O
sobrado mal assombrado
Christianne Vieira
Turmia animada a da travessa dos Girassóis.
Nem bem o dia amanhecia, e as meninas estavam prontas para as aventuras. Como
de costume Clara era a primeira a cair da cama, esperta, a ruivinha vinha com
suas chiquinhas balançando ao sabor do vento. Ao sair pelo portão, toda
faceira, ia feito um raio chamar Anamaria, sua vizinha. Ela, alta para sua
idade, de cabelos negros de índia, e olhos cor de jabuticaba.
Juntas iam até a casa de Yumi, a japonesinha.
Pequena, rosto redondo, a mansidão típica dos orientais.
As três causavam na rua. Eram temidas pelos
vizinhos mais idosos, pois quando se juntavam, sempre havia confusão. Dentre
as artes, enumeravam: o arremesso de danone na caixa da água do vizinho, chuva de papel picado para
saudar o ano novo que entupia todos os ralos da rua, montar supermercado com a
dispensa da D Magali, onde muitas compotas sumiam, ou brincar de banco, usando
a antiga Olivetti do Nono, para fazer os cheques e o barulho de carimbos
batendo na madeira sem parar.
Entre as
brincadeiras preferidas, estava o
piquenique regado a tubaína e rocambole pullman no jardim da Anamaria, e a
aventura exploratória no sobrado mal assombrado do fim da rua.
Explorar aquela casa onde diziam ter
fantasmas... Era de arrepiar. Somente aquela patota corajosa, para fazê-lo.
Diziam os antigos moradores, que lá vivia
um fantasma de uma menina, que ficou aprisionada no sótão de castigo, por
tantos anos que virou uma caveira... E que ela arrastava sua cadeira pelo piso,
afugentando quem ali entrasse.
Clarinha, Anamaria e Yumi, escolheram um
dia especial, e entrariam naquela casa. Foram vestidas para a batalha. Com galochas e
escorredores na cabeça, munidas de vassoura, rodo e uma pá de lixo grandona.
Seria a aventura blaster, empolgante e
assustadora. Fizeram até um mapa para a ocupação e fuga. O estudaram pedacinho
por pedacinho até decorar.
Partiram para a missão, um misto de
adrenalina e medo, mas eram guerreiras, e não fugiriam da batalha.
Deram as mãos, pediram ajuda do anjo da
guarda, e em marcha foram para o casarão.
Chegando à frente do sobrado, empurraram o
portão, entreaberto, e pelo corredor nebuloso seguiram para a porta da frente.
Tudo ali cheirava a fantasma. Parecia que uma fumaça vinha lá de cima, devia
ser a menina fantasma, elas pensaram.
Subiram a escada em fila, com as mãos dadas,
bem suadas, pé ante pé, até o último lance.
De repente um vulto se movimentou, parecia
vir rapidamente na direção delas. Um ruído forte, arrastado o acompanhava.
Pronto , a menina cadáver se transformara
em um monstro gigantesco.
Yumi, última da fila, gritou e saiu
correndo escada abaixo. Anamaria tentou segurá-la, em vão. De olhos fechados,
tremia inteira. Clarinha, a mais corajosa, suando de medo, continuou no
caminho, tinha que enfrentar aquela fantasma.
Quando a porta do quarto abriu, o vulto foi chegando mais perto. Ficando ainda
mais aterrorizante. As armas, que haviam trazido, jaziam caídas nos degraus.
A ruivinha, cheia de si, respirou fundo e
foi de encontro com a sombra monstruosa.
Até que deu de cara com o seu Francisco, o
faz tudo da rua.
— Meninas o que vocês fazem aqui?! Estou fazendo a reforma da casa, o piso está
instável, e o estuque está desabando...Está perigoso andar aqui. Melhor vocês
irem embora, ou chamarei a D Magali!
Clarinha caiu na gargalhada... Sentou na
escada, não havia fantasma nenhum... O tempo todo era seu Francisco.
Minutos depois, com dor de barriga de tanto
rir, foi procurar as amigas, que estavam escondidas, na garagem da casa da Yumi,
dentro da barraca de índio.
As duas abriram os olhos e vendo a amiga sã
e salva, respiraram aliviadas.
Temiam que a fantasma a tivesse reduzido a
pó.
Juntas ouviram a estória de Clarinha, o
mistério do sobrado mal assombrado havia sido elucidado. Os meninos não iriam
acreditar!!