TEMPESTADE
Hirtis Lazarin
Era noite. Uma pintura de céu. As
estrelas eram tantas que competiam espaço.
A lua, uma bola de fogo, iluminava o convés da embarcação
que deslizava livre e tranquila.
Os dez homens que compunham a tripulação,
esparramados pelo chão, bebericavam e jogavam conversa fora esperando o sono
chegar.
Sem aviso prévio, o veleiro viu-se envolto por
intenso nevoeiro. A brisa agradável virou, em segundos, intensa ventania,
fazendo o mar crescer. Ondas volumosas aumentavam cada vez mais, tão
escuras, tão negras por baixo e tão alvas por
cima.
Tudo andava tão temeroso com relâmpagos e raios
que parecia fundir-se o mundo.
Objetos soltos misturavam-se num emaranhado de
destroços, engolidos pelas águas que já tinham invadido todos os
compartimentos.
Os tripulantes tentaram tudo o que suas forças
permitiram, mas não havia mais nada a fazer.
Uma nau frágil provoca o naufrágio do ser humano.
A proximidade da morte certa faz
uma revolução aos nossos sentimentos.
Os poderosos caem de seus tronos, os corruptos
pedem clemência, os pecadores imploram perdão.
Todos se igualam e se humilham diante do inevitável.
Em meio a gritos, prantos, bramidos e até rezas, os
homens põem-se de joelhos na tentativa de chegar com maior reverência diante do
Deus que nos criou.
A tempestade durou o suficiente pra afogar todos e
transformar a embarcação em pedaços de madeira que, agora, flutuavam
em silêncio e sem destino.
E tudo voltou como era antes. O mar sereno nem
se deu conta dos dez homens e das toneladas de alimento que engoliu.
E, no alto do céu, as estrelas continuavam
lá. E a lua cheia também.
Testemunhas caladas...
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