Sonho Dourado
Rejane Martins
Karina, jovem pernambucana de origem humilde,
sonhava em conquistar uma vida mais glamorosa, com muito luxo e como não podia
faltar um amor incondicional que a acalentasse todos os segundos de sua
existência.
Domingo ensolarado, acorda cedo para não perder nem
um minuto do único prazer que a sua condição lhe oferece. Prepara-se
rapidamente e ruma para a praia da Boa Viagem.
Para não contradizer a mesmice do local, foi
necessário garimpar um espaçozinho na areia. Acomodou-se e só então se permitiu
olhar para os lados e avaliar as possibilidades disponíveis no dia.
Na primeira varredura, detectou à sua esquerda,
isto é algo premonitório o mesmo lado do coração, um deus grego imponente e
majestoso.
Daniel lia um enorme livro em francês, envergonhada
confessou para si mesma que o artefato cultural a impressionou mais que o
próprio leitor.
Conversa vai, conversa vem, decidiram marcar o
primeiro encontro para aquela mesma noite. Muitos outros se sucederam até o
momento crucial se tornar cruel. Chegara o momento de Dany retornar ao Canadá,
em meio a um turbilhão de sofrimentos surgiu a proposta de casamento e a
possibilidade de fixar residência em um país de primeiro mundo. Sem muito
pensar e banhada em lágrimas aceitou. Os trâmites foram apressados e a
lua-de-mel seria a ida para sua nova casa.
Assim que o avião pousou em Montreal, Karina se
sentia a protagonista de um sonho, tudo era deslumbrante, se inebriava com a
paisagem, com ar, com a nova condição de princesa que acabava de conquistar.
Em casa a mãe de Dany os esperava com uma refeição
recém elaborada. Porém o cansaço da viagem, as fortes emoções vividas obrigaram
Karina a se recolher. Amy apressou-se em mostrar o porão da casa devidamente
arrumado para ela.
A decepção estampou-se no rosto da jovem que logo
procurou pelos olhos do amado suplicando proteção. O marido sentindo-se
requisitado, logo esclarece ser um costume local e que o porão é um cômodo tão
bom quanto qualquer outro da casa.
Muito contrariada mas também cansada demais para
discutir, desceu as escadas e se acomodou junto com Daniel na alcova.
Abraçam-se com ternura e logo adormecem.
Durante a madrugada Karina acorda subitamente e nota
que está sozinha, tateando pelo espaço escuro procura pela porta, ao
encontra-la constata que a está trancada. Bate por diversas vezes, vasculha o
carpete da escada com a esperança de achar a chave que a libertará, mas tudo em
vão.
Passa o resto da noite acordada, analisando todos
os acontecimentos, o medo e a dúvida começam a tomar conta da mente. Como
procurar a embaixada brasileira, não sabe se comunicar naquele idioma e nem tem
dinheiro sequer para pegar um ônibus. O que esperar dos donos da casa? Mesmo
envolta em pensamentos confusos e tumultuados, identifica o destrancar da
porta, e um salto sobe rapidamente as escadas disposta a iniciar a sua primeira
briga séria com o marido, mas assim que chega na sala percebe que Daniel já
havia saído para o trabalho, só encontra a sogra que sem perda de tempo
mostra-lhe a louça acumulada na cozinha e que deve ser limpa o quanto antes.
E foi assim que Karina conheceu o Canadá, um quadro
pintado na janela da cozinha do homem idealizado como um sonho, iluminado pelo sol
tropical.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI UMA MENSAGEM PARA O AUTOR DESTE TEXTO - NÃO ESQUEÇA DE ASSINAR SEU COMENTÁRIO. O AUTOR AGRADECE.