A PORTA
Adelaide
Dittmers
Diante
de mim há uma porta. Há uma porta diante
de mim.
Para
onde me levará? Tenho que abri-la para descobrir.
O
medo me avassala.
E se
abrir para uma noite escura? Onde sombras assustadoras aparecerão...
Ou
ao abrir me deparar com um dia ensolarado e céu azul...
O
que me espera do outro lado, afinal?
Tenho
que ter coragem. Faz parte da caminhada.
Seja
o que for que encontrarei, tenho que enfrentar ou me comprazer.
Empurro
a porta abre devagar. O espanto me
paralisa. Diante de mim há caminhos
entrelaçados e tortuosos. Passo a passo,
sigo lentamente. Atordoada, percebo que
têm forma de neurônios e se ligam uns aos outros em grande velocidade.
De
súbito, uma espécie de nuvem afeta minha visão e sinto um vento forte me
carregando. Surpreendida avisto uma bela paisagem, que surge aos poucos no meio
da névoa. Meus pulmões enchem-se de ar
puro. Um sentimento de gratidão inunda
meus sentidos. Mais abaixo, um mar verde e límpido lambe a areia branca. Corro para ele. Mas nesse momento sou arrancada
dali e me deparo com homens caçando, vestidos de peles de animais. Os rostos
têm feições rudes, as mãos grossas carregam machados feitos de pedra.
Levada
outra vez por aquela força estranha, vou parar em outros tempos e lugares. À minha frente, homens com lanças lutam com
ferocidade. Tento fugir dali. O sangue
de um guerreiro espirra em meu rosto.
Desfaleço de susto e volto a mim em uma estreita estrada de terra, onde
um homem sentado em uma pedra, fala sobre amor e respeito ao próximo para doze embevecidos
ouvintes. A paz aninha-se em minha
alma. Fecho os olhos para absorver
aquele momento. Quando volto a abri-los,
estou em um prédio escuro, com paredes de pedra, onde homens confabulam sob uma
tocha, que mal ilumina o aposento. Olhos
ferinos me dizem que lá ódio e não compaixão.
É um lugar lúgubre e amedrontador.
Esforço-me em sair.
Sou
jogada em uma praça e ao levantar os olhos, fico horrorizada ao ver pessoas
sendo queimadas em fogueiras. Tampo os
ouvidos para não ouvir seus gritos lancinantes.
Sou
de novo transportada, impotente que estou de sair desse caleidoscópio de
lugares e épocas. Um campo está sendo
lavrado por pessoas pobremente vestidas.
Uma mulher está à sombra de uma árvore amamentando uma criança. O olhar perdido demonstra desesperança. Ao longe, um grande castelo ergue-se
majestoso.
Novamente,
aquela força inexplicável me deposita em um ambiente claro e quando tento
entender onde estou, tampo a boca para não gritar de espanto. Diante de mim, nascendo da pedra bruta,
translúcida e pura do mármore, está uma mãe segurando o filho morto. Fico extasiada! Sento-me no chão frio e
admiro comovida o grande mestre executar sua obra. Quis permanecer ali por mais
tempo, mas nessa louca viagem não sou dona da minha vontade.
Uma
rua estreita e imunda, cercada de pequenas casas é minha próxima parada. No chão de pedras irrregulares jazem pessoas,
cujos corpos estão cobertos de enormes bolhas.
A peste negra. Dou um passo para
trás. O terror se apodera de mim.
E
continuo nesse caminho insano. Passo por
muitas batalhas. Homens com poderes
absolutos, revoluções, mulheres oprimidas, escravos açoitados sem piedade
desfilam sob os meus aturdidos olhos.
De repente, estou em um lugar hostil. Homens e crianças magérrimos estão sendo
empurrados com violência para uma sala totalmente vedada. Um arrepio percorre-me inteira. Sinto-me exausta. Viro a cabeça. Quero sair dali. O arrependimento de ter aberto aquela porta
toma todos os meus sentidos.
Para
minha surpresa, vejo-me então em um hospital.
Olho em volta. Uma mulher geme ao
se esforçar em dar vida a um novo ser.
Aproximo-me dela. Paro estática.
È minha mãe. Quero chegar mais perto, mas não consigo. O choro de uma criança ecoa na sala. ¨Uma
menina¨, diz o médico sorrindo. Atônita,
percebo que sou eu, que estou nascendo. Viro-me,
e à minha frente está a mesma porta. Respiro fundo e baixando a maçaneta,
entro...
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