ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA,
TANTO BATE ATÉ QUE FURA!
Dinah Ribeiro de Amorim
Michele é uma formiguinha
muito laboriosa! A mais esperta e trabalhadeira do seu formigueiro. Geralmente,
é a preferida da rainha e, quando fala, é a mais atendida.
Moravam numa pequena
fresta entre rochas, difícil de escalar, mas sentiam-se protegidas dos bichos e
das ondas do mar ao redor, quando eram muito revoltas, devido ao vento, nas
marés altas.
Pela manhã, a primeira
que saía da casinha era Michele. Ia procurar algum resto de bichinho ou
folhinha de árvore que pudesse carregar. Algumas companheiras iam junto, mas,
geralmente, ia só. Eram meio preguiçosas e dormiam até tarde, ou se acostumaram
com o esforço da coitada.
Numa manhã, Michele
percebeu que a água do mar estava mais próxima, batia forte, bem perto delas.
Algumas pedras ao redor
da fenda, de tão sovadas e empurradas, escorregaram e caíram.
Michele voltou para a
casa muito preocupada e advertiu a rainha. Precisavam mudar de lugar. Com o
tempo, mais alguns dias e a toca seria invadida. Poderiam morrer afogadas.
A maioria do grupo
começou a rir, comentava ser difícil serem invadidas. A entrada do formigueiro
ficava no alto de uma rocha, bastava apenas que colocassem uma pedra na
entrada, para impedir a água de entrar.
Michele, espantada,
perguntou à rainha:
— Quem de nós consegue
empurrar uma pedra para tampar a entrada? Mal conseguimos alcançar a praia para
pegar comida! Melhor seria mudar daqui.
As formigas se entreolharam
e nenhuma conseguiu responder ou sugerir alguma ideia.
Os dias vão passando e a
maré vai subindo. Elas já escutavam o estrondo das ondas ao bater nas pedras,
cada vez mais forte.
Michele continuava
tentando abastecer o formigueiro, não descansava de suas obrigações, mas tinha
muito medo.
Chamou umas amiguinhas,
que confiavam muito nela, e tentaram empurrar uma pequena pedra até a entrada
da toca. Faziam grande esforço e ufa… ufa… a pedrinha mal se movia. Não saia do
lugar.
As outras formigas, diante disso, comovidas, agruparam-se e auxiliaram-nas a empurrar mais a pedra. Até conseguirem fechar a entrada.
Ficam radiantes,
receberam elogios da rainha! O medo da invasão das águas vai embora, mas
Michele, mais esperta, continua achando melhor irem embora. Água pode ser mais
forte que a pedra.
O mar sobe rápido, o
barulho das ondas se chocando contra as pedras fica cada vez mais próximo, e a
formiguinha experiente, cada vez mais preocupada.
Advertiu novamente a
rainha. Dispôs-se a procurar nova moradia. Existiam terrenos atrás das pedras
que pareciam bastante calmos e mais seguros.
As outras companheiras
agora davam gargalhadas e achavam que Michele era uma medrosa. Que continue seu
trabalho, o qual é o que faz de melhor.
Numa tarde, Michele pôs a
cabecinha para fora de casa e olhou o céu. O azul límpido se transformou em
grossas nuvens escuras. Alguns raios, seguidos de trovões, anunciavam pesada
chuva. O uivo do mar, à frente delas, revelava altas ondas, que logo aumentariam
o percurso das águas.
Assustada, chamou algumas
formigas, pegaram suas mochilinhas e gritaram:
— Não dá mais para
esperar, se ficarmos seremos tragadas pelo mar e morreremos afogadas.
As mais humildes a
seguiram. Rapidamente, atravessaram por cima das pedras em busca de refúgio num
terreno mais elevado e mais seguro, cheio de pequenos orifícios que davam em
enormes galerias.
A rainha e a maioria, mal
tiveram tempo de caçoar delas. Foram arremessadas para longe, pelas águas que
invadiram a toca, preenchendo cada galeria que encontrava.
Morreram afogadas mesmo,
como Michele previa.
Quando tudo se acalmou,
tentaram voltar ao formigueiro antigo para ver o estrago. Mas, nada mais
encontraram. Nem os corpinhos das outras formigas existiam mais.
Michele, entristecida,
foi abraçada pela minoria que restou e ficou sendo, agora, a rainha do novo e
seguro formigueiro.
E assim, podemos concluir
também: “Água mole em pedra dura, tanto bate, até que fura!”
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