COMPORTAMENTOS ESTRANHOS.
Leon Vagliengo
Existem hábitos que permanecem
desde a infância. Alguns são esquisitos.
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Acordou com o toque insistente e distante do telefone. Sábado,
quatro horas da manhã! Isso não é hora de alguém telefonar, a não ser que seja
algo muito importante, pensou, alarmado, o sonolento e gordinho Waldemar.
Olhou para a esposa, Luciana continuava a dormir a sono
solto. “Dorme, meu amor, você merece, você é muito especial. Só mesmo você para
aceitar e ainda achar graça dos meus costumes”, pensou, enquanto vencia a
preguiça de sair da cama.
O toque era do telefone fixo, lá embaixo, na sala. Waldemar desceu as
escadas apressado, de chinelos, ainda meio adormecido e carregando com alguma
dificuldade o excesso de peso acumulado em seus trinta e oito anos de vida,
arriscando-se a um tombo.
―
Alô! – Atendeu, ansioso, mas não a tempo: a ligação caiu. Soltou um palavrão,
com raiva e frustração pelo insucesso, mas logo a seguir o telefone tocou outra
vez.
— Alô! — Atendeu, novamente ansioso, agora já completamente
desperto. Do outro lado, uma voz desconhecida, meio ameaçadora, e meio
zombeteira, lhe disse:
— Eu sei de tudo! — Disse e desligou.
De imediato, Waldemar ficou surpreso e preocupado: “Tudo o quê?
”, estremeceu.
Superado, porém, o espanto do primeiro momento, pensou bastante no que
ouvira; e quanto mais pensava, mais se convencia de que a misteriosa e sutil
ameaça não podia ser verdadeira, não tinha fundamento. Em toda a vida sempre
primou pelo bom comportamento, pela seriedade e pelo respeito a todos; por mais
que refletisse não encontrava lembrança de ter cometido qualquer
irregularidade, social ou profissional, e, com certeza, não haveria nada escuso
que alguém pudesse saber dele para poder ameaçá-lo.
A não ser... a não ser que o interlocutor soubesse de algo de
sua vida pessoal e que estivesse querendo explorar a sua privacidade. Mas o quê? Matutou bastante sobre o que
poderia ser, mas também nada lhe veio à cabeça, considerava-se uma pessoa
absolutamente normal, como todo mundo.
— Acho que ligaram para o número errado, não era comigo — concluiu.
Mais tranquilo após ruminar aquele susto sem nada encontrar
que pudesse comprometê-lo, bastante cansado pelo sono interrompido e pela
tensão que experimentara, resolveu voltar para a cama; subiu as escadas e
voltou para o quarto. Beijou os lábios de Luciana suavemente para não a
despertar, colocou novamente a chupeta na boca, ajeitou a camisola, deitou-se e
dormiu, abraçado ao ursinho de pelúcia; dormiu profundamente, dormiu o sono tranquilo
daqueles que não têm nenhum peso na consciência e não devem nada a ninguém.
Aquele beijo delicado não despertou Luciana, mas o leve
sorriso que imediatamente surgiu em seu rosto revelou que ela sentiu profundamente
o carinho que tinha recebido. Algumas horas depois ela acordou, esticou todo o
corpo espreguiçando longamente, e saiu da cama. Waldemar ainda dormia
profundamente, de chupeta e camisola, abraçado a seu ursinho. Luciana olhou
para ele divertida e compreensiva, sorriu ternamente e disse, bem devagarinho,
para si mesma, em voz baixa:
— Esse meu marido é uma figura...!
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