AS
PAREDES FALAM!
Dinah Ribeiro de Amorim
Quem pensa que vizinhos não escutam ou
prestam atenção na vida da gente, engana-se. Principalmente casas geminadas ou
apartamentos, quando o som vem de cima, dos lados ou de baixo.
É o meu caso, pois moro num desses “apertamentos”,
sem muito intervalo entre um andar e outro. Não ligo muito para barulhos, mesmo
propositais, acho que estou meio surda ou desligada mesmo, mas tem gente que
escuta demais! E se incomoda muito!
Acredito muito que “paredes
falam”! Tive um amigo que quase adoeceu por causa do barulho de uma vizinha.
Até hoje, quando escuta alguma coisa, já bate com a bengala no chão. Fico até
meio assustada porque alguns barulhos são naturais, intencionais ou falta de
educação mesmo!
Coitado, sofre muito de insônia, acho que por
causa disso.
Bastava chegar a noite, sua vizinha de cima
trazia uns amigos e começava uma batucada infernal, até altas horas,
incomodando todo mundo. Não era só ele que se queixava. O prédio inteiro
reclamava, pois todo mundo trabalhava cedo, inclusive ele. Além dos amigos e da
batucada, havia os gatos, acho que uns oito, miando e correndo pela casa. Foi
difícil tirá-la de lá, ninguém conseguia até que se mudou para uma casa, para
felicidade de todos.
Morri de rir numa noite, em seu apartamento,
quando, antes de dormir, ao se preparar, pegava em primeiro lugar: panelas,
baldes, tampas e martelo, deixando ao lado da cama. Perguntei-lhe para que era
aquilo, e ele respondeu: “para a hora em que começar a função.” Tenho a
impressão que a moça não dormia. Era sambista, macumbeira, sei lá, adorando
quando ele começava a responder. Batucavam mais alto! Só sei que isso o deixou
cismado e muito sensível a qualquer tipo de som, reagindo imediatamente.
Tenho também algumas experiências com
barulhos, mas atualmente, quando é demais, coloco música ou fone de ouvido.
Bendita tecnologia! Durmo tranquilamente. Quem não dorme são eles! Acabam se
acomodando e ficando quietos. Afinal, estou aposentada, Graças a Deus, e eles
não. Uma noite de sono faz falta. Envelhece mais cedo!
Lembro-me, quando menina, de um apartamento
pequeno, cheio de gente. Morava com minha mãe e irmão. Como só havia um quarto,
ele dormia nele e eu e mamãe, na sala, num sofá cama. Tínhamos quatro vizinhos
e, justamente o da direita, era um casal novo, bastante descontrolado. Ela,
coitada, moça simples, casou-se com um rapaz grã-fino na época, de família
rica, mal acostumado, e mimado. Gostava dela, tiveram até um filho, mas ele não
trabalhava, dependia do pai, que de vez em quando aparecia para vê-la. Brigavam
todas as noites, que coisa horrível! Ele chegava tarde, ela reclamava, pegava a
criança e queria ir embora, mas ele não deixava. Ficava aquele empurra,
empurra, até altas horas. Eu, com um copo, muito curiosa, tampava um ouvido e
colocava o outro no copo, encostado na parede. Tipo telefone sem fio. Acho que
era a novela ou conto da época, pois não tínhamos ainda televisão. Que
curiosidade feia! Coisas da infância.
Minha mãe, sabiamente, a primeira coisa que
fazia era abrir a porta e pegar o litro de leite que o leiteiro deixava. Sua preocupação principal era que o litro não
fosse quebrado. Naquela época, havia leiteiro e o leite, vendido em garrafas.
Foram e são tantos os casos de “paredes que
falam,” cada casa uma família, cada família um caso, que se déssemos conta
disso, não abriríamos mais a boca!
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