Apuros jornalísticos!
Amora
Letícia,
uma jovem jornalista, recém-formada, encanta-se com o convite para trabalhar na
revista “viaje”, com novidades
turísticas. Faria descrições e relatórios sobre diversos lugares, viajando
constantemente.
O
primeiro lugar indicado despertou-lhe grande curiosidade. Teria que estudar e
conhecer uma cidade pequena, Sagrada, situada perto de Manila, nas Filipinas.
Descobrir o porquê de atrair tanto turista e o desagrado do povo com essa
invasão.
Logo
ao chegar, espanta-se com a quantidade de estrangeiros no local, contrastando
com a simplicidade e os costumes tradicionais dos habitantes.
Hotéis
superlotados, restaurantes cheios, muita movimentação para um lugar pequeno,
bonito, mas de natureza comum.
Fazendo
reconhecimento do local, perguntando aqui e ali, descobre a causa de tanto
interesse. Os costumes tradicionais daquele povo, seus lugares de manifestações
festivas e religiosas, a preservação que insistiam no culto aos antepassados.
Eram tão diferentes que atraiam curiosos em conhecê-los.
Sentiam-se
incomodados com isso, fazendo várias queixas ao governo, como invasão de
lugares que consideravam sagrados. Eram vencidos pela renda turística,
comércio, organizações de excursões e tudo que trouxesse mais dinheiro ao país.
Letícia,
após alguns dias, resolve participar de um passeio que a levaria ao local de
maior atração. Como esses filipinos enterravam seus mortos!
Chegaram
a um lugar montanhoso, estranho, ao entardecer. Reparou que não enterravam seus
mortos, mas colocavam em caixões que ficavam pendurados e perfilados o mais
alto possível, suspensos em fios, para que recebessem maior proteção e ficassem
mais perto do céu. Era uma maneira de encaminhar seus ancestrais próximos aos
deuses que acreditavam. Lugar sagrado e respeitoso, não digno de visitação a
turistas com comentários e fotos.
A
moça sentiu-se impressionada e não gostou de ter ido, achando-os muito
ignorantes e, nada atrativos, pensando em escrever algo que ajudasse a acabar
mesmo com o turismo em sagrada, indo contra a tradição deles, não os defendendo.
Escureceu
rápido e ela, amedrontada, sentindo um cheiro estranho que emanava do local,
afastou-se do grupo, procurando o ônibus. Enveredou por um caminho
desconhecido, e, ao invés de se afastar daqueles caixões pendurados, ficou mais
próxima, pensando que fossem galhos. Tão
próxima, que um deles despencou, chocando-se com ela. Apavorada, deu um grito
forte e desfaleceu de susto.
Atraídos
pelo seu grito, correram todos a socorrê-la, procurando sair o mais rápido
dali. O guia, rapaz nativo, supersticioso, compreendeu, à sua maneira, que fora
um sinal que os mortos deveriam ser respeitados.
Voltando
ao hotel, Letícia permaneceu alguns dias na cidade, recuperando-se da batida
que sofrera. Os habitantes olhavam-na diferente. Como se tivesse sido uma
escolhida dos deuses para preservar o
lugar.
Mudou
seu pensamento sobre o texto que pretendia escrever.
Não
mais os criticaria, ajudando-os a preservar seus costumes e tradições com
respeito, sem preconceitos e invasões. Compreendeu que cada povo tem seu
costume, acredita neles, adquirindo uma força interna, não permitindo
distorções.
Voltou
à revista e escreveu uma crônica sobre sagada contando tudo o que viu,
inclusive defendendo o povo propondo um fechamento ao turismo dos lugares
proibidos a estranhos. Terminou dando razão aos habitantes locais.
Sagada
passou a ser mais respeitada e conhecida depois disso! Sua crônica foi bem
aceita, despertando curiosidade pela situação que sofria e não só pela sua tradição!
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