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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Conselhos literários




O que é escrito sem esforço em geral é lido sem prazer. 

 (Samuel Johnson)




O único recurso que conheço é o trabalho. A escrita tem leis de perspectiva, luz e sombra, assim como a pintura ou a música. Se você já nasceu conhecendo-as, ótimo. Se não, precisa aprendê-las. E depois precisa rearranjar as regras a fim de adaptá-las a si próprio. 

(Truman Capote)



Sempre sonhe e atire mais alto do que você sabe que pode fazer. Não se preocupe somente em ser melhor do que os seus contemporâneos ou predecessores. Tente ser melhor do que você mesmo.

(William Faulkner)

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

VÊNUS - Alberto Landi

 

 



VÊNUS

Alberto Landi

 

A beleza e a paixão se entrelaçavam nas colinas de Roma.

Vênus, a divindade do amor, observava o mundo mortal com o coração repleto de desejos. Sua presença era como um campo de flores em plena primavera, atraindo todos ao seu redor. Mas havia um mortal que chamou sua atenção de uma maneira muito atraente. Adônis.

Adônis era um jovem caçador, forte e destemido, cuja essência vibrava como o canto suave de um beija-flor.

Sua coragem e graça fascinavam Vênus, que se sentia atraída por ele como um colibri atraído pelo néctar das flores.

Um dia, decidida a conquistar seu coração, desceu da parte mais alta de Roma e revelou-se a ele.

— Adônis, disse ela, com uma voz suave como se fosse o sussurro do vento entre as folhas, vem e fique comigo. Deixe as caçadas para trás e conheça o amor eterno que te ofereço.

Mas ele, embora encantado pela beleza da divindade, era fiel à sua paixão pela caça.

— Vênus, entendo seu chamado, mas o impulso que sinto pela liberdade nas florestas é tão forte quanto o desejo de um beija-flor pelo pólen das flores. Preciso seguir meu caminho.

Essas palavras cortaram o coração dela como uma lâmina afiada. O ciúme e a frustração tomaram conta dela. Como poderia alguém rejeitar tal amor? Ainda com lágrimas nos olhos, implorou.

Por favor, não deixe que sua paixão pela caça te consuma. O amor que te ofereço é mais profundo do que qualquer aventura.

Mas ele estava decidido. Afastou-se dela, afirmando precisar viver sua própria vida. O desespero tomou conta de Vênus enquanto ela observava seu amado partir.

Na manhã seguinte, enquanto os primeiros raios de sol iluminavam as florestas verdes ao redor de Roma, ele partiu para mais uma caçada.

Ela observou-o à distância, seu coração dividido entre amor e dor. Ao longe, ela viu um javali feroz se aproximar dele.

— Adônis! Gritou Vênus com todas as suas forças que tinha.

Mas era tarde demais. O animal atacou com fúria descontrolada e Adônis caiu no chão ferido. O grito dela ecoou pelo vale, enquanto ela corria até ele.

Ao chegar ao lado de seu amado, ela sentiu o peso do mundo sobre seus ombros.

— Por que você não me ouviu? Eu poderia ter salvado você!

Ele sorriu fracamente em meio à dor.

— Vênus, disse ele com voz suave, eu sempre amarei você, mesmo na eternidade!

A tristeza tomou conta do coração dela, enquanto segurava seu amado em seus braços. Ela percebeu que o amor verdadeiro não poderia ser aprisionado, ele era livre como o voo do beija-flor entre as flores.

Ela fez uma promessa: Você viverá para sempre em meu coração e nas flores que brotarão na primavera. Assim nasceu a tradição das anêmonas vermelhas, flores que simbolizavam tanto a beleza quanto a fragilidade do amor.

E assim, enquanto os anos se passavam e as estações mudavam em Roma, ela continuou a honrar Adônis através das flores que floresciam em sua memória, uma lembrança eterna de um amor imortal marcado por conflito e emoção!

 

 

 

O PASSADO VOLTA DE REPENTE! - Dinah Ribeiro de Amorim

 




O PASSADO VOLTA DE REPENTE!

Dinah Ribeiro de Amorim

 

Margarida caminha, vagarosamente, pelas campinas verdejantes. Consegue chegar ao vale. Senta-se com esforço e estica o corpo, relaxando-se ao sol. Borboletas coloridas esvoaçam à sua frente, com tonalidades especiais. O perfume de flores paira no ar.

Fecha os olhos e pensa, conseguiu chegar ao final.

Anos de turbulência e esforço, vontades sufocadas, sentimentos de fracassos e esperanças, mas, objetivos alcançados, comprou a moradia na aldeia campestre.

Velha, cansada, de movimentos fracos e lentos, menor disposição que antes, mas ainda feliz. É sua, agora, a casa sonhada. O passado é vencido pelo presente.

Dona por direito, nela nasceu; foi expulsa logo cedo, em companhia da mãe, aos cinco anos.

Guardou a lembrança saudosa daquele local, daquelas paisagens verdes, dos folguedos e sonhos de criança, na esperança de um dia voltar.

Voltou, afinal.

O tempo presente é a realização do sonho, a concretização final da atribulação, do trabalho feito.

Pena que sua mãe não o alcançou. Não viveu a tempo.

Pensa na mãe e a vontade aperta, sente saudade, lembra o passado.

A moça bonita, cabelos louros ao vento, puxando-a pela mão, a mala grande na outra, andando apressada em direção ao trem. Iam para a capital, em busca de trabalho.

O patrão, seu pai, o dono da casa e dono delas, também, mandou-as embora. Não era casado e considerava a mãe uma simples amante ou governante da casa. Foram dispensadas a pedido de um amor atual, moça que considerou noiva, com quem pretendia casar.

Margarida, em menina, não entendeu a situação, no momento, só percebeu, triste, que estavam deixando a casa, o único lugar que conhecia, o homem que chamava de pai, em busca do estranho, do desconhecido, que lhe causava medo e decepção.

Um futuro incerto as aguardava e passaram mesmo por muitas incertezas.

A mãe, moça e bonita, mas sem instrução, só conseguiu trabalhos à custa da aparência física, numa época em que a mulher só era considerada do lar ou fora dele, empregada de algum estranho.

O difícil era manter a filha junto a ela e a menina viu-se colocada num internato de freiras para órfãos ou indigentes, mas com estudo. Foi difícil separar-se da mãe e sentiu-se magoada, com isso, por muitos anos. Não entendia o porquê?

Recebia suas visitas semanais, que rareavam, às vezes, quando ela conhecia alguém mais especial, e viajava por uns tempos.

Os anos se passaram e Margarida, mocinha, saiu do orfanato, com emprego fixo de babá, numa casa de família. Os primeiros anos de escola, completou. Lembra com saudade de algumas irmãs que a ajudaram e foram carinhosas com ela. Davam-lhe bons conselhos.

Maias tarde, ela e a mãe conseguiram morar juntas.

Como babá, juntou um pouco de dinheiro e, auxiliada pela mãe, que resolveu empenhar-se em costurar, frequentou uma escola à noite, para completar os estudos.

Com o tempo, seus sentimentos íntimos, suas revoltas, transformam-se em sonhos e ambições.

Vontade de viver melhor, dar à mãe uma vida boa, já se queixava das vistas, vieram à sua cabeça e começa a pensar grande, auxiliada por leituras e exemplos aprendidos.

Vem a vontade de cursar uma faculdade, prestando vestibular para jornalismo.

Torna-se brilhante jornalista, empregada numa revista de grande popularidade local, a revista CLÁUDIA.

Seu nome começa a aparecer e é convidada para grandes entrevistas e realizações sociais.

Seus artigos, relacionados à vivência infantil e familiar, são muito apreciados e começam a ser procurados para dar cursos sobre isso.

A vida de Margarida se transforma novamente. Passa a ser uma pessoa conhecida, de grande popularidade, inteligente e bondosa, professora de ensinamentos. Uma filósofa, praticamente.

Com isso, adquire uma razoável situação econômica, podendo realizar, em grande parte uma modificação para melhor em suas vidas.

Após alguns anos, a mãe, cansada e mais velha, adoece, recebendo de Margarida muita atenção. Sua visão também fica comprometida, tendo o auxílio de uma enfermeira, uma bengala para caminhar em casa e um cão guia para ir às consultas médicas. Auxílios às pessoas com dificuldades visuais.

Preocupada com a mãe, sua única família e a pessoa que mais amava, Margarida dedicou-se totalmente a ela. Esqueceu-se de sua profissão e sonhos.

Queria realizar os sonhos de sua mãe e perguntava-lhe sempre o que tinha vontade.

Espantou-se um dia, um pouco antes dela falecer, quando lhe respondeu querer voltar a ver a casa onde moraram, no campo.

Sua mãe ainda sentia saudades de seu pai, e tinha o mesmo sonho que ela, ter a casa em que nasceu.

Começou a preocupar-se com isso, querer sondar a situação, não do pai, mas da casa.

Colocou corretoras locais para averiguarem quem ainda era o dono da mansão campestre? Curiosa, soube que estava à venda, sem nenhum interessado e a moradora local, uma viúva, em situação difícil.

Volta para dar a notícia à mãe e encontra-a, no hospital, levada às pressas. Problema de coração.

A mãe de Margarida falece, não recebendo a notícia sobre a casa.

Muito triste, a filha, em consideração à mãe, esquece o assunto, passando alguns anos dedicada ao seu trabalho. As lembranças permanecem escondidas em seu coração amargurado, só deixando aflorar os sentimentos presentes.

Leva alguns anos na profissão que escolheu e sente-se bem com isso, aliviando a dor do falecimento da mãe e tentando alegra-se com o presente atual que a vida lhe oferecia!

Um dia, lendo um jornal mais antigo, vê um anúncio que lhe chama a atenção: leilão municipal no interior! Aos interessados, segue-se a data e mais informações.

Descobre que a sua primeira casa, seu sonho antigo e de sua mãe, faz parte desse leilão.

Sonda melhor a respeito e vai assisti-lo no dia certo.

Tem, na noite anterior, um sonho com a mãe, sentindo-se feliz.

Antes do leilão, vai até a casa para verificar seu estado. O terreno, ainda bom, chama-lhe a atenção, mas a casa, em si, necessita de reforma.

Conversa com moradores locais e fica sabendo que o antigo dono faleceu cedo, deixando a esposa como herdeira. Não tinham filhos.

A esposa viúva, sem tino algum sobre negócios no campo, plantação e criação, levou tudo à falência, falecendo também pobre e desgostosa.

Conclusão: propriedade do município, estando à venda.

Consegue ganhar a causa. Compra novamente sua casa de nascimento. Volta a ser a proprietária, embora adulta e já com idade avançada.

Inicia uma reforma, reconstrói o que era viável e lhe traria retorno financeiro e volta, feliz, em sua primeira moradia.

Seu passado torna-se, novamente, o presente e o futuro em sua vida.

Apreciamos uma Margarida feliz!

A SOMBRA DO LIMOEIRO - PEDRO HENRIQUE

 

     


 

A SOMBRA DO LIMOEIRO

PEDRO HENRIQUE

 

Na tarefa indomável que é viver, somos colocados sempre à prova. Seja pelas dinâmicas, por vezes, exaustivas do cotidiano, seja pela complexidade dos caminhos que nos trouxeram ao lugar onde estamos hoje.

     Nada tenho a amaldiçoar. Cheguei no pico mais alto. Só que há algo. Uma coisa cuja nomenclatura foge das minhas mãos como água e então é inútil querer prender essa sombra que paira sobre mim e lançar a ela a luz da linguagem.

     Tenho oitenta e dois anos, já sou aposentada, ganho o que um pai de família neste país nem que trabalhasse a vida inteira ganharia. Entretanto, visto o manto da solidão cotidianamente, entrego-me sem temor ao meu percurso. Sou fêmea, sou corajosa, sou mulher.

     Sabe aquela clássica história da menina do interior que morava com os pais e que era a única filha de sete irmãos? Pois bem, essa sou eu. Lembro sempre, quando deito nesta cama, de como meu pai era metódico.

     Ai de mim se porventura fosse vista de conversinha com algum moleque. Haveria, indubitavelmente, uma boa vara, retirada do nosso limoeiro, à minha espera. Pronta, decidida e cruel, para me dar o que meu pai enchia a boca para chamar de educação. “Eu bato porque te amo.”

     É engraçado que Alberto, meu falecido marido, disse a mesma coisa quando me bateu pela primeira vez.

     Não ache você que ele era um bêbado. Não. Era um homem educado, bem portado, rico e recheado de títulos de honra.

     Mas o mal não olha para o status em que estamos. Ele vem, correndo, faminto, desejando colossalmente devorar-te. Tirar de ti o afeto e a dignidade.

     No entanto, a vida não se resume ao doloroso. Tive mãe. Uma mulher que os próprios deuses se curvavam ao seu passar, porque viam ali a bondade de raros corações.

     Afeto era o substantivo abstrato que a classificava de forma completa. Beijava, abraçava, sorria… Angariou a ciência de que um gesto vale mais que mil palavras.

     Lembro que sempre ao chegar na cozinha para ajudá-la a preparar o almoço, era recebida por muitas carícias e toques. Ah… como aquela mulher me amava.

     Com meus irmãos também não era diferente. Não se ressentia em beijá-los ou pentear seus cabelos para que fossem belos e irresistíveis ao bar com papai.

     Afirmo com convicção que foi uma princesa em outra vida. Seu jeito gracioso denunciava tal tese. Não havia um que não notasse a forma elegante de seu caminhar ou sua educação erudita perante todos.

    E com isso, também surgiam os indissolúveis questionamentos: “O porquê de uma mulher tão bela como ela se casaria com um homem tão avarento?”

     Papai era o oposto. Sujo, ignorante, sem respeito algum aos seus semelhantes. Era bruto, selvagem. Nunca negou que pusera a sete palmos do chão uma vida. E dizia seu feito com orgulho, pois como o pai lhe ensinara: isso lhe confere posição de macho.

     Mas o que os questionadores não viam nas águas turvas desse rio era o desejo incontrolável de liberdade, de voos altos, de sair e ser aquilo que se pode ser.

     Coitada de mamãe, soube como eu hoje sei. Soube…

     Bom, voltando. Virgindade, essa era uma palavra tida como sagrada em minha casa. Meu pai dizia que ninguém arrancaria isso de mim e que, se surgisse na Terra um homem decidido a fazê-lo, deveria ser um doutor.

     E o destino armazenando essa informação tramou seu plano astuto. Ao invés de Alberto de Alcântara Albuquerque, chegar em outra cidade, na qual fora acionado para defender um fazendeiro milionário. Veio diretamente ao meu encontro.

     “Menina, onde fica a fazenda Boa Pessoa?” Foram suas palavras. Eu tinha quinze anos na época. Hurm! Todos ficaram me olhando falar com aquele sujeito que chegara ali com um carro que desperta em todos a ânsia de saber mais.

     E naquele momento, mesmo sabendo que era errado falar com qualquer pessoa do sexo oposto, não me contive perante a possibilidade da vaidade e de mostrar para toda aquela gentinha que eu era mais do que a filha de Antônio cachaceiro.

     “Não, sei não, moço.” E com essas palavras, a vida laço-me ao declínio e à benção dos dias porvir.

     Meu pai logo foi chamado por um dos meus irmãos que afirmou, idealizando meu encontro com o fragmento do limoeiro, que eu estava descumprindo à luz do dia, seus mandos.

     No entanto, ninguém, nem Antônio cachaceiro, teria coragem de chutar a oportunidade que batia tão carinhosamente à sua porta.

     Meu pai se aproximou e, a essa altura, Alberto perguntava-me se namorava.

     “Não, não, senhor, ela é moça pura. É minha filha.”

     “Ah, então é o senhor o culpado dessa belezura existir?”

     “Hurm! Sou sim.”

     “E o senhor? Qual é a vossa graça?”

      Alberto não disse uma palavra sequer, apenas pegou a carteira e tirou dela um cartão. Papai não sabia ler, então deu para mim, e quando li o “Dr.” na frente do nome Alberto, foi o suficiente para quatro horas depois, não antes, claro, de uma longa conversa entre os dois, eu estar entrando naquele carro, sob o olhar curioso de todos, e indo com o doutor para bem longe dali.

     Ainda hoje, questiono, com tristeza, se foi a melhor decisão que meu pai tomou. Alberto nunca foi o melhor marido do mundo, não era nem de longe agradável.

     No começo, foi mágico. Finalmente, eu estava em um lugar onde eu não tinha que ter medo de me esconder ou não usar a roupa que verdadeiramente queria usar.

     Mas com os anos, o grito veio. A princípio era por coisas banais, logo em seguida se tornou mais recorrente.

     Só que… O que era um grito para quem outrora vestia os trapos comprados na feira por mamãe e hoje usa a mais alta grife?

     E quando, depois do grito, o tapa marcou meu rosto. Lembrei de papai. “Eu bato porque te amo.” Então me calei.

     Quando Alberto morreu, me veio à mente, ao olhar para o seu caixão, o enterro de mamãe. Que antes de partir, havia me dito que eu nunca poderia deixar um homem mandar em mim e que era para fazer o que fosse preciso para sair daquela casa.

     E naquela noite, após sair do meu quarto, papai a amou muito. Oh, como amou.

     Anos mais tarde, quando o doutor e eu fizemos o aniversário de trinta e cinco anos de casados, Alberto veio com fúria me amar também, mas eu já estava pronta.

    Garanto a você, caro leitor, que eu o amei, naquele dia, mais do que tudo no mundo.

 

CARTA APÓS O INÍCIO DO ANO! - Dinah Ribeiro de Amorim.

 


CARTA APÓS O INÍCIO DO ANO!

Dinah Ribeiro de Amorim.

 

         Cara, Dora, amiga irmã, mais amiga que irmã, mais irmã que muitas amigas.

Nossa, como o ano de 2024 passou rápido, voou… O que achas?

Mal tivemos tempo de sair, conversar com amigos, programar alguma coisa, bater aquele papo, só nosso, tu e eu.

Meu Natal foi simples, somos poucos agora, a filha Ângela, um irmão caçula, Edgard, também idoso, como eu, e dois netos jovens e queridos: Pedro e Paula.

Inventei uma brincadeira divertida e econômica, pequenas lembranças que seriam trocadas ou roubadas, conforme a preferência de cada um. Acabou tudo em risadas e isso foi ótimo.

Como eu e algumas amigas estávamos sós para o réveillon, viúvas e com filhos e netos viajando, fomos até Águas de Lindóia.

Cidade agradável, vizinha de Serra Negra, onde visitamos também uma réplica da Fontana di Trevi, italiana, que fizeram lá. Precisas conhecer.

Uma bela representação.

Li também alguns livros bons, presentes de Natal do neto e do irmão.

Um deles, acho que vou doar à nossa professora do ICAL, que nos treinou bastante no assunto sobre crime e investigação: O Clube do Crime, de Richard Osman. Temos que aprender vários tipos de temas, segundo ela, se quisermos ser bons escritores.

Trata-se o livro de um grupo de idosos, numa Casa de Repouso, que funda um clube para estudar e auxiliar a Polícia a elucidar casos ainda não desvendados. É interessante.

Idosos, tipo Agatha Christie!  Afff…

E assim, amiga, ficas sabendo um pouco do meu final de ano e início de 2025. Escrevas contando-me o teu.

Abraços, amiga. Espero ver-te, em breve.

                               Dinah.

 

 

Brincando na neve - Alberto Landi

 


Brincando na neve

Alberto Landi

 

No mês de janeiro, foi realizada visita aos netos da América e, de repente, uma forte nevasca inesperada se abateu.

O vento uiva do lado de fora e a paisagem se transforma em um conto de fadas coberto de branco. Apesar do frio intenso, não há nada que possa impedir sua alegria.

Após vestir-se com camiseta térmica e jaqueta, a corrida para fora começa. As crianças já estão ansiosas e esperando por momentos divertidos.

A neve estala sob seus pés enquanto bonecos são moldados, dando vida a pequenos bichinhos brancos. Risadas ecoam no ar gelado, e cada abraço apertado é um lembrete de quanto esses momentos são gratificantes.

A tarde avança e as condições climáticas pioram. A tempestade se intensifica e o céu escurece rapidamente. A diversão dá lugar à preocupação quando a visibilidade quase desaparece e o frio se torna cortante.

Tenta-se manter o bom humor, o espírito leve, mas a tensão é visível. Como voltar para casa?

As crianças não se importam com tudo isso e querem brincar, mas você sente o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Não pode deixá-los em perigo, tem que protegê-los da melhor maneira possível, precisa encontrar uma solução rápida.

Ao olhar nos olhos esperançosos, uma onda de emoção toma conta, um dilema que corta o coração: manter a diversão ou garantir a segurança?

Decide-se que é hora de voltar para dentro, mas ao explicar isso às crianças, elas ficam desapontadas.

Não entendem o perigo que está lá fora, é apenas um dia mágico na neve e querem aproveitar.

Você sente uma pontada de culpa por interromper a alegria delas e o medo por saber que o tempo está piorando e se esgotando.

Enquanto todos entram na casa aquecida, observa-se pela janela a tempestade uivante lá fora. O calor da lareira contrasta com o frio do exterior, mas a mente continua dividida entre o desejo de proteger os netos e a vontade de aproveitar cada segundo juntos.

Essa visita é bem rara e preciosa, e a ideia de que poderia ser interrompida pelo clima vigente é insuportável.

Nesse momento de conflito interno, percebe-se que é preciso encontrar um equilíbrio entre segurança e alegria. Com um sorriso determinado, sugere-se uma competição: quem consegue fazer o melhor boneco na neve antes que volte para dentro? As crianças se acendem novamente em entusiasmo, trazendo sorrisos ao ambiente mais uma vez.

Juntos na neve, rindo e brincando como se cada momento fosse uma eternidade.  Mesmo quando o clima lá fora permanece ameaçador, o amor compartilhado cria um refúgio seguro, um lembrete eterno de que, mesmo nas condições mais difíceis, os laços familiares podem brilhar mais intensamente do que qualquer nevasca.!

 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

O PAU DE ARARA - Adelaide Dittmers

 



O PAU DE ARARA

Adelaide Dittmers

  

O inverno escureceu as nuvens, que eram empurradas por um vento gelado e úmido.  Vultos encolhidos andavam pela rua do bairro periférico.  Passos cansados dos trabalhos pesados.

 

Um homem de gorro preto, de onde sorrateiramente saiam fios de cabelos prateados, apressou a caminhada.  Segurava uma sacola de couro, cujo peso vergava um pouco seu corpo magro.

 

Parou em frente a uma casa de porta e janelas azuis, com um pequeno, mas bem cuidado jardim, em que arbustos se misturavam a um pequeno espaço, onde ervas cresciam para ser usadas para dar mais sabor à comida caseira.

 

Abriu a porta e um arrepio sacudiu seu corpo ao entrar no ambiente quente e acolhedor da pequena sala, em que móveis simples se acomodavam muito perto um dos outros. Inspirou com prazer o cheiro que vinha da cozinha.

 

— Salvador?

 

— Eu mesmo, Marieta! Está um frio danado lá fora!

 

A mulher apareceu na sala e sorriu:

 

— Vem pra cozinha. O forno está aceso.  Vai logo se esquentar.  Muito trabalho?

 

— Graças a Deus, sim!  Instalei uma grande parte da fiação em um prédio de luxo que estão construindo. 

 

Livrou-se do casaco, do gorro e dos sapatos e sentou-se a uma mesa, observando a movimentação rápida da mulher, que preparava o jantar.

 

Seus olhos se fixaram nela com carinho e os pensamentos viajaram para um ônibus cheio, onde os seus olhos se encontraram e a conversa escorregou de suas bocas com leveza e animação.

 

O namoro, o noivado e o casamento, a vinda dos dois filhos.  Vinte e cinco anos passam muito depressa, pensou.  Ele, eletricista, ela, doméstica.  Foi uma difícil, mas uma boa luta.

 

Fechou os olhos e, de repente, estava em outro lugar, em outra época.

 

 

II

 

O menino corria pelo terreiro atrás de uma cabra magra, que balia sem parar.  Ele adorava aquele bichinho medroso. O sol escaldante queimara a pequena plantação ao lado da casa de pau a pique.  Um homem carregando com dificuldade uma enorme lata cheia de água vem pelo caminho seco.  Os pés descalços e a alma vazia.

 

Coloca a lata em frente à entrada da casa e ralha com o moleque, por estar molestando o animal.  Uma mulher gasta pela seca e a pobreza aparece na porta e se curva para pegar a água rara.

 

— Num guento mais essa vida, mulher! Só sofrimento! A gente trabaia, trabaia e seca tudo.

 

A mulher faz uma careta e balança a cabeça concordando.

 

— Severino vai pra Sum Paulo. Diz que lá ninguém passa fome.  Quero ir pra lá.

 

Com o medo estampado no rosto magro, a pobre mulher fica em silêncio. Como seria esse lugar, teria lugar para plantar e levar a cabra.  Entra e desaparece no escuro do casebre. O menino entra também para matar a sede.

 

Depois de muitas conversas com Severino e o acordo com o dono do caminhão, Josias, Maria e Salvador sobem no pau de arara, com os poucos pertences enfiados em pequenas trouxas.  Severino e a família também estão lá. Um primo dele irá esperá-los, quando chegarem. E o caminhão lotado de retirantes, que se espremem nos toscos bancos, parte para o sul. 

 

A viagem longa e árdua castiga aquelas pobres criaturas já tão abatidas pelas dificuldades da vida. A intervalos, o pau de arara para e eles podem fazer uma parca refeição com o pouco dinheiro que carregam nos bolsos remendados.

 

As mulheres com lenços na cabeça tentam evitar que a poeira da estrada entre pelas suas narinas e colocam panos gastos pela miséria no rosto das crianças.  Os solavancos fazem os retirantes dos bancos pularem e as crianças agarrarem suas mães.

 

Após dias de viagem, o caminhão entra em uma grande rodovia e desliza pelo asfalto. O movimento intenso de veículos chama a atenção dos viajantes. Cidades aparecem e desaparecem pelo caminho.

 

Horas depois, uma grande cidade, em que construções se erguem para o céu, abocanha todo o horizonte à frente.  Olhos assustados se admiram com a imensidão de concreto, que começa a cercá-los por todos os lados.

 

O pau de arara entra sacolejando pelas ruas movimentadas do lugar e muitos deles se encolhem de medo ao se deparar com uma realidade totalmente desconhecida.  Ao chegar ao lado de uma estação de trem, o caminhão para, despejando os retirantes, que, atônitos, olham em volta desnorteados.

 

Severino avista o primo e se cumprimentam. Josias, Maria e Salvador se aproximam timidamente e são bem recebidos pelo homem.

 

Depois de um longo trajeto de ônibus, chegam a um bairro da periferia da cidade.

 

A procura por um trabalho é muito difícil para quem somente lidou com a terra a vida inteira.  Josuel, o primo, que é pedreiro, leva ambos para uma construção e começam a servir de ajudantes.  Com o tempo, aprendem a profissão e ajudam a construir muitas casas na grande cidade.

 

Maria se torna faxineira. E, com os anos, conseguem construir uma pequena casa.

 

 

Salvador ingressa em uma escola pública.  Inteligente e interessado, consegue terminar o ginásio e ingressar em um curso de eletricista no SENAI.

 

Certa tarde, voltando para casa, em um ônibus lotado, seus olhos encontram os olhos de uma bela morena, que está de pé ao seu lado, e o sorriso dela o encanta.  Começam a conversar e, por sorte, descem no mesmo ponto. O namoro e o casamento foram a coroação de um amor, que dura há vinte e cinco anos.

 

Marieta coloca um prato com sopa na frente do marido:

 

— Coma, homem, para esquentar os ossos.

 

Ele sorri.  Ela é uma boa mulher, que o ajuda há anos, trabalhando como caixa de um mercadinho local e que sempre conseguiu cuidar da casa. O carinho com que ela tratou seus velhos pais até que Deus os levou. O cuidado e a severidade amorosa com que criou os filhos.

 

O orgulho pela família, que formou, ilumina seu rosto.  Rafael acabara de se formar em engenharia civil e Janaína estava cursando enfermagem.

 

Olha com gratidão à sua volta.  Quantos nordestinos deixaram seu lugar de origem para tentar uma vida melhor nesta cidade imensa, que os recebeu e os abraçou.

 

O menino Salvador, que fugiu da seca e da fome, encontrou um lar na cidade grande. Grandes foram os desafios e a luta foi incessante para melhorar de vida, mas conseguiram.

 

As agruras da viagem espinhosa no pau de arara ficaram no passado, mas muitas vezes as saudades do balido da desnutrida cabra de sua infância o invadem. O que será que foi feito dela?

 

 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

BIBLIOTECA VIRTUAL - DEZENAS DE LIVROS EM PDF - AUDIOLIVROS


BIBLIOTECA VIRTUAL DO ICAL 

O Seu Portal de Leituras Clássicas


A leitura é a porta de entrada para o conhecimento, e os clássicos são as chaves que abrem os mais diversos mundos. Em nossa biblioteca virtual, você encontrará obras atemporais que expandem o vocabulário, enriquecem o pensamento e inspiram novas leituras e escritas.

Aqui, reunimos grandes títulos da literatura para que você possa explorar histórias fascinantes, reflexões profundas e lições valiosas. Seja para aprimorar seu repertório linguístico, compreender melhor a cultura e a sociedade ou simplesmente viajar pelas palavras de mestres da escrita, nosso acervo está à sua disposição.

Descubra, aprenda e se inspire. Sua próxima grande leitura começa agora!

Esta página é um guia literário com variadas literaturas em PDF (é só clicar no título para abrir o PDF). 

Para alguns títulos trazemos também o áudio-livro, e animação.

E, aproveitamos para agradecer os diversos sites que disponibilizam os livros em PDF, e os sites de áudio-livros.





IDEIAS DE CANÁRIO

Machado de Assis

Animação

IDEIAS DE CANÁRIO - PDF


Leitura - áudio-livro



O CAÇADOR DE PIPAS 

Khaled Hosseini 

LIVRO EM PDF

Livro falado



O IDIOTA 

Dostoiévski 

LIVRO EM PDF



Análise






LIVRO EM PDF



Livro falado






LIVRO EM PDF



Livro falado



Vidas Secas - Resumo






LIVRO EM PDF



Livro falado



Hamlet - dublado






DOM QUIXOTE 
LIVRO EM PDF



Livro falado






LIVRO EM PDF






CRIME E CASTIGO - ANÁLISE





LIVRO EM PDF



LIVRO FALADO



Análise






LIVRO EM PDF



Livro falado


Análise primária





LIVRO EM PDF




LIVRO FALADO






LIVRO EM PDF



LIVRO FALADO - LIVRO 1


LIVRO 2


LIVRO 3





LIVRO EM PDF



LIVRO FALADO






LIVRO EM PDF



LIVRO FALADO


ANÁLISE FILOSÓFICA




LIVRO EM PDF




LIVRO FALADO - PARTE 1

PARTE 2






LIVRO EM PDF



LIVRO FALADO





              O MENINO DO PIJAMA LISTRADO 
          JOHN BOYNE
          LIVRO EM PDF


LIVRO FALADO





LIVRO EM PDF



LIVRO FALADO


FILME - MADAME BOVARY





LIVRO EM PDF



LIVRO FALADO - PARTE 1






LIVRO EM PDF




LIVRO FALADO








LIVRO EM PDF






LIVRO EM PDF




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ARROZ DE PALMA - INTERPRETAÇÃO






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ANÁLISE

INTERPRETAÇÃO






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CLARICE LISPECTOR POR ELA MESMA






TRISTE FIM DE POLICARPO 
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LIVRO FALADO - COMENTADO







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ENTREVISTA COM O AUTOR JEFERSON TENÓRIO






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ENTREVISTA COM O AUTOR ITAMAR VIEIRA JUNIOR











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