O RELÓGIO
Alberto Landi
Na sala havia um relógio antigo e orgulhoso que
parou de bater ao meio dia em ponto.
Não por falta de pilhas, mas por pura revolta.
Durante anos reinou absoluto marcando o tempo com
precisão e elegância.
Seu tic-tac era o charme da casa, até que um dia apareceu
algo inesperado, um relógio digital, silencioso e moderno, cheio de luzinhas azuis
piscando sem parar. Orgulhoso, mostrava as horas com números perfeitos e sempre
precisos, como se dominasse o tempo inteiro.
Ao lado, na parede pendurado, estava um relógio de
madeira antigo, com ponteiros elegantes, mas parado há tempos. Sua caixa de ébano
carregava marcas sutis do tempo, cada veia, cada fenda, guardavam um segredo
antigo. O vidro amarelado filtrava a luz com suavidade, e o som pausado guardava
histórias de outros tempos, como um coração silencioso que ainda pulsava dentro
daquela madeira nobre.
O relógio digital zombava do velho.
— Para que serve você, parado aí? Eu tenho todas as funções,
sou rápido, eficiente e iluminado!
Mas o relógio antigo não se abalava, até que de
repente, foi ativado. Seu mecanismo enferrujado começou a mover lentamente os ponteiros,
marcando cada segundo com um som compassado, quase mágico.
O tempo voltou a pulsar naquele velho companheiro.
Ele não era apenas um mostrador de horas, era um guardião de memórias, de histórias,
de momentos guardados no coração escuro elegante do ébano.
E assim dois tempos passaram a coexistir na mesma
parede: o ritmo frenético e luminoso do novo, e a calma e a firmeza do antigo.
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