ZÉ DO PICADINHO
Henrique Schnaider
Vou contar uma história que vem da minha juventude
que é mesmo de causar espanto. Ela é verdadeira e estes crimes tomaram conta
dos jornais da época.
José Alves dos Santos nasceu num lar pobre no interior
de São Paulo na cidade de Pirassununga. Ele foi o terceiro de quatro filhos do
casal. Sua mãe se desdobrava ao ter que cuidar dos meninos, carinhosa, sempre
dando atenção e fazendo o possível para que a vida deles fosse a melhor que ela
podia oferecer.
O pai era um péssimo marido, vagabundo, alcoólatra
e violento, fazia da vida da mãe e de José e seus irmãos, um verdadeiro inferno
aqui na terra. Além de não trabalhar, surrava os meninos sem nenhuma razão.
Enquanto a mãe saía para trabalhar fazendo faxina e ganhando os seus míseros
trocados e outras doações de roupas e alimentos que as patroas lhe davam.
Quando chegava do serviço, era dolorido de se ver,
com as crianças todas marcadas de vergões, pelas pancadas recebidas do pai.
Arlindo completamente embriagado, recebia a esposa com pancadaria, exigindo que
ela fosse para o fogão preparar a refeição para todos.
Dessa forma a vida triste foi passando e nenhuma
esperança de melhoras. José e os irmãos transbordavam de tanta revolta. A
desgraça rondava a casa onde José e os irmãos moravam.
Um dia a esposa chegou em casa e foi recebida a
murros e pontapés e caiu desfalecida sem chances de sobreviver. Os filhos já
adolescentes, não suportaram mais tamanha violência. Juntos foram para cima do
pai agredindo-o com pedaços de pau, levando-o à morte.
Neste dia os rapazes se tornaram órfãos e
resolveram cada um ir pro seu lado. José foi à estação e pegou um trem com os
trocados que tinha e veio para a Capital São Paulo. Foi parar numa pensão na
rua Aurora. Saiu a procura de emprego e acabou trabalhando como carregador no
Mercado Central.
A vida seguiu seu rumo, já com Jose adulto, mas ele
era de fazer pouca amizade e carregava com ele a dor de uma revolta imensa de
ter presenciado e participado no fim das contas, de tanta violência ao se
desfazer a sua família,
Jose que morava na zona de prostituição, começou a
se relacionar com as prostitutas da região. No começo tudo seguia o curso
normal de quem pagava para ter um carinho e uma relação sexual. Mas ele não ficou
satisfeito e as coisas pareciam piorar. Até que um dia José depois de se deitar
com uma prostituta, sentiu uma violência e um ímpeto muito grande e sem
controle matou a indigitada.
Com aquele corpo estendido na cama, José pensou
como se livrar do cadáver. Pegou uma faca bem afiada e destrinchou o corpo em
vários pedaços e colocou numa mala. Saiu dali carregando aqueles pedaços de
gente e foi de táxi até o rio Tietê e sem testemunhas jogou a mala no rio.
O instinto assassino de José não parou na primeira
vítima. Continuou a matar, picar e jogar no rio.
A polícia investigando aqueles crimes sem solução e
com os jornais da época explodindo em manchetes enormes. Falando do Zé do
picadinho, apelido que deram sem saber a quem se referiam. A opinião pública exigindo
e pressionando as autoridades para uma solução daqueles crimes bárbaros.
Um dia seguindo sua rotina de crimes. José foi
carregando sua mala em direção ao rio e para sorte da polícia e das
prostitutas, passava por ali um carro policial na rotina de ronda. Viram aquele
suspeito com a mala e pararam a viatura e se aproximaram dele. Mandaram abrir
para ver o que levava e, já desconfiados, encontraram o corpo de uma mulher, em
pedaços.
José foi preso e condenado a muitos anos de prisão.
Passado algum tempo, ele foi solto por bom comportamento. Mas o seu instinto
assassino estava apenas adormecido. Despertou novamente e as mortes voltaram a
acontecer.
Para a polícia não foi difícil localizar Zé do
Picadinho e ele voltou para a prisão, ali permanecendo até o final dos seus
dias.
Contei esta história porque depois de alguns anos
aconteceu de um dia eu estar na casa do meu amigo de infância Carlos Azolini
que trabalhou como Perito Criminal em São Paulo. Inclusive trabalhou no caso do
Zé do Picadinho. Ele buscou uma pasta, tirou e me mostrou fotos dos crimes
praticados. Me deixando espantado com o que eu vi.
Na época que os crimes aconteceram. Era espantoso
saber dos fatos acontecidos com os crimes e da forma como foram praticados. Mas
depois de ter visto as fotos deles. A minha sensação foi de horror, pois eu não
podia acreditar que o ser humano fosse capaz de tamanha violência.
Mas infelizmente este é o mundo em que vivemos e a
cada dia nos surpreende de forma negativa.
A meu ver esta história atende perfeitamente à proposta do exercício, retratando mesmo, e de forma bem concisa, fatos que nos espantam, resumidos numa boa sequência até o seu final, focando as causas e consequências do que foi contado. Para melhor fluência e encadeamento da narrativa, creio que seria proveitosa uma revisão da pontuação utilizada.
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