O CAPITÃO RAMOS
Claudionor Dias da Costa
Esta história começa com Josué, homem forte, com
mais de um metro e oitenta, pele morena enrijecida pelo sol em suas pescarias
na luta pela sobrevivência dele e de sua família com esposa e quatro filhos.
Morava naquela ilha pequena, perdida a mais de uma
hora de navegação do litoral com não mais do que duzentos habitantes que viviam
basicamente da pesca e pequena agricultura.
Com quase sessenta anos, tornou-se um líder
motivado por sua dura experiência de vida e sabedoria adquirida em conversas sozinho
ou com poucos companheiros nas longas jornadas no mar. Era o Seu Josué Ramos,
mestre navegador e amigo conselheiro para a gente do lugar. Conhecido por todos
como o Capitão Ramos.
Naquele belo dia de outono, com seus dois fiéis companheiros
Felício e Zé Pitéu, amigos de longa data, partiram para mais uma grande viagem
em busca de pesca ambiciosa que ajudaria a suportar a vida por um bom tempo e
alimentar a família e vizinhos.
Após uma semana, a pesca foi boa e propiciou uma
carga bem grande que quase arriava aquela rústica embarcação como são todas a desses
heróis anônimos pescadores valentes e esperançosos.
Radiantes viajavam cantando, porque Zé Pitéu tinha grande repertório aprendido nas
rodas de bar com os companheiros de cachaça e grandes filosofias.
E assim soltava a voz que encantava até as gaivotas:
− Vem comigo é só alegria nessa pescaria vamos
viajar... Vida boa é pescar... Bem longe da cidade contemplando a mãe natureza
com suas belas paisagens.
Aquela cantoria e os “causos” desses dois
companheiros ajudavam a passar o tempo e traziam uma agradável sensação de
conquista e realização.
O capitão Ramos, mesmo entretido naquele encontro
gostoso com os amigos após o trabalho exaustivo da pesca, começou a se intrigar
observando o horizonte ao sul. Aquelas nuvens mais escuras ao longe, não
indicavam boa coisa. Experiente e tarimbado com sentido aguçado nos sinais do
céu, sol, ondas e voo dos pássaros passaram a inquietá-lo.
Os companheiros entre alguns goles de cachaça para
amenizar a viagem, não haviam percebido ainda.
Depois de algum tempo, virou-se para Felício e Zé
Pitéu:
— Vejam ao longe... aquelas nuvens preocupam. E o
vento passou a ser mais forte.
Concordaram com ele e passaram a ficar mais quietos
e providenciar organização nos equipamentos, proteger apetrechos menores na
pequena cabine do barco, amarrar as caixas dos pescados e outros objetos.
Sabiam que não viria boa coisa, pois já haviam
passado por intempéries desagradáveis e não gostavam nem de lembrar.
E muito mais rápido do que imaginavam o tempo mudou
e o vento forte assobiava trazendo uma tempestade violenta que começou a abalar
a estrutura da embarcação, tornando-a instável e jogando-a em grandes saltos
nas ondas gigantescas que se formaram.
Embora com medo, o sentido de sobrevivência falou
mais rápido e procuravam um em cada ponta compensar os movimentos violentos que
deixavam o barco parecendo feito de papel.
Os gritos e as chamadas de atenção do capitão pouco
adiantaram e ficou ofegante quando em forte balanço viu Zé Pitéu cair no mar. O
desespero de Felício o fez ir para o lado em que ele havia caído, mas, em novo
solavanco, também foi jogado para fora.
Josué ficou apavorado e viu seus amigos
desaparecerem ao longe com o barco à deriva em ondas gigantescas.
Nesse momento, só conseguiu se agarrar firmemente
no mastro e com uma corda conseguiu se afirmar melhor.
Como num filme começou a vir em seus pensamentos a
imagem da mulher e dos filhos, seguido de passagens de sua vida.
Antevendo que seria difícil se safar, olhou para o
céu e rogou a Deus que o ajudasse.
Em constantes súplicas, resistiu firme na posição
que estava e após algum tempo o vento e tempestade acalmaram.
Chegou após hora e meia à ilha, onde encontrou a
família e vizinhos preocupados.
Exausto, mas aliviado, muito entristecido entre
lágrimas contou o desfecho de Felício e Zé Pitéu o que deixou o pessoal
arrasado.
No dia seguinte final de tarde, após homenagens aos
amigos perdidos, sentou-se na praia a olhar o mar e com o coração apertado
ainda, percebeu que dali a alguns dias deveria voltar a navegar e exclamou para
si mesmo:
− É a vida ...a minha vida
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