SONHO
OU REALIDADE
Henrique Schnaider
Quando eu tinha por volta de 7 ou 8 anos, à noite eu
dava muito trabalho aos meus pais. Era medroso ao extremo, chorava muito, tinha
pesadelos, tinha que dormir com as empregadas. Na verdade, eu tinha horror
quando chegava a hora de dormir.
De dia, aí eu era uma figura oposta. Estava sempre
na rua na molecagem, jogo de bola, bolinha de gude jogo de taco com bola ou com
graveto. Saiamos dando volta no quarteirão, apertando campainhas e pernas para
que te quero.
Dávamos muito trabalho para nossas mães. Para parar
de brincar e ir almoçar, mas logo em seguida lá estávamos de novo brincando e
aprontando. No jantar outra briga com as mães, mas logo em seguida lá estávamos
de novo nas brincadeiras.
Depois de tanta estrepolia eu e meu amigo Carlos
Azolini, entrávamos na minha casa e íamos para perto da empregada de minha mãe,
a Maria, faladeira que ela só. Ela não perdia tempo e já começava a contar
histórias, as mais loucas ou assombrosas, de arrepiar os cabelos.
Certa vez disse que estava no quarto acordada,
quando viu uma sombra na parede que tinha a figura de um homem. Morrendo de
medo levantou-se vagarosamente tremendo de medo e foi mais perto da parede e aí
não viu nada e acabou ficando na dúvida se tinha ou não visto aquela sombra,
mas por via das dúvidas deitou-se e cobriu a cabeça para dormir.
Eu e meu amigo ficávamos com os olhos arregalados,
tremendo de medo, mas a curiosidade era mais forte doque o medo e queríamos
continuar ouvindo as histórias da Maria, éramos todo ouvidos, pois ela sabia
como ninguém contar histórias que ela jurava que eram verdadeiras.
Terminada a jornada o Carlinhos ia embora e eu
apavorado, pois era hora de ir dormir, começava a ver coisas, ouvir barulhos,
não conseguia pegar no sono. Achava que tinha alguém no quarto. Começava a
chorar e enquanto minha mãe não me deixasse ir dormir no meio dela e do meu pai,
eu não sossegava.
Certa noite, já de madrugada e eu me lembro como se
fosse hoje, de repente eu acordei e com os olhos arregalados de verdadeiro
pavor, vi um casal de noivos girando numa dança misteriosa próximo ao teto do
quarto. Ela estava com um buquê de flores e ele todo vestido de terno com
fraque e cartola e o perfume da flor dama da noite envolvia todo o quarto. A
visão era muito real, tanto que me lembro até hoje dos detalhes da visão
fantasmagórica.
Fico analisando o porquê só lembro deste pesadelo,
já que eu tive tantos e não me lembro de nada. Só sei que ei dei um tremendo
grito apavorado que os meus pais acordaram muito assustados.
Acenderam logo a luz e para minha alegria e
tranquilidade não havia mais nada do que eu havia presenciado. Meus pais me
deram a maior bronca e não me deixaram mais dormir com eles.
A vida continuou, a molecagem também. A Maria
continuou contando as suas histórias e eu continuei enfrentando meus pesadelos.
Mas eu posso jurar que eu tive uma visão do mundo fantasma e eu me lembro como
ainda fosse hoje.
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