O Sol da
Meia Noite
Rejane Martins
Finalmente a
exótica e tão esperada viagem aconteceu para Fernanda. Já havia pesquisado toda
diversidade do Alasca. Identificava no mapa estadual os picos estadunidenses
mais altos, impossível fazer o mesmo com as geleiras, estima-se um número perto
de cem mil, mas os enormes vales cobertos de gelo estavam todos na ponta da
língua.
Os frequentes
terremotos da região assustavam-na um pouco, afinal não tinha ideia de como
proceder, a única coisa que alertaram era para ficar embaixo do batente da
porta. Mesmo o temor nestas horas, dava lugar à curiosidade, passear por entre alguns
dos cem campos vulcânicos ativos cheirava mistério.
O uso dos
biquínis integrantes da bagagem ainda era uma incerteza, mas o devaneio era confortável,
idealizar as várias ilhas, os três milhões de lagos, número maior que o dos
habitantes. E a faixa litorânea formada pelos oceanos Pacífico, Ártico e pelo
Mar de Bering, superior a brasileira, claro que superior somente na extensão,
nossas praias não são formadas por pedras ou pela fina areia glacial que mais parece
um lodo, dizem ser tão perigosa quanto areia movediça.
Para ela, foi o
fenômeno natural não exclusivo a grande atração turística, superando todas suas
expectativas pré-concebidas. Desembarcou no começo da tarde, e impaciente se
ocupou por várias horas explorando o local. Atribuiu o cansaço ao fuso horário
e ao longo período na classe econômica, conferiu o horário para se convencer de
que estava na hora de se retirar, não conseguiu concatenar a informação.
Respirou, piscou
os olhos bem forte antes de depositá-los novamente no relógio. Vinte e três e
quarenta e oito ou onze e quarenta e oito? O sol brilhando, mas não a pino, até
questionou sua sanidade refazendo mentalmente as atividades diárias. Sentou-se
na praça e admirou por um longo tempo aquela bola incandescente, e percebeu que
um pouco antes do crepúsculo a trajetória reiniciava seu movimento ascendente.
Durante a viagem
de quatorze dias sem noite, foi difícil adormecer e o humor irritadiço precisou
se trabalhado. À noite sentar-se no banco da praça admirar a trajetória noturna
do sol era um espetáculo à parte. Uma ocasião conjecturou sobre os desafios
especiais que aquela realidade representaria para religiosos como judeus e seus
ritos em torno do ciclo noturno, e também para os islâmicos que praticam jejum
durante o período de sol no Ramadã.
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