A
HISTÓRIA DA VIDA DE UM PROFISSIONAL
Henrique Schnaider
Cecilia batalhou
muito na vida e venceu. Só que as custas do suor dos outros, menos do seu.
Era empresária, tinha uma indústria de embalagens
plásticas que abastecia sua própria loja montada no bairro central da capital.
Cecilia era muito dura nos negócios, não possuía a
suavidade própria das mulheres. Era terrivelmente centralizadora e chegava a
ser cruel com funcionários. Ela dirigia
a loja, e seu filho a fábrica.
O departamento
de telemarketing era composto por uma
equipe de dez vendedoras, dirigida pela proprietária de maneira precária e
desumana. Controlada por Cecilia, as pobres coitadas
eram exigidas ao máximo, mal tinham tempo para a refeição.
Na parte de baixo do prédio ficava o caixa e o
estoque de material e havia um balcão atendido por vários funcionários para suprir
as peruas das Empresas que vinham buscar os pedidos feitos no telemarketing.
Na parte de cima junto com as vendas ficava o
departamento pessoal e sala de Cecilia. Ela possuía duas TVs de circuito
fechado de onde ficava o tempo todo fiscalizando os seus funcionários, e
qualquer coisa, a mínima que fosse, lá vinha ela descendo as escadas para
chamar a atenção pelos mais variados motivos, constrangendo a todos pois fazia
questão de falar para todos ouvirem.
Ela fazia essa fiscalização durante toda a jornada
de trabalho, criando um ambiente de terror na Empresa. Ainda tinha o Merval, que
gerenciava da parte de baixo. Ele era puxa-saco de primeira da Cecilia, pessoa
amarga que não dava um único sorriso nem por favor. Levava a ferro e fogo os
coitados sob seu comando, num verdadeiro campo de concentração em plena cidade.
Arnaldo nem imaginava no ninho de cobras que estava
prestes a entrar, era formado em Administração, mas nunca exerceu a profissão foi
comerciante, chegou a ter quatro lojas do ramo de moveis e eletrodomésticos por
muitos anos, mas os novos tempos não facilitaram nada para ele. O surgimento
dos grandes magazines não deixou outra opção a ele senão fechar as lojas.
Trabalhou no Consulado da Áustria por doze anos,
arrumou muitos inimigos e teve que ir embora. Desta feita foi trabalhar com
amigos Advogados por mais doze anos. Mas sempre tem um dia, e Arnaldo ficou
desempregado.
Foi parar na sala de Cecilia para uma entrevista,
mal sabia ele na fria que estava entrando. Num primeiro momento a patroa, toda solícita agradando ao máximo, escondeu as
garras e Arnaldo foi contratado achando que tinha entrado na casa de amigos.
Com o tempo as desavenças começaram. O pobre do
Arnaldo ficou no caixa e mal ele se mexia lá vinha a víbora chamar a sua
atenção. Era vigiado o tempo todo e a convivência com o Merval era a pior
possível. O ambiente era desagradável.
Arnaldo tolerou toda essa situação por três anos
apenas trabalhando e baixando a cabeça, fez de tudo para que as coisas
melhorassem, tentou dialogar com a naja, mas tudo em vão e ela cada vez pior.
Até que um dia ele se encheu e pediu demissão.
Depois de ficar seis meses em casa. A patroa
maléfica chamou o Arnaldo de volta, prometendo mudar algumas coisas e inclusive
nomear ele para Gerente da parte de baixo.
Tudo balela, pois, na verdade o lobo perde pelo, mas
não perde o vício, e Cecilia estava pior do que antes, Arnaldo era um Gerente
de araque pois Cecilia desceu outra funcionária para a parte de baixo que disse
que a patroa falou para ela, que seria a nova Gerente e isso com o capitão do
mato o Merval lutando para não perder o poder, o inferno de Dante.
Arnaldo ficou ainda mais dois anos sofrendo calado
até que um dia deu o seu grito de liberdade, foi à sala da Cecilia e soltou os
cachorros e disse que estava indo embora desta vez para sempre.
Cecilia nunca mudou sua maneira de ser, até que um
dia morreu corroída por um câncer. Quanto a Arnaldo vive uma vida tranquila, aposentado
e nunca mais quis saber da vida de Cecilia.
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