A
BRAVURA DE JANJÃO
Do Carmo
Estamos vivendo um
período de imenso isolamento em reclusão, o que me aborrece deveras. Gosto de
conviver com meus amores e amigos, tomar cafezinho às tardes, como nosso hábito
entre as amigas do prédio, cada dia em um apartamento, com acompanhamentos bem
leves, ou seja, bolos recheados, bolachinhas com patês ou geleias e assim por
diante.
Com essa apatia
diária, comecei a bisbilhotar pela varandinha, os movimentos dos apartamentos
vizinhos e da rua.
Fiquei conhecendo
um homem andarilho, que apesar de sua aparência peculiar ao seu estilo,
mostra-se educado com os poucos transeuntes, carinhoso com os cãezinhos que
passeiam com seus donos, e sorrindo sempre, caminha vagarosamente amparado com
uma muleta, pois tem uma improvisada perna de pau.
Hoje por volta das
onze horas, como ultimamente tenho feito, depois do café da manhã, debruço-me
no parapeito da varandinha e já espero ver o cadenciado andar do Janjão, como o
apelidei.
Esperei como
sempre até que ele desaparecesse do alcance do meu olhar, e fui cuidar de meus
afazeres.
Qual foi minha
surpresa ao ouvir gritos vindos da rua, onde se misturavam vozes de jovens e de
adulto, e como fundo, uma de criança.
Rapidamente,
voltei à varanda e com espanto vi o Janjão segurando um menino pelo braço
amparando-o, querendo salvá-lo dos murros e pontapés de dois garotos, muito
maiores do que ele.
A indignação do
andarilho era comovente, pois advertia em voz alta, com propriedade e
sabedoria, porém de nada adiantava. O que fez os malvados se acovardarem foi
quando, num impulso de defesa, Janjão curvou-se, puxou sua perna de pau e como
espada a empunhou em direção aos agressores, que dispararam em retirada.
Sentados na
calçada, acarinhava o pequeno agredido e por alguns minutos, ainda fiquei vendo
essa cena comovente.
Quando me refiz da
emoção e voltei à varanda, já não estavam mais lá.
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