Só
podia ser olho gordo
Hirtis Lazarin
Itaoca, uma cidadezinha do sertão maranhense, estava
pra sumir do mapa. Os moradores mudavam-se aos poucos, em busca de estudo
e trabalho nos centros mais prósperos.
Depois de conversas e desconversas, João Teodoro
aceitou o cargo de delegado.
Não havia homem melhor que ele pra ocupar esse
cargo. Nasceu em Itaoca e sempre se orgulhou de ser honesto, trabalhador
e cheio de prosa.
Pensou ele: "Não vou ter tanto pra fazer
aqui. Nossa cidade é pacata, todos se conhecem e há mais de quinze anos
não acontece um roubo de doce de padaria".
Os dias foram passando tranquilos. A única
preocupação de João Teodoro era abrir a delegacia bem cedinho e fechá-la às
dezoito horas.
Até que, numa segunda-feira como outra qualquer,
altas horas da noite quando a cidade dormia, ouviram-se explosões e mais
explosões de bombas.
As janelas todas abriram-se simultaneamente.
Os curiosos queriam saber quem eram os autores dessa brincadeira.
Esse seria, até agora, o trabalho mais sério
que apareceu pra João Teodoro resolver.
Ele não perdeu tempo, pulou da cama, vestiu a farda,
municiou o trinta e oito herdado do pai, fabricado na década de vinte.
Todo imponente apareceu na rua principal de Itaoca.
Foi recebido por rajadas de metralhadora, que só
silenciaram, assim que o delegado caiu esparramado no chão.
Sangue escorreu em quantidade suficiente pra colorir
o asfalto.
A quadrilha acabara de explodir o único caixa
eletrônico da cidade. Deixaram a cidade acenando para o povo
assustado que espiava por trás das janelas entreabertas.
Hoje João Teodoro ocupa o mausoléu mais"
chic" do cemitério. Um presente dos itaoquenses. Ninguém
se
conformava com a morte violenta do
ilustre cidadão.
Flores silvestres nasceram ao redor do
túmulo, de livre e espontânea vontade.
E Itaoca, finalmente, desapareceu do
mapa.
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