Coroa sem rei
Ana Catarina Sant’Anna Maués
Como num
castelo de vidros grossos, à prova de bala, lá estava ela a rodopiar como a
bailar nos velhos salões de candelabros a luz de velas, de um tempo distante. Porém,
agora somente admirada por olhos curiosos, que faiscavam a cada cintilar dos
gordos rubis que faziam par com reluzentes esmeraldas em contraste com, não
menos valiosos, desbotados topázios.
Sem dar atenção aos que a cobiçavam ela lembrava,
bons tempos aqueles, dizia para si mesma, e ao encontrar a memória saiam de
mãos dadas a passear pelos labirintos das lembranças. Perdi a conta de quantos
anos tenho. Já fui usada em bailes e bodas, guerras e acordos de paz. Reis
poderosos, me ostentaram com grandeza, eu sozinha enaltecia o monarca, pois a
imponência de minha altivez era suficiente para o glamour. Quando o soberano,
ao recolher-se no sono de uma noite, me deixava ao lado, descia à simplicidade
de sua natureza, era como um homem singular, tão igual quanto um mero camponês,
mas ao raiar do novo dia, ao colocar-me, paramentado com manto, era a glória
como se Deus fosse.
Hoje aqui,
neste museu, sirvo para exibir a nobreza de tempos outrora, imponente ainda
sou, mas do que serve uma coroa sem rei?
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