Um amor eterno!
(Amora)
Estamos
em 1912, um pouco antes da Primeira Guerra Mundial. É uma história verídica,
como tantas acontecidas no passado.
George,
um jovem major do exército inglês, tendo
dado baixa em período de paz, mora em Londres, capital da Inglaterra.
Apaixonado
por pintura e cavalos, aproveita o tempo de folga para se dedicar ao que gosta.
Fica
sabendo por amigos, da existência de uma ilha, Foula, no litoral da Escócia,
habitada por inúmeros cavalos pequenos, pôneis, em maior número do que habitantes. Cerca de 1000 pôneis para cada
morador local, que descontando os turistas, não passam de 30 famílias. Animais
calmos, inteligentes, obedientes, corredores, datando uns 3000 anos antes de
cristo, segundo estudiosos.
Aventureiro
e audacioso, decide deixar Londres e ir visitar Foula, essa ilha famosa,
parecendo-lhe mais encantada e misteriosa do que verdadeira.
Assim
que chega, hospeda-se em simples pousada e sai pelos arredores, dirigindo-se
aos campos que ladeiam aquele mar de águas claras e límpidas, de ondas altas
que batem nas rochas e produzem um barulho contínuo e forte, semelhante a
batidas de pés. Olha ao redor e percebe que cavalos também trotam, às pressas,
em bandos, pela areia molhada, como se apostassem corrida.
Eram
pequenos, elegantes, de pelos luzidios, crina e rabo volumosos, lindos! George encanta-se com eles. Resolve
pintá-los.
Apronta
seu material na manhã seguinte, dia ensolarado embora fosse inverno, e vê se
consegue apanhar pelo menos um, para modelo. Não consegue, apesar de muita
correria e esforço. Escuta uma risada alta e gostosa vinda de uma cabana ali
perto. Vira-se nervoso e vê uma linda moça, olhos azuis e cabelos vermelhos,
encaracolados, sorrindo para ele.
Divertia-se com a sua incompetência.
Já
mais calmo, dirige-se a ela, apresentando-se como um pintor, desejoso de ter um
pônei, coisa rara em Londres, como modelo. A rapariga, mostrando-se amiga, diz
chamar-se Mary e se propõe a ajudá-lo. Chama um dos animais pelo nome e ele
corre a atendê-la. George espanta-se com
isso, achando que deveria pintá-la, segurando o pônei. O quadro ficaria mais
interessante, impressionado também pela beleza da moça.
Todas
as manhãs, reunia-se perto da cabana de Mary, pintando-os com todo o entusiasmo
e carinho que possuía, colocando na tela a beleza do cavalinho e o amor que já
estava sentindo pela delicada e bela Mary, tão diferente das raparigas que
conhecia em Londres.
Foula
era mesmo uma ilha encantada e paradisíaca, como lhe haviam contado. Resolve
terminar o quadro, começar outros, nunca mais deixar aquele lugar. Mary parece
corresponder ao seu afeto e até os pôneis, tão ariscos, sentindo talvez que ele
era amigo, aproximam-se dele.
Conhece
a família da moça, uma das poucas que ainda restam na região e pede-a em
casamento. Estabelecem uma data para a cerimônia e declaram-se noivos desde
então.
Mary
não cabe em si de contente, feliz ao lado do homem que ama e cercada pelos
amigos pôneis, que nunca pensou em abandonar.
É
chegado o dia do matrimônio e o casal feliz espera permanecer na cabana em que
se conheceram. O primeiro quadro pintado por George seria o enfeite principal
da sala, lembrando-os dos primeiros momentos de união.
Terminada
a cerimônia, ao redor de uma grande mesa, começa animada festa, em que todos os
convidados falam ao mesmo tempo. Um deles, o último a chegar, abre muitas vezes
a boca, mas não consegue ser ouvido. Insiste muitas vezes, até que finalmente,
cansados, param e ele fala bem alto o que queria. “estourou a guerra! Todos os
jovens, principalmente do exército, estão convocados”!
Os
convidados emudecem. Seus semblantes alegres se modificam. A tristeza e o medo,
embora estivessem longe da capital, invade
o casamento tão feliz de Mary e George. O casal retira-se imediatamente,
indo Mary chorar em sua cabana, sabendo que George seria logo convocado.
Foi
mesmo. Em poucos dias recebeu um comunicado que deveria apresentar-se ao
exército e se alistar à luta.
Maldita
guerra, pensa Mary. Nem bem casara e já ficava sem marido. A despedida foi bem
triste, prometendo George escrever todos os dias e ela esperá-lo até que
voltasse.
Passaram-se
três anos! As cartas de George foram rareando até que não chegavam mais. Mary
nem sabia se estava vivo ou morto. Consolava-se com seus pôneis e passava horas
olhando os quadros que George pintara.
As
notícias da guerra eram comunicadas e parecia que não iria terminar nunca!
Tamanho o estrago que fizera! O povo sofrido, a comida rareando, pessoas
fugindo, feridos chegando. Nada sobre George.
Num
dia de desespero, já perdendo a esperança, Mary dirige-se à praia que tanto
gostavam e, olhando firmemente a água sobre um penhasco, sente-se atraída por
aquela imensidão calma e joga-se, num impulso repentino.
Põe
fim àquela angústia que tanto a importunava.
Ao
longe, um barco com bandeira inglesa aproxima-se. Dentro dele, vários feridos
de guerra são deixados naquela região, inclusive George, que, mancando,
dirige-se vagarosamente à cabana onde Mary deveria estar. Não a encontra e
ninguém sabe dela. Atemorizado, sai também em direção à praia, encontrando seu
velho lenço em cima do penhasco. Adivinha o acontecido. Mary não aguentara
esperá-lo tanto tempo. Os pôneis amigos, rodeiam quietos aquele lugar. Parecem respeitar
a amiga que se fora. George, olhando aquela água sente também o mesmo impulso,
atirar-se e juntar-se à amada.
É
imediatamente rodeado pelos pôneis inteligentes, que o impedem de realizar o
mesmo ato de Mary. Permanece em Foula, solitário na cabana, pintando pôneis
para turistas, olhando o quadro que fizera quando chegara, para lembrar de Mary
e amenizar sua saudade, até a velhice.
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