Diferença de
sentimentos
Alberto Landi
Aarão e Moisés, amigos desde a infância, ambos
nativos de Israel, cresceram e estudaram juntos, uma amizade que se perpetuou
ao longo do tempo.
São nomes bíblicos, mas a história se passa
atualmente.
Para se ter uma noção do grau da amizade, quando
jovens fizeram um pacto de sangue.
O tempo passou de maneira traiçoeira de uma forma
sutil e despercebida.
Moisés mudou-se para o Cairo, onde foi concluir
seus estudos na faculdade de Economia, pois seu pai era um próspero comerciante
internacional, um homem de grandes posses financeiras, queria que seu filho
fosse sucessor em suas empresas.
Aarão, por não ter condições de custear seus
estudos, não pode acompanhar Moisés, seguiu a profissão do seu pai, mecânico de
aviação. A idade chegou e Aarão se casou com uma jovem que era filha de uma
família de quem eram muito amigos há muito tempo, e assim construíram um lar
composto de duas filhas e de um menino que era o caçula da prole. Eles viviam
modestamente com o trabalho de Aarão, mas o que havia de sobra em sua família
era a harmonia e a felicidade.
Quando sua filha primogênita atingiu a maioridade,
a sua mãe Sara, informou ao marido que haviam surgido pretendentes para esposar
Ester, mas conforme era a tradição de sua etnia, tinham que oferecer o dote
para família do noivo e para isso teriam que disponibilizar uma boa verba para
o casamento.
Diante do questionamento da sua esposa, com muito
constrangimento e com lágrimas nos olhos, disse lhe que nestes anos todo de
trabalho não havia acumulado dinheiro suficiente para pagar o dote, mas que
iria orar muito, em busca de uma solução, e assim se debruçou várias vezes ao
dia segurando o Torá, orando para achar um caminho onde pudesse arrumar o
dinheiro.
Uma noite após fazer suas orações, Sara lembrou-se
da amizade que ele tinha com Moisés, do qual tinham notícias que ele havia se
tornado um grande banqueiro e considerado um dos homens mais ricos do Cairo e
quem sabe ele poderia ajudá-lo nessa questão.
Ele sorriu para a esposa e disse lhe que iria
pensar nessa possibilidade e no dia seguinte conversariam sobre isso.
Na manhã seguinte, o casal deliberou que Aarão
viajaria para o Cairo para conversar com o seu amigo, quem sabe solicitar um
empréstimo para pagar o dote à família do noivo da filha Ester, e assim foi
feito!
Chegando ao Cairo, se dirigiu ao Banco onde Moisés
era o dono, e um tanto envergonhado pela situação, chegou a pensar que depois
de 19 anos que não via o amigo, talvez ele nem se lembrasse de sua pessoa.
Após se identificar para a recepcionista, disse lhe
que queria falar com Moisés. Informou que o assunto era particular que na
juventude em Haifa, onde viviam foram muito amigos.
A secretaria pediu a ele que ficasse aguardando
para verificar se poderia ser atendido.
Após alguns minutos foi conduzido até a sala de
Moisés, que prontamente ao ver o amigo de juventude estendeu-lhe os braços,
saudando-o e o convidando-o para sentar.
Conversaram muito, relembrando suas aventuras,
deram muitas risadas.
Com muito orgulho e patriotismo, comentaram como
Israel havia enfrentado ao longo dos anos inúmeros obstáculos econômicos, mas
sempre perseverante, se superando e ganhando o respeito de outras nações. O
país ao longo dos anos concentrou-se na promoção da educação e no estímulo à
inovação tecnológica, quer nos setores da biotecnologia, ciência da vida,
energia renovável e principalmente na medicina.
Moisés acompanhava muito as atividades cientificas
e procurava se atualizar não somente com os feitos realizados por Israel, mas
também com pesquisadores que viviam fora do país. No campo da Química citou
Martin Karplus, na Fisiologia e Medicina, David Julius, na Economia, Douglas
Diamond, Albert Sabin na vacina oral para poliomielite. No campo da tecnologia,
o desenvolvimento do aplicativo chamado Waze, pelo exército israelense, a
aplicação de segurança contra invasões em redes de computadores chamados de
Firewall, na agricultura, irrigação por gotejamento. Eles se sentiam muito
orgulhosos com toda essa contribuição para a humanidade, em tão pouco tempo da
existência do país.
Aarão informou ao amigo que havia seguido a
profissão do pai e, modestamente, conseguiu sustentar a família, porém, havia
chegado o momento de casar Ester, e que para isso ele precisava de dinheiro
emprestado, o qual teria condições de ser pago em prestações.
Moisés olhou com um ar severo e fixo para o amigo
dizendo:
— O que você está me pedindo é um favor e eu sou um
homem de negócios, e só cheguei até aqui porque não costumo fazer favores, o
meu dinheiro é para render frutos para que o Banco cresça e meus negócios
prosperem.
Ao ouvir isso, ele encolheu-se na cadeira, enquanto
tomava fôlego para sair dali, quando foi surpreendido pela conversa do
banqueiro que lhe disse:
— Considerando que você é um amigo de juventude e
até fizemos um pacto de sangue, vou lhe propor o seguinte:
— Há muitos anos, tive um problema e perdi um dos
olhos, este fato me abalou muito, mas com auxílio de um grande mestre
cirurgião, ele me restituiu com uma prótese que ficou uma verdadeira obra-prima
e ninguém é capaz de distinguir qual deles que é a natural e a que foi
recuperada pelas mãos hábeis desse mestre. Assim, te convido a distinguir uma
da outra e se você acertar te concederei o que me pedes.
Ao ouvir o relato do banqueiro, lhe disse:
— O esquerdo é a prótese, e o outro natural.
Moisés ficou impressionado ao ouvir a resposta e
indagou ao amigo, como ele havia acertado de pronto na comparação, visto que
ninguém até hoje havia distinguido essa diferença.
Aarão, já recomposto de todo constrangimento, disse
ao amigo:
— O olho que foi objeto do dom divino do artista
que o recuperou carrega a sua sensibilidade e o amor que lhe dedicou nesta obra
de arte, ele transmite calor, energia. O outro perdeu o brilho que tinha na sua
juventude e se tornou frio e desprovido de sentimentos, como se fosse uma luz
apagada, os bons sentimentos foram corroídos.
Você que está lendo esse pequeno texto, seus olhos
estão brilhando sob o olhar dos outros?
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