Uma árvore capaz de produzir até 40 tipos de frutos diferentes:
Coober Pedy não é o primeiro, nem o maior assentamento subterrâneo do mundo. As pessoas se refugiam embaixo da terra para enfrentar climas inóspitos há milhares de anos
Coober Pedy não é o primeiro, nem o maior assentamento subterrâneo do mundo. As pessoas se refugiam embaixo da terra para enfrentar climas inóspitos há milhares de anos
A CAÇADA
A PAISAGEM SURPREENDENTE
Helio Fernando Salema
A noite chegava, suavemente, cobrindo o resplendor do dia e deixando raios de sol no horizonte que se despediam do extenso gramado daquele belo prado. Uma árvore solitária se destacava, tendo junto dela a sua própria sombra como companheira.
Os pássaros, recolhidos em seus ninhos ou simplesmente acomodados nos galhos, tendo a proteção das folhas. A cada minuto, os raios de sol se dispersavam no azul do céu, como uma explosão não destrutiva, mas revelando toda a beleza de um pôr do sol no campo. Um momento sublime de paz e serenidade.
Próximo dali, na modesta casinha, residia o casal Nestor, Florinda e os seus filhos adolescentes. Mariana, quatorze e Mário, onze anos. Nestor. Este, apaixonado pela caça, sempre dizia que as aves e os animais deveriam ser abatidos para serem saboreados. D. Florinda, embora apreciasse carne, não concordava com a matança indiscriminada. Para ela os animais deveriam ser preservados e, somente, quando houvesse muita necessidade é que deveriam ser sacrificados. Ideia compartilhada por sua filha.
Quando Mariana era pequena, durante a madrugada, costumava ouvir o canto dá sabiá. Ao amanhecer, relatava para sua mãe a satisfação de ter escutado aquele canto que ela também ouvia, algumas vezes, durante o dia. Quando isto aconteceu no início de uma primavera, sua mãe, muito contente, afirmou que a filha seria abençoada com amor, paz e felicidade. Pois, era o que dizia, a avó de D. Florinda que era uma Índia.
Mário, por sua vez, ficava fascinado quando o pai relatava os seus encantos pelas caçadas. Ouvia tudo, muito atento aos detalhes. O que fazia seu pai repetir com mais empolgação, estendendo seus relatos por mais tempo. D. Florinda sempre saía de perto para fazer alguma coisa, mesmo quando não houvesse nada para fazer.
Numa tarde, Nestor decidiu ensinar o filho como manusear a nova espingarda. Os dois foram para o quintal e D. Florinda para o quarto rezar.
No entardecer de certo dia, seu marido, olhando para o céu, pressentiu que seria uma ótima noite para caçar. Preparou sua espingarda calibre 20, que obteve em troca por uma de suas cabras. Isto deixou D. Florinda triste, pois aquela cabra, ela cuidava desde que nasceu e já lhe dera várias crias. Quando Nestor explicou que a cabra já estava velha e que possuía outras, bem mais novas, ela ficou ainda mais insatisfeita, por perceber que o marido trocava uma velha por outras novas.
Justamente, naquele belo início de noite, que Nestor saiu apressado e nem levou o seu embornal com as comidas que ela preparou, a pedido dele. Florinda, que minutos depois, percebeu. Dirigiu-se ao quarto para fazer suas orações, após cuidar dos filhos e vê-los deitados.
Foi pela fresta da janela, que ela percebeu que a luz do dia mostrava sua presença e a ausência do marido, na cama. Preocupada, levantou-se e foi ver os pertences que ele levou, se estaria sobre a mesa, ou no armário em que ele sempre guardava sua espingarda. Nada encontrou.
Foi para o quintal, olhou para todos os lados e não viu nada que pudesse eliminar suas suspeitas. Voltou para dentro da casa, foi ver os filhos que ainda dormiam tranquilamente.
As horas foram passando e nenhuma informação. Só quando seu Raimundo chegou, a cavalo, procurando por Nestor que ela ficou sabendo que seu marido deveria ter ido até o sítio do seu Raimundo para ajudar matar o porco que eles combinaram no dia anterior.
Seu Raimundo ficou assustado ao saber que Nestor não dormiu em casa. Virou o seu cavalo e saiu disparado em direção à mata, onde ele sabia que era o lugar preferido pelos caçadores.
Após cavalgar a esmo, tentando encontrar o amigo ou alguém que pudesse lhe dar informação, parou, amarrou o cavalo numa árvore e adentrou à mata fechada. Com muita dificuldade desviando de troncos caídos, evitando arbusto espinhento e olhando para o chão a procura de pegadas de botas ou de algum animal. Tudo em vão.
Raimundo, embora experiente, no entanto, poucas esperanças
lhe restavam de encontrar seu amigo com vida. Depois de muito procurar, parou
para descansar e ficou meditando, se continuava a busca ou voltava para pedir
ajuda. Foi quando olhou para o lado e avistou o que parecia ser parte de uma roupa.
Levantou-se, bruscamente, e foi naquela direção. Ao aproximar-se, viu o corpo
do seu amigo Nestor estendido sobre a folhagem. Cutucou a perna e nada
aconteceu. Então viu marcas de picadas de cobra no braço do amigo.
Nenhum
lugar é igual para todos. Duas pessoas olhando para a mesma imagem, para o
mesmo cenário, ou mesmo ambiente ao mesmo tempo, quando forem descrever o que
veem, teremos impressões diferentes. Uma
pessoa pode descrever a configuração do terreno, a maneira como o riacho
ziguezagueia torto pela floresta, enquanto a outra lhe dirá como isso lembra a
floresta perto da casa da avó, onde brincavam quando crianças.
O
cenário não tem vida sem o filtro do narrador. São os narradores que o tornam
interessante. Você pode passar três páginas descrevendo uma sala com absoluta
minúcia, mas um único parágrafo descrevendo a reação do seu narrador à sala, as
poucas coisas individuais que ele ou ela decide notar, nos dirá infinitamente
mais. Isso nos dá um tom de proximidade, de intimidade com o espaço. E vai nos
dar também uma ideia de seu caráter, e do personagem que ocupa esse cenário.
A
visão do narrador é completa, profunda, intensa, no entanto ele só aproveitará
as informações que lhe chegarem e que façam parte do contexto do enredo.
De
que adiantaria perder tempo do leitor traçando as linhas curvas de uma rua que
cerca uma casa, se todo o enredo se passa dentro do imóvel? De que adiantaria
preencher linhas e linhas falando da má conservação do prédio, se o que vai
importar é toctoc dos passos no assoalho antigo e mal ajustado, do placplac da torneira
que goteja incansavelmente assombrando quem chega sem aviso, da parca
iluminação que provoca sombras contorcidas e inexplicáveis pelas paredes? Descrever
uma chuva torrencial, não é o mesmo que mostrar os pingos escorrendo
pelas vidraças, formando poças e descendo pela rua em declive.
Importa, sim, que se descrevam a mobília e tapeçaria, dessa maneira o leitor fará juízo dos
habitantes do lugar e os julgará pobres, ricos, ou...
TAREFA
- Algumas imagens – façam a descrição baseadas em histórias que serão criadas
por vocês. A descrição criada deverá ser o primeiro parágrafo do seu texto.
Então, você sabe o que acontece lá dentro?
Henrique
Schnaider
“Então,
você sabe o que acontece lá dentro? ”.
José
fez uma cara de espanto, pois não imaginava que poderia haver algo tão ruim
naquele lugar.
Entraram
curiosos, e ficaram chocados com o que viram.
Os
pacientes despidos faziam necessidades a esmo, em campo aberto. Cada caso era
mais chocante do que o outro. Percebeu-se que ali as pessoas recebiam
tratamento desumano. José ainda comparou aos animais, nem sequer um animal
merece ser tratado dessa forma.
Havia
a necessidade de uma mudança radical na estrutura do lugar.
Justamente
neste dia estava assumindo a direção do Manicômio o Dr. João Marques,
profissional altamente conceituado, professor com cursos de aperfeiçoamento e
aprimoramento do tratamento de doenças mentais.
De
repente, José pensou que o Dr. Marques fosse a solução para realizar mudanças
radicais no hospital. Haveria de ter esperança para um tratamento humanitário
para aqueles pacientes. Então foi levar-lhe as considerações de degrado dos
pacientes.
Dr.
João Marques, pessoa de fino trato, os recebeu no seu gabinete e foi logo
dizendo estar abalado, tanto quanto os visitantes, pela forma que encontrou
aquele Nosocômio. A partir de hoje tomarei as devidas medidas para que tudo
seja radicalmente alterado”. “Os métodos de tratamento serão renovados, e os
pacientes serão dignamente tratados” — disse imperiosamente.
Todos
saíram de lá esperançosos por uma mudança profunda no tratamento dos doentes.
Passados
três meses da nossa visita ao manicômio Municipal, foram convidados a retornar
ao local. Logo à entrada já se podiam ver mudanças, a limpeza, o jardim
aparado, as clínicas pintadas. Aquele ar de abandono não existia mais. Os
visitantes ficaram ainda mais impressionados com os pacientes bem-vestidos,
bem-tratados, como qualquer ser humano deve ser.
Desta
vez, saíram de lá felizes, exaltando o trabalho singular do Dr. Marques, pois,
sem ele, aqueles pacientes não teriam como se reerguer.
Narciso
o invisível
Henrique Schnaider
Narciso nasceu num lar uma família descente, o pai
homem trabalhador tinha um trabalho pesado, era auxiliar de pedreiro e
precisava aguardar quando surgia uma oportunidade de trabalho, trabalhava muito
e pesado, mas ganhava muito pouco.
A mãe era faxineira, pegava, pois raspava, limpava e
cozinhava, mas o dinheiro era pouco já que moravam numa pequena cidade do
interior e os moradores eram pessoas com poucos recursos que pagavam pouco e
ela às vezes trazia alguma comida que sobrava das patroas.
Assim Narciso e a família não passavam fome, mas a
comida era pouca para três refeições para eles e assim Narciso e os pais
levavam uma vida pobre sem nenhum luxo.
Até que um dia, quando Narciso atingiu a adolescência
aos 15 anos e como todo adolescente dava problemas aos pais que já tinham
aquela vida sofrida e o filho rebelde e que não ajudava em nada. Revoltado como
sempre acordou e colocou uma blusa velha e de repente olhou para o espelho do
quarto e não se viu, não havia imagem.
Sentiu um tremor tomando todo seu corpo sem saber o
que pensar e do que se tratava aquilo e pensou. – Será que estou invisível e
será que é quando visto esta blusa? Aquele fato abalou muito o rapaz, mas aos
poucos foi se acalmando e ficou pensando como tirar proveito daquela situação.
O rapaz não tinha muita ideia sobre conceito de
moral já que seus pais, pessoas muito simples, não lhe passaram este conceito, e
a única coisa que o pai fazia quando o rapaz aprontava das suas, era lhe bater
com a vara de marmelo. Desse jeito, Narciso agia como lhe aprouvesse, desde que
escapasse da surra que o pai lhe dava.
Narciso resolveu ir para a rua para ver se era visto
ou não? Na medida que foi andando, logo percebeu que não era visto pelas
pessoas. Entrou num Mercado e alguma comida e notou que tudo onde ele encostava
a mão também não era mais visto pelos funcionários do mercado.
Ele levou toda aquela comida para casa e como não
tinha outro jeito contou aos pais oque estava acontecendo e como estava
invisível aí tirou a blusa e para assombro dos pais ele apareceu e ficaram sem
saber o que fazer.
Refletiram, discutiram entre eles e chegaram à
conclusão de que iriam tirar proveito daquela situação e a partir daí a vida
daquelas pessoas mudou completamente. Não faltava mais comida, tinham todo do
bom e do melhor. Boas roupas um luxo só.
Mas como é bom dura pouco, um dia Narciso saiu como
fazia habitualmente para pegar tudo que lhe aprouvesse. Pegou várias roupas e
quando ia sair, o encanto da blusa velha terminou e os funcionários da loja prenderam
o rapaz que a esta altura já tinha dezoito anos.
Narciso pegou cinco anos de cadeia e os pais dele
outra vez passaram por muitas dificuldades comendo o pão que o diabo amassou e
nunca conseguiram entender nem como a velha blusa tinha o poder da invisibilidade
e nem como deixou de ter.
Narciso e família se mudaram daquela cidade depois
que o rapaz saiu da cadeia e nunca mais se ouviu falar deles. E assim o segredo
da velha blusa ficou escondido para sempre.
Krakatoa, o
inferno de Java
Henrique
Schnaider
A pequena
ilha de Krakatoa, no meio do estreito de Sunda, entre as grandes ilhas de
Sumatra e Java, na Indonésia, foi praticamente destruída no dia 27 de agosto de
1883, uma segunda-feira, pela explosão de um vulcão.
As erupções
tinham começado no domingo, mas a mais violenta delas foi a terceira erupção da
segunda-feira, uma explosão gigantesca, um barulho tão alto que foi ouvido a 5
mil quilômetros dali, nas ilhas Mauricio, onde se achou que fosse um tiro de
canhão dado por algum navio.
Aconteceu
há 137 anos e foi sentida no planeta inteiro.
Em 1883, o
mundo presenciou um evento natural tão bombástico e violento que pode ser
notado, de alguma forma, por praticamente todos os habitantes do planeta.
Faça uma
ideia então dos habitantes da ilha que morreram aos milhares, e a situação da
das famílias que habitavam a ilha, entre elas a de Sunak Omiori, que juntou sua
esposa Miora e os filhos Ting e a filha Sunori, e escaparam milagrosamente,
fugindo para o interior da ilha, o mais distante possível daquele demônio de
fogo e lavas.
A erupção
do vulcão Krakatoa, na Indonésia, lançou detritos a até 100 km de altura,
causou colossais tsunamis que mataram milhares de pessoas e foram percebidos
até no Canal da Mancha. O fenômeno alterou o clima do Planeta, mexeu com a luz,
com o ar e até com as cores do crepúsculo em vários cantos da Terra.
A história
desse extraordinário evento é contada em podcast da série “Que História” da BBC
Brasil, que traz também, o depoimento de uma testemunha da erupção, encontrado
nos arquivos da BBC, que era justamente Sunak Omiori.
Ele contou
coisas que inacreditáveis, ondas gigantescas de 20 metros de altura, tremores
de terra de tal maneira que parecia que a terra iria se desfazer em milhões de
pedaços. A água do mar avançando por todos os lados e sensação para ele, que a
ilha desapareceria, e por pouco isso não realmente aconteceu.
Sunak levou
a família para a parte mais alta da ilha e aguardou que Deus fizesse o milagre
de salvá-los, e isso aconteceu, fazendo que ele presenciasse o que é a
violência de um vulcão enfurecido. Na ilha, restaram destroços.
Precisamente
às 10 h e 5 minutos, a ilha, basicamente, de 10 mil kms cúbicos, foi
desintegrada por uma explosão que lançou rochas e cinzas a até 100 quilômetros
de altura. A ilha desapareceu, e deixou por alguns segundos um enorme buraco no
mar. Esse buraco foi enchido por trilhões de toneladas de água. Estava tão
quente no interior desse buraco que a água imediatamente se converteu em vapor.
Esse vapor causou tsunamis gigantes, quatro ao todo, que causaram um enorme
estrago nas costas de Sumatra e Java.
Mas quando
a sorte sorri para alguém... Deus os salvou, ficaram para contar tudo aquilo
que nunca imaginaram testemunhar.
O fantasma de Malta
Alberto Landi
Havia um castelo muito antigo na ilha
de Malta, onde os habitantes temiam penetrar, pois diziam ser mal-assombrado.
Certo dia Ben um capitão dos mares,
durante sua missão, acabou se perdendo na densa floresta nas cercanias do
castelo.
Já tarde da noite, o frio e neblina
eram intensos, quando avistou a certa distância aquela construção.
Feliz por encontrar um abrigo, pois o
tempo estava bem severo, bateu à porta e foi recebido pelo Sr. Matthew,
proprietário, que o convidou para entrar e pernoitar.
Pouco antes da meia-noite, o capitão
foi levado a um suntuoso quarto.
Cansado como estava, adormeceu de
imediato.
Quando chegou a madrugada, ele
despertou muito assustado. Ao abrir os olhos, viu uma linda criança, cercada de
uma luz cintilante, parada bem em sua frente. Após alguns segundos desapareceu
e o quarto voltou a ficar escuro.
Na manhã seguinte, quando se sentou à
mesa para tomar o café da manhã, relatou o acontecido ao Sr. Matthew.
— Caro amigo agradeço pela sua
hospedagem e carinho como me tratou, agora preciso partir. Ontem o senhor me
deu um grande susto ao enviar uma criança ao quarto para me despertar no meio
da noite. Honestamente não gostei.
Matthew chamou o mordomo James
perguntando a ele:
— James, em que quarto você alojou o
amigo capitão?
— Meu Senhor, respondeu o mordomo,
como o castelo está cheio de convidados, eu não tive escolha, coloquei o Sr.
Ben no quarto do menino, porém, acendi a lareira, porque ele só aparece no
escuro.
Ah, disse Matthew, você fez muito
mal, porque o fogo da lareira sempre apaga na madrugada.
Em seguida, dirigindo-se a Ben
explicou:
— Meu nobre amigo, minha família
guarda um segredo há muitos séculos. Nesse castelo vive um fantasma de um
menino, o Ryan, e o quarto preferido dele é aquele em que você dormiu. Você foi
um privilegiado em ver esse pequeno fantasma.
Bem, que nunca acreditou e nem tem
medo de fantasmas, perguntou:
— Por que, privilegiado?
— Porque todos que o viram ganharam
dinheiro e foram muito felizes, disse Matthew.
Após alguns anos, o capitão conheceu
uma jovem com quem se casou, tornou-se rico e teve um filho.
Ryan, o fantasma, passou a fazer
parte de seus sonhos, pois aparecia com frequência.
O capitão e família, após muito
tempo, resolveram visitar o castelo onde Matthew vivia.
Relatou a mudança de sua vida desde
que estivera lá, apresentou a esposa e o filho Ryan, homenageando a criança
fantasma.
O capitão sempre pensou que os
fantasmas, tão recorrentes no cinema e na literatura, não ganharam um
reconhecimento filosófico. No entanto, nossa imaginação continua fascinada pela
ideia de que um morto possa retornar para nos visitar. A crença em fantasmas é
inata ao homem. É encontrada em todas as épocas e em todos os locais e talvez
nenhum ser humano esteja totalmente livre disso.
Ele acabou aceitando que um fantasma
pode mudar a vida de alguém, para o bem ou para o mal.
“Eu não acredito em fantasmas… Mas,
que eles existem, existem! ”
Juju e a Poltrona Falante
Adelaide
Dittmers
Era a primeira vez que Juju vinha visitar a tia-avó do pai. A mãe, a avó e ela pararam à
frente de uma casa antiga cercada por um jardim, onde flores perfumavam o
ambiente. Um ipê-amarelo imperava em um
dos lados.
Ao toque da campainha, uma senhora simpática
abriu a porta. Um sorriso feliz ao
vê-las. Entraram e a conversa correu
solta. A menina, porém, começou a ficar
inquieta. A senhora percebeu e disse-lhe
que podia explorar a casa ou brincar no jardim.
Ela se levantou contente com a sugestão da
tia. Estava curiosa em conhecer aquela
casa cheia de móveis antigos, tapetes coloridos e muitos quadros.
Foi percorrendo as salas, de cujo teto pendiam
grandes lustres, e se surpreendeu com a mesa já posta, em que pães, geleias e
bolos fatiados esperavam pelas visitas.
Sorrateiramente pegou um pedaço de bolo, olhando para os lados com medo
de ser flagrada por alguém.
Saindo dali, chegou a um hall, em que uma larga
escada levava para o andar superior. Subiu devagar até chegar a um comprido
corredor. No fundo, havia outra
escada. Foi até lá. Era bem estreita. A menina a galgou com muito cuidado, parou
admirada ao ver um lindo vitral, que a iluminava. Com os dedos lambuzados tocou
nas suas formas coloridas.
No final da escada, chegou a um pequeno hall,
onde havia uma pesada porta. Juju
empurrou-a com força e ela se abriu rangendo.
Devagar, medindo casa passo, a pequena entrou no amplo e escuro
sótão. Apertou os olhinhos para tentar
enxergar à sua volta. Ao fundo, duas pequenas
janelas. Com cuidado foi até elas.
Tropeçou em algo, mas conseguiu se equilibrar.
Determinada, empurrou uma e
depois a outra, que se abriram, clareando o sótão. Uma réstia de sol esgueirou-se pelos cantos
do lugar.
Voltou-se e colocou as mãozinhas na boca,
surpresa com tantas coisas que se espalhavam por ali: móveis, livros empilhados
e tapetes enrolados, mas o que mais lhe chamou a atenção foi uma grande e larga
poltrona de veludo vermelho no meio do cômodo. Tinha um rasgo em um dos grossos
braços. Em cima dela, uma boneca de
pano, com pernas muito compridas.
Ao aproximar-se da poltrona, viu uma grande
boca em seu encosto, que falou:
— Olá menina!
A garota deu um pulo para trás, assustada.
— Não tenha medo, sou uma poltrona mágica, que
fala. Aliás, adoro falar.
A boneca levantou-se e disse;
— Ela fala até demais,
A criança arregalou os olhos.
— Vocês estão vivas?
— Estamos.
Há muito tempo fomos abandonadas aqui na escuridão. Disse a poltrona.
— Você chegou e deixou entrar a luz do
sol. Obrigada! Completou a boneca.
— Como você se chama, linda menina? Perguntou a
poltrona.
— Juliana, mas me chamam de Juju.
— Gostei do seu apelido. Sente-se no meu colo. Adoro crianças.
Meio receosa, mas, ao mesmo tempo, encantada, Juju
sentou-se com cuidado ao lado da boneca.
— Por que abandonaram vocês aqui? Uma poltrona
e uma boneca que falam!
— Há muito tempo, eu ficava na sala. Era a poltrona preferida de todos,
principalmente de Dona Guilhermina, que se sentava em mim, como uma rainha para
ler, conversar com as visitas ou fazer tricô. Participei de muitas festas. Ouvi muitas histórias. Os filhos e, mais
tarde, os netos adoravam pular em mim.
Eu me divertia muito com eles.
— E você, boneca? Como veio parar aqui?
— Eu era de Antonia, uma das filhas de Dona
Guilhermina. Ela era muito apegada a
mim. Dormia com ela, e tudo. Mas ela
cresceu, casou e me deu para a filha.
Fiquei muitos anos com ela, mas ela também cresceu e foi embora, e um
dia já não me queriam mais e vim para cá.
— Meu destino é parecido. Envelheci, a pele do meu braço se rompeu e me
trouxeram para este sótão e logo depois jogaram a Ritinha em cima de mim, o que
foi uma bênção porque não fiquei mais sozinha.
— Que triste!
Você se chama Ritinha, boneca? Acrescentou a menina.
— Sim.
Juju passou a mão suave e carinhosamente no
braço da poltrona.
— Você é tão macia… Queria ter uma poltrona
como você!
A velha poltrona ficou emocionada e o seu
veludo brilhou de satisfação.
A garota virou-se para a boneca e a acomodou em
seu colo. Ritinha sorriu de felicidade.
Nesse momento, uma voz gritou lá de baixo:
— Juju, onde você está? Venha tomar o lanche!
— Não vá, não! Estamos adorando ter você aqui.
— Eu também estou adorando vocês! E gritando
respondeu:
— Já vou!
— Eu vou, mas eu volto. Disse com ternura. E colocou delicadamente
Ritinha no colo de sua amiga.
Desceu as escadas correndo e quase sem
respirar, gritou:
— Mamãe, lá em cima tem uma poltrona e uma
boneca que falam!
A mãe sorriu.
— Esta menina tem uma imaginação tão fértil...
— Você não acredita. Tem que subir para ver com seus próprios
olhos.
— Vamos Juju! Sente-se para lancharmos. Olha
quanta coisa gostosa.
A menina obedeceu, mas nem sentiu direito o
gosto das delícias que estavam sobre a mesa. O pensamente fixo na pobre
poltrona e na boneca de pano.
No fim do lanche arrastou a mãe para o sótão.
— Veja mãe, como é linda e fofa esta poltrona e
que simpática é a Ritinha!
— Ritinha? Você já deu um nome a ela.?
— Ela me disse seu nome.
— Ah! Filha!
Você é muito engraçada.
— Dona Poltrona, trouxe minha mãe para
conversar com você.
Mas para espanto da menina, a poltrona ficou
muda e ela reparou que a boca desaparecera.
— Por favor, fale! Minha mãe não acredita que
você fala.
E nada.
Nem ela ou a boneca disseram uma única palavra.
A decepção estampou-se no rosto da criança. A
mãe balançou a cabeça.
— Mamãe, mesmo que ela não está falando, quero
levar a poltrona e a boneca para nossa casa.
— O quê? De jeito nenhum. Não quero esta velharia desbotada em casa.
— Não fale assim delas. Eu quero!
E começou a chorar.
— Eu quero! Repetiu gritando.
— Ah meu Deus! Vai começar a fazer birra agora.
— Eu quero! Por favor! Implorou.
— Aonde vou por essa poltrona enorme?
— No meu quarto. Lá cabe.
A mãe olhou para a filha. As lágrimas corriam
pelas faces. A boca deformada pelo choro. Era uma criança dócil e meiga. Nunca insistia em pedir coisas.
— Está certo.
Vou descer e falar com a vovó Guilhermina.
— Eu quero ficar mais um pouco aqui.
Quando a mãe saiu, ela disse:
— Por que vocês não falaram nada?
A boca apareceu novamente no encosto da
poltrona.
— Os adultos não compreendem a magia que há no
mundo. Só as crianças percebem o que é
encantado. Só você pode nos ouvir.
— É isso então? Que pena que minha mãe não pode
conversar com vocês. Vai ser o nosso segredo. Disse sorrindo e limpando as
lágrimas com os dedinhos. E continuou;
— Mas vocês ouviram. Vão para minha casa. Estou muito feliz!
A boca de veludo abriu-se em um grande sorriso
e a boneca pulou de alegria.
— Sente-se bem perto de mim para
abraçá-la.
Juju aconchegou-se nos braços macios da velha
poltrona e abraçou Ritinha. Um raio de
sol iluminou as três.
— E tem mais… Vou pedir à mamãe para
consertar seu braço.
E deitou-se sobre ele.
O CASAMENTO REAL Alberto Landi Em uma manhã ensolarada de 22 de maio de 1886, as ruas de Lisboa se encheram de flores e música para cel...