Bolinho de chuva!
Dinah Ribeiro de Amorim
Desde que me entendo por gente, adoro
bolinho de chuva, com sol ou não! Vovó Bela mora lá em casa, e essa é sua
especialidade. Toda tarde, após jogo de futebol com meus amigos, já virou
costume, vamos para casa saborear os seus famosos bolinhos. Quando ela está
indisposta ou não os faz por algum motivo, fazemos mil caretas de desagrado, de
tanto que ficamos acostumados. Café com leite e bolinhos de chuva...
Outro dia, terminada a partida, corremos para
nossa cozinha, esperando os cheirosos e saborosos bolinhos de vovó. Primeiro
nos mandou lavar pelo menos as mãos, tal era o nosso suor, para depois
entrarmos em sua cozinha imaculada.
Que surpresa!” Vó, cadê os bolinhos?”,
perguntei aflito. Ela veio depressa, batendo as suas chinelas grossas de pano,
respondendo que estavam em cima do fogão, cobertos por um pano de prato. Qual
nada, alguém havia roubado nossos bolinhos!
Deve ser o gato do vizinho, que vive rondando
por aqui, quando faço qualquer coisa cheirosa - disse
vovó -
surpresa!
Gato! –
exclamei - Que gato! Nunca vi gato
nenhum.
_ Existe
sim, meu filho, tenho sempre que espantá-lo quando estou na cozinha. Já me
queixei com a vizinha, mas ela não consegue controlá-lo, ele foge pelo buraco
do muro.
Lá fomos nós: Luizinho, Paulinho, Marquinhos
e eu, com vassouras na mão, procurando o gato. Cadê ele gente? Vamos
encontrá-lo, dar-lhe uma surra e um susto, que nunca mais pisará em nossa casa!
- berramos em voz alta. Coitado desse
gato! - pensou vovó. Se a turma o encontra, pau nele!
Procura daqui, procura de lá, e nada de
encontrar o ladrão de bolinhos. Batemos na casa da vizinha e ela não o tinha
visto, nem escutado nada. Saímos meio contrariados e combinamos dar uma volta
no quarteirão.
Nada ainda, que gato sem vergonha! Xingamos
em voz alta. Aonde será que se meteu? Deve estar comendo tudo, bem satisfeito,
escondido no meio das plantas. Nossos bolinhos! Demos meia volta e quando nos
aproximamos de casa, ouvimos um miado, logo após, outro... Fomos até ele e o
descobrimos de barriga pra cima, contorcendo-se, com o prato vazio ao lado,
gemendo de dor! Comera tantos bolinhos que estava passando mal!
Até que era pequeno e bonitinho! Ficamos com
dó e escondemos nossas vassouras. Como bater e espantar um animalzinho daquele
que, com certeza, já estava castigado! Acho que nunca mais iria cheirar os
bolinhos da vovó! Carregamo-lo até a vizinha que quase chorou quando o viu
assim mal. Isso é para aprender a não
roubar mais nossos bolinhos! - disse eu, ainda com raiva. Precisava falar alguma coisa, nem sabia bem o
quê! Dar uma de machão!
Voltamos para casa e vovó Bela, carinhosa
como sempre, havia feito outro prato cheinho de bolinhos de chuva! Deixa pra lá esse gatinho, coitadinho, devia
estar com muita vontade para fazer esse esforço. O prato estava pesado.
Diante daquele cheiro
gostoso, resolvemos esquecer mesmo o gato da vizinha!
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