SEM
PERDÃO
Suzana da Cunha Lima
- Bom, para mim já deu!
Ele levantou-se da mesa
arquejante, tentando manter a raiva sob controle. Mas ao olhar o rosto neutro
da mulher, quase cínico, a ira tomou conta de si, rompendo as comportas da
educação e bom senso.
- Você é uma hipócrita,
rancorosa e desalmada. Toda hora está
jogando na minha cara o caso que tive com Elaine há séculos, no mínimo cinco
anos... Como é que pode? Já me desculpei
de todas as maneiras, o que é que quer que eu faça mais? Aconteceu, pronto. É tocar a vida para a frente.
Ela continuava a olhar para
ele como se nada estivesse acontecendo, mas o seu coração fervia pelos anos de
desprezo e negligência e pela constatação, que agora fazia, de que jamais o
perdoaria. Não podia, o amara demais. Não, não fora só a Elaine, ela sabia,
eram casos conhecidos de todos, que a humilhavam e a rebaixavam de maneira
insuportável. Sem falar de agressões físicas insuportáveis.
Não meu amigo, não haveria
volta nem tocar para a frente, era o fim mesmo.
Levantou-se devagar,
deixando seu desprezo escapar aos poucos nos gestos lentos. Pegou a jarra de
cristal que enfeitava o aparador.
Presente dos pais dele, coisa fina.
Bateu na cabeça dele com
todo o ódio acumulado naqueles anos de agonia.
E ele caiu no chão, bebendo
seu próprio sangue, olhos abertos de espanto e dor.
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