Justiça ou Misericórdia
Ana Catarina SantAnna Maues
Pessoas entram e saem de nosso convívio a
todo tempo, acontecendo isto de forma natural ou traumática. Para algumas,
damos graças e aleluia, quando vislumbramos a possibilidade de perder o contato
em definitivo com elas, já outras,
aquelas que funcionam como bálsamo em nossas vidas, fazemos questão de tê-las
por perto, basta a proximidade e já tem alento o coração, mas isto não é
garantia de que nunca as perderemos.
Presenciei um episódio curioso, com
relação e este assunto, envolvendo três personagens, Camila, Sara e Bernadeth,
adolescentes com personalidades bem distintas, colegas da mesma sala de aula.
Tudo ocorreu numa tarde
quente em que iríamos prestar o exame final do colégio. Lembro que Camila chegou esbaforida, com a
blusa colada no corpo de tanto suor. Aluna nada aplicada, precisava de nota
azul ou repetiria o ano. Chegou ansiosa, seus olhos caçavam Sara que bem
quietinha no seu canto, aguardava o momento do professor chegar com as provas.
Chegou ao pé do ouvido da colega, cochichou qualquer coisa e sentou-se ao lado.
Bernadeth observava de longe e veio imediatamente ter com Sara, indagar sobre o segredinho, que sem maldar revelou. Bernadeth na mesma hora
foi até a frente dos demais colegas e
iniciou um discurso:
— Amigos, todos aqui estão
prestes a realizar o exame final. Estudamos
muito, pois temos noção de quanto o conhecimento é importante. Queremos
ser pessoas de bem, melhores para nós mesmos, para nossas famílias e para o
mundo. Os que não forem cursar universidade,
logo logo enfrentarão o mercado de trabalho. Temos que ser capazes por
nós mesmos. Estou falando isto porque quero dividir com vocês algo que está
para acontecer novamente aqui na sala. Camila quer que Sara responda as
questões da prova por ela. Isto aconteceu
o ano todo, vem despreparada e sempre se encosta em alguém. Coloco aqui
pra turma decidir, vamos novamente fazer vista grossa? E voltando-se pra Camila continua. Faço isto
pro seu bem colega, quero que seja responsável pelos seus atos, quero que
aprenda de uma vez por todas a não fazer pouco caso de coisas sérias. Temos a
mesma idade, se fomos capazes de aprender a matéria por que você não foi? Seu
comportamento parasita incomoda
Neste instante o burburinho foi geral com
todos entreolhando-se e balbuciando uns
com os outros. Camila olhava fuzilando Sara e Bernadeth. Sara por sua vez, com
os olhos esbugalhados, fitava a eloquente oradora. A confusão formada, um
alvoroço colossal e entra na sala o professor. Camila levanta da cadeira e indo
encontrar com ele participa que não fará a prova naquele dia. Sara por sua vez
levanta também, e solidária com a colega, informa a mesma decisão.
Não sei dizer se Camila entendeu o
valoroso conselho que recebera, por isso não fez a prova no dia, ou se
ficou foi com muita raiva de tudo
aquilo. Também não sei informar se colou
de Sara na prova substitutiva ou se manteve a amizade com ela e Bernadeth. Fui
um mero espectador do inusitado fato. Vez por outra lembro e reflito, terá
sido Camila o bandido da estória, qual a conduta mais correta, Sara com sua misericórdia ou
Bernadeth em sua justiça. Com o tempo formei opinião, e não exporei aqui,
evitando influenciar o leitor, prefiro que cada um avalie e faça seu
julgamento.
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