A
transformação
Adelaide Dittmers
Em cima de uma pétala de
rosa, a gotinha trêmula conversava com a flor.
Um forte calor deitava-se sobre o jardim, as casas e o asfalto das ruas.
As flores e folhagens bebiam sôfregas a água, que o jardineiro tinha jogado
sobre elas.
— Por que você está com
tanto medo? Perguntou a rosa.
— Não quero me tornar vapor
e sumir no ar. Gosto de rolar por aí, mesmo por dentro de canos escuros, de me
derramar pelo jardim, de sentir que estou dando vida às flores e sentir o
perfume, que vocês exalam. Do cheiro,
que damos à terra, quando a molhamos.
— Você não quer morrer?
— É isso! Como vou saber o
que vai ser de mim se evaporar? Assentiu angustiada.
E tentava agarrar-se à rosa,
porém, começou a sentir-se fraca, como fosse se desintegrar e aos poucos foi se
desgarrando da rosa e subindo para o céu.
Fechou os olhos. Será que iria desaparecer? Abriu os olhos e percebeu-se
dividida em várias gotículas, mas estava viva.
A subida demorou um bom
tempo e subitamente ela sentiu que se incorporara a uma nuvem, que deslizava
rapidamente, levada pelo vento. Com
muito receio, olhou para baixo, onde as casas pareciam de brinquedo.
Mais além, campos
espraiavam-se na paisagem, em que diversos tons de verde misturavam-se ao
amarelo de vastos trigais. Maravilhada, a pequena gota apreciava aquele mundo, que
não conseguira imaginar enquanto percorria rios e canalizações da cidade.
Estava dividida em
partículas, mas era parte de uma nuvem branca e macia. Como pudera ter medo dessa magnífica
transformação. Encantada, deixava-se
levar pelo sopro suave do vento
Uma imensa floresta, que
subia por altas montanhas, surgiu e a nuvem que a transportava tocou nos seus
picos. A sensação de resvalar pelos
altos galhos das frondosas árvores foi intensa e inesperada. Conseguiu divisar no meio da folhagem, um
ninho, em que a mãe alimentava seus filhotes.
Novas vidas desabrochavam ali.
Mal tinham passado pelas
montanhas e uma faixa branca, debruada por árvores, arbustos e vegetação
rasteira, beirava uma grande extensão de água de um verde azulado, que se
perdia no horizonte e brilhava sob os raios dourados do sol.
Era o mar. Ouvira falar muito da sua imensidão, mas
nunca imaginara a sua grandeza. A viagem
tornou-se mais lenta e as nuvens foram parando sobre a grande massa de água, bordada
por pequenas porções de terra. Um
cansaço modorrento invadiu a viajante, que adormeceu acomodada no seu leito de
algodão.
Horas depois acordou
empurrada por uma forte rajada de vento.
Sentiu-se pesada e viu-se cercada por companheiras escuras, que a
comprimiam cada vez mais. Aos poucos
começou a sentir que suas minúsculas partículas se uniam e estava se tornando
novamente uma gotinha, entre milhares de outras. Não queria mais voltar a ser líquida e
percorrer rios e canos escuros. Tinha descoberto
um mundo novo e maravilhoso. De repente,
no entanto, sentiu que despencava do céu com uma força avassaladora. Para onde iria agora?
Caiu com grande impacto no
cinza escuro, em que o mar se tornara.
Desfaleceu ao se sentir absorvida pela turbulência das ondas e percebeu
que agora era parte desse intenso movimento.
Um sentimento forte a tomou
por inteira. Será que ali era seu
lugar? Será que voltara à sua
origem? Pensou, então, na rosa de quem
se separara com tanto temor. O lugar da
rosa era o belo jardim. E o dela? Seria o mar ou voltaria a ser nuvem para viver,
novamente, aquela experiência incrível.
Naquele momento, a pequena gota entendeu que a vida é feita de mudanças,
que muitas vezes nos surpreendem e nos transformam.
Premissa: A
gota que não queria se tornar vapor.
Logline: A
estória de uma pequena gota, que temia evaporar, mas que se tornando parte de
uma nuvem, descobriu um mundo maravilhoso e que as mudanças são constantes e
surpreendentes na vida.
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