Minha
Culpa, Minha Culpa, Minha Máxima Culpa
Rejane Martins
O final do ano aproximava-se e Bel tinha mais uma
vez a incumbência de avaliar e separar os objetos da casa que não tinham mais utilidade.
Começava sempre pelo sótão, pois se o deixasse por último tinha certeza de que
esse trabalho se postergaria para o ano seguinte.
Naquela segunda-feira, acordou cedo e cheia de
disposição, nem arrumou a cozinha do café da manhã, subiu com sacos de lixo
grandes, para iniciar a triagem, verificar as condições dos das peças e decidir
quais se converteriam em donativos. Gostava da sensação de doar objetos
impregnados de significados para outra família.
Começou pelo que
estava no meio do caminho, assim executaria dois trabalhos concomitantemente, a
triagem e a abertura de picadas naquele espaço abafado e sem muita iluminação.
Percebeu que no meio dos tapetes, que outrora
enfeitavam a sala, havia algo mal escondido. Para recuperá-lo, pisou sobre caixas
depositadas no chão e se segurou em apoios um pouco mais elevado. Quando
conseguiu identificar a peça, seu coração congelou. Aquele diário que ela não
destruiu no passado, estava alí assombrando-a novamente.
Quem será que o encontrou? Será que o leu? Como
saber se alguém tem o conhecimento daqueles relatos? E se esta pessoa não se
identificar, Bel terá esta espada apontada para ela até quando?
Depois de todos esses anos Bel finalmente seria
condenada pelos seus atos? Como explicar agora, que foi o resultado de uma
atitude impensada daquela adolescente irresponsável? Foi um momento de fraqueza
que na hora pareceu até uma boa ideia.
Resoluta, Bel desceu as escadas correndo e se
salvando de vários tropeços. Chegou ao quintal tirou todas as tralhas da
churrasqueira, despejou um litro inteiro de álcool sobre o livro e ateou fogo.
Enquanto se certificava da destruição da prova que a incriminava, rezava para
que não fosse tarde demais.
À noite, durante o jantar Ricardo seu marido, comentou
que no final de semana subira ao sótão para pegar uma ferramenta e encontrou o
diário da Márcia, uma antiga amiga do casal. Ele deixou à vista para que Bel o
devolvesse a sua real proprietária, apesar de não terem mais contato há tantos
anos.
Bel confessou que já havia destruído o objeto. Sentiu
muita envergonha de si mesma, não por ter destruído, mas por tê-lo roubado no
passado, necessitava conhecer os pormenores do então namorado de Márcia e assim
conquistá-lo. Afinal pelo Ricardo, valia a pena cometer o crime.
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