudo mudou, Jaime foi acordado
com o insistente som do interfone, irritado questionava onde estariam todos
naquela casa, nem de férias podia aproveitar a cama um pouco mais de manhã.
Injustiça, injustiça, injustiça.
“Alô. Bom dia
Sr. Robesval. O quê? O senhor tem certeza? Sim, sim sou eu mesmo. Não, não
precisa esperar pela minha mãe. Eu já estou descendo. Só um minuto”
Bem vejamos, hoje não é meu aniversário, não estou
esperando nenhum material do Carlinhos para acabar algum trabalho da escola, pô
estamos de férias. Quem será que me enviou uma encomenda? Entrega expressa?
Deve ser algo muito importante.
Opa os chinelos, me esqueci. Pronto elevador onde
você está? Nãooooo, no décimo oitavo andar. Vai Dona Rosalva libera o elevador,
não precisa segurá-lo enquanto conversa com a empregada.
Isso. Valeu Dona Rosalva. Não, parou no décimo
andar onde está realizando aquela obra sinistra. Quer saber, vou de escadas
mesmo, chego mais rápido.
E aí, Sr. Robesval o que chegou para mim. Uau, é
mesmo uma encomenda via sedex 10. Deve ser bem importante o conteúdo. O que
será? Meu Deus minhas mãos estão tremendo, é a minha primeira correspondência
pessoal.
Por um momento Jaime sentiu-se o protagonista
principal do livro “O mundo de Sofia”. Seria legal se o conteúdo fossem
enigmas, que questionassem nossa existência ou o mundo em que vivemos. Foi
revelador para ele se sentir como personagem de uma trama literária onde o
desafio maior é desvendar os mistérios do mundo.
O Mundo de
Jaime
Jaime abriu o envelope pardo e encontrou um livro
velho, amarelado pelo tempo. Abriu com todo cuidado, ansioso com o conteúdo,
tamanha era a ansiedade que nem percebeu suas vistas embaçarem, focar o texto
naquele momento era impossível.
Respirou
fundo, se acalmou e novamente abriu com delicadeza o presente, constatou vários
termos grafados, alguns em vermelho outros em azul e alguns poucos em verde. Fixou
nestes termos e ficou atônito, eram hieróglifos, que piada de mau gosto é esta?
Quem será o engraçadinho que está tentando deixá-lo confuso.
Percorreu, em pensamento, todos que poderiam ter feito
aquilo com ele. Mas sua investigação mental era sempre interrompida com o
desafio de desvendar o enigma do livro. Até que por fim o autor de tudo aquilo
não mais importava para Jaime.
Confinado em seu quarto, mergulhou naqueles
símbolos. Se irritava todas as vezes que alguém o trazia para a realidade ao
chamar seu nome. Não tinha sede, a fome era só a do mistério, o que será que
significava tudo aquilo.
Teve um lampejo, será que os símbolos estavam
espelhados? Em frente ao grande espelho atrás da porta olhou para a imagem das
páginas, eureca!
Ah! Não está escrito em grego antigo? Já sei, só
pode ser coisa do Prof. Jarbas. Ele disse que escolheria um aluno para
disseminar as ideias filosóficas estudadas naquele ano.
Bom pelo menos agora ficou fácil, é só resgatar
aquele dicionário de grego antigo que ele mandou por e-mail, e traduzir o texto,
pelo menos era um texto pequeno.
Em pouco tempo, o texto estava todo em português. Tratava-se
de uma resenha do Ética a Nicômaco,
virtudes que Aristóteles elencou para seu filho Nicômaco.
Emocionado Jaime percebeu que este presente do
Prof. Jarbas, era mais que um presente para um aluno. Somente um pai
presentearia um filho com as regras de conduta que o conduziriam a felicidade.
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