OS
TRÊS PORQUINHOS MAUS E O LOBO
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Leon Vagliengo
Era
um lugar bonito mesmo, com um clima muito gostoso. Tinha muito mato, muita
relva, muitas árvores frutíferas, e nunca faltavam alimentos para os bichinhos
que viviam por ali. Para saciar a sede deles, também havia um riacho de águas cristalinas.
Um
verdadeiro paraíso, cuja tranquilidade só era perturbada, às vezes, pelas
maldades daqueles três porquinhos, Lu, Jô e Arquibaldo, o mais gordinho.
Eles
se achavam muito importantes porque tinham um pai muito famoso, chamado
Prático, célebre mesmo, pelo exemplo que havia dado aos irmãos, Cícero e
Heitor, salvando-os do Lobo Mau.
Cada
um deles tinha construído uma casa para se abrigar, mas Cícero e Heitor, por
preguiça, fizeram casas frágeis, uma de palha e outra de madeira, que não deram
muito trabalho para construir, de maneira que sobrasse mais tempo para as
brincadeiras. Só que, quando precisaram delas para escapar do Lobo Mau, ele as
derrubou com um belo assopro e eles tiveram que fugir, pedindo socorro para o
seu irmão Prático, que os acolheu em sua casa.
Foi
assim que prático mostrou a seus irmãos como é importante fazer as coisas bem-feitas,
pois não teve preguiça de construir uma casa de tijolos, que lhe deu mais
trabalho, mas ficou muito mais segura e não cairia com um assopro. Com essa
casa conseguiu salvar os seus irmãos do Lobo Mau.
Esse
exemplo ficou para sempre na história, e prático se tornou um porquinho
célebre.
Voltando
a falar daquele lugar bonito, havia lá muitos outros bichos que conviviam em
paz, apenas perturbados, como já disse, pelas travessuras dos porquinhos
malvados.
Joãozinho
era um deles. Um lobo civilizado e de bons instintos, o seu pai o chamava de
ovelha negra da família, só porque Joãozinho se alimentava apenas de frutas
silvestres e nem pensava em devorar outros animais. Achava isso um crime
absurdo contra a animalidade e nunca aceitaria praticá-lo.
Na
sua cabecinha de lobo novinho, ser chamado pelo pai de ovelha negra o deixou,
por muito tempo, com uma grande crise de identidade, causando-lhe muita
insegurança. Ele via as ovelhas, com aquela cobertura de lã que ele não tinha,
que falavam a língua dos balidos, muito diferente dos uivos dos lobos, e achava
que o seu pai estava enganado, ele não podia ser uma ovelha. Muito menos,
negra, pois a sua pelagem era cinzenta. Com o tempo entendeu que era apenas uma
comparação maldosa e humilhante que o seu pai lhe fazia.
Pois
é! Não era de se estranhar essa maldade. O seu pai era justamente o Lobo Mau
que tinha tentado pegar os porquinhos Cícero e Heitor, irmãos do Prático, pensando
em fazer com eles um belo churrasco, mas não conseguiu. Era mesmo um
fracassado. Já tinha tentado pegar o Chapeuzinho Vermelho e sua avó para
devorá-las, mas também não deu certo. Ninguém contou direito como foi, mas
dizem até que acabou morrendo de fome.
Agora
que já ficou mocinho, Joãozinho entendeu tudo e superou as suas inseguranças de
infância. Com o seu comportamento sempre gentil, tornou-se amigo de quase todos
os animais da região, que confiavam nele e até o ajudavam quando enfrentava
alguma dificuldade.
Por
exemplo, nunca precisaria dizer que as uvas maduras estavam verdes, como a
raposa fez como desculpa porque não as alcançava. Algum macaquinho, um serelepe
ou outro bichinho pegaria uns cachos para ele, com certeza. Por incrível que
pareça, só tinha problemas quando encontrava Lu, Jô e
Arquibaldo, os três porquinhos filhos de Cícero, o herói. Eles azucrinavam
a vida de todos os animais da região, mas a sua vítima favorita era justamente
o Joãozinho.
Lu,
Jô e Arquibaldo só lhe faziam maldades e riam-se da sua boa índole. Sempre que
ele passava, cantavam, como naquela música de bossa nova, o versinho “Lobo booboooo”,
apenas para provocá-lo. Outra vez,
ficaram se exibindo com uma maçã na boca, sugerindo a própria caça, sabendo que
Joãozinho não iria atacá-los porque era vegetariano. Dessa vez ele até achou
graça daquela bobagem tão ridícula, mas, como sempre, fingiu que não viu.
Até
que um dia eles lhe atiraram pedras, muitas pedras. Joãozinho tentou
abrigar-se, mas uma delas, bem grande, o atingiu fortemente na cabeça, ativando,
com o impacto, o seu instinto natural de lobo. Ao ouvirem o forte rosnado que
se seguiu, Lu, Jô e Arquibaldo perceberam o perigo e
puseram-se a correr, conseguindo chegar em casa e trancar a porta antes que o
alterado Joãozinho, agora um verdadeiro Joãozão, os alcançasse. Quase que o
gordinho Arquibaldo não chegou a tempo.
Assim,
mais uma vez a casa de tijolos do Cícero salvou a vida de três porquinhos.
Infelizmente,
Joãozão nunca mais voltou a ser Joãozinho. Transformou-se num lobo comum, para
tristeza e preocupação de seus amigos animais, tudo por causa dos porquinhos.
Lu,
Jô e Arquibaldo, os porquinhos maus, nunca mais tiveram coragem de provocar o
lobo, e agora vivem com medo, sempre bem pertinho da casa.
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