RECORDAR É VIVER
Do
Carmo
Hoje
voltei ao passado e revivi um sentimento adormecido há cinquenta e dois anos.
Sou
considerada aqui em casa como “Policarpo Quaresma”, personagem que guardava até
parafuso usado. Esqueci o autor. Ah, Lima Barreto.
Tenho
um baú grande e muito bonito, de madeira de jacarandá, forrado com veludo
lilás, cor que muito me agrada, onde guardo minhas relíquias sentimentais.
Vez
por outra, remexo minhas fagulhas ardentes e revivo acontecimentos, participo
realmente dos sentimentos vividos na época da chegada de mais uma recordação
física.
Ao
abri-lo nesta semana, logo em primeiro lugar estava uma caixinha de cartolina
rosa, feita pela Bequinha, na época com seis anos, minha querida filhota.
Tão
logo retirei a tampa, senti o perfume dos bombons que ela havia me dado pelo
dia das mães, com um cartãozinho escrito com letrinha trêmula e caprichada,
notava-se o esforço para ser perfeita. Naturalmente os bombons não mais estavam
lá, mas os quadradinhos de papel aluminizado brilhante e coloridos, repousavam
aveludados como no dia em que recebi.
Ao
reler mil vezes a dedicatória, com meu rosto banhado em lágrimas, ouvia
nitidamente sua voz dizendo:
—
Mamãe, eu amo você. Eu fiz a caixinha e embrulhei os bombons que a professora
mandou fazer, e cada menina embrulhou para sua mamãe.
Não
consegui continuar olhando as preciosidades que iria rever. Ainda com algumas
lágrimas deslizando de meu coração, fechei o baú e respirei o ar puro da tarde
de final de outono.
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