O
MURO ENCANTADO!
Dinah Ribeiro de Amorim
Marizinha, de seis anos,
amava brincar no quintal de sua vovó, com muitas plantas, árvores, bichinhos e
um muro de tijolos cheio de buracos velhos, causados pelas chuvas. Assim
passava suas tardes, imaginando histórias encantadas, no mundo feliz da
infância. Escondia brinquedos usados, doces, pedaços de queijo, nas fendas do
muro , para seu grande amiguinho, Riri..., uma mistura de corpo de boneco,
cabeça de rato e rabo de gato. Acreditava ser o morador local.
Riri aparecia de vez em
quando, sorria muito, acenava-lhe com sua mãozinha, pegava as prendas e saia
correndo.
Numa tarde ensolarada,
quando a menina ia lhe depositar um doce, Riri aparece e a convida para entrar.
Marizinha, espantada, Pensa como entrar num buraco, dentro do muro? Riri,
sorrindo, estende-lhe a mão e, puxando-a, o buraco aumenta, surgindo um
corredor imenso, fazendo-a percorrer com grande curiosidade. Que teria no
final!
Uma grande porta se abre e a
menina e seu companheiro penetram num ambiente estranho, com móveis grandes e
janelas enormes. Espiam lá fora e Marizinha vê uma cidade cheia de homens
altos, vestidos de verde, parecendo outro mundo! Locomovem-se com passos
pesados e largos e, para grandes distâncias, possuem asas. Seriam anjos, pensa
ela.
Havia visto muitas gravuras
com desenhos de anjos e sabia que tinham asas. Homens, vestidos de verde, era a
primeira vez. Empurra Riri para abrirem a janela e pularem para conhecê-los. O
amiguinho, amedrontado, recua. Segreda em seu ouvido que poderiam não ser muito
amistosos.
“Por quê?” Pergunta a
menina. Riri aponta-lhe um galpão enorme, de telhado vermelho, com janelas
fechadas, de grande chaminé, pelo qual jogam, de vez em quando, alguma coisa.
Observam melhor e avistam
serem jogados alguns seres pequenos, semelhantes a Riri, que talvez lhes sirvam
de alimentação. Marizinha compreende o temor do amigo e o porque de tê-la
chamado. Talvez fosse um pedido de ajuda.
Sentam-se debaixo da janela
e começam a arquitetar um plano! O que fazer diante de inimigos tão altos,
fortes e poderosos. Riri, tão pequeno e, ela, uma menina ainda! Se fosse adulta
e grande como seu pai, talvez resolvesse alguma coisa. Pensando no pai, lembra
de sua caixa de ferramentas. Possuía pregos, martelos e uma chave estranha,
comprida, que abria e fechava todo tipo de fechadura. Bastava torcer ou
distorcer os parafusos que as seguravam.
Pede a Riri que a leve de
volta ao quintal. Corre até a casa da vovó e procura a caixa de ferramentas do
avô. Esta, surpreendida, já pensando em alguma outra invenção da menina,
recomenda-lhe Cuidado! O avô tinha apego às suas coisas.
Marizinha volta ao buraco,
chama Riri que a introduz novamente no corredor, chegando até o ambiente
estranho. Sentam-se no chão e observam a movimentação daqueles seres
descomunais. Precisavam estudá-los para organizarem um modo de salvar os
pequeninos, presos no galpão.
Percebem que voam em bandos,
para algum lugar distante, demorando para voltar e, quando voltam, trazem com
eles, pendurados, vários bichinhos, semelhantes a Riri, jogando-os pela
chaminé. Talvez servissem de alimentação. Precisavam descobrir um jeito de
impedi-los nessa tarefa e abrir janelas ou portas do galpão.
Marizinha abre a caixa de
ferramentas e descobre uma grande tesoura, usada por vovô para cortar grama.
Tem uma idéia! Esses homens verdes devem ter horas de sono. Vamos esperar que
durmam e, silenciosamente, cortar suas asas. Estão usando-as para o mal! Não
são anjos! Sem asas, não poderiam voar. Acabariam seus movimentos.
Esperam algum tempo e,
quando eles voltam cansados, deitam no chão e adormecem profundamente. A menina
e Riri, com grande esforço, levantam o vidro da janela e escapam para o mundo
lá fora, fazendo escorregar primeiro, o tesourão. Ufa! Que esforço! Quase caem
os dois, temendo fazer barulho.
Como todo grandão é pesado,
teriam que fazer grande barulho para acordá-los, pois o sono também é pesado.
Vagarosamente, vão cortando
as asas dobradas, uma por uma, delicadamente, impedindo-as de abrirem. Voltam
correndo e escondem-se no corredor, quando um deles se mexe, tornando a
adormecer.
Riri lembra Marizinha que
precisariam abrir o galpão. Voltam, amedrontados, com a chave de fenda na mão,
indo pé ante pé até a entrada do galpão. Não existe uma porta! Só janelas
fechadas e a chaminé. E agora! Como fariam?
Marizinha suspende Riri com
os braços, ajudando-o a abrir o vidro da janela, quebrando-o com um furo. O
barulho acorda todo mundo! Os prisioneiros de dentro e os gigantes de fora.
Começa uma correria infernal. Os Ririzinhos escapam e vêm em direção à janela
do ambiente estranho, guiados por Riri. Os gigantes, atordoados, tentam se
levantar para apanhá-los, mas não conseguem. Com as asas quebradas, mal
conseguem se mover. São pesados demais!
Marizinha e Riri ajudam seus
amiguinhos a fugirem pelo corredor, chegando até o buraco do muro que, de
repente, diminui de tamanho, aparecendo novamente o quintal.
Felizes e salvos, o muro
permanece com novos habitantes, para alegria da menina que fecha a grande porta
antes de fugir, voltando, cansada e emocionada para conhecer seus futuros
amiguinhos.
Preocupa-se, agora, em
aumentar o número de prendas, docinhos e queijos, atraindo vovó para observar
suas brincadeiras, que exclama rindo: “Marizinha, é tudo imaginação! Vovô
precisa, um dia, tampar todos os buracos do muro!”
A menina, assustada,
responde: “Não, vovó, vai matar meus amiguinhos! Espero que esse dia nunca
chegue!”
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