CAPITÃO MENDES
Adelaide Dittmers
O velho aviãozinho soltou um ronco profundo e cansado no esforço de alçar vôo mais uma vez. No comando, um homem também entrado em anos concentrado em guiá-lo para alcançar as alturas. O rosto sério encobria a imensa satisfação que lhe ia na alma.
O céu azul pontilhado por nuvens brancas abraçou-os. Os raios de sol iluminaram as asas azuis e vermelhas do pequeno avião ao dar uma volta para perseguir caminhos incertos.
Capitão Mendes era conhecido e admirado na pequena cidade, em que vivia. Construíra o pequeno avião e riscava os ares em ousadas manobras. Voar era sua paixão.
Ia para onde seu coração mandava, deixando ao acaso os rumos a tomar. Sobrevoava montanhas, campos e algumas vezes a orla marítima. Respirava a aventura de estar nas alturas e de ver a vida passar lá embaixo. Aterrissava em lugares inóspitos, sorvendo a felicidade de suas andanças audaciosas.
Enfrentava os perigos com a segurança de que iria superá-los. Muitos lhe perguntavam se não tinha medo de que o avião sofresse uma pane. Ele dava de ombros e respondia que não tinha medo de morrer e sim de não viver.
Naquela bonita manhã, voando para um destino incerto e se deixando levar para algum lugar, que o surpreendesse, ao passar por um grande pasto, vislumbrou uma cena que o assustou. Um homem fugia a cavalo, enquanto outro jazia no capinzal.
Com uma brusca manobra, começou a descer e aterrissou perigosamente perto do homem. Desceu as escadas correndo e alcançou o ferido, cuja camisa estava rubra de sangue.
O pobre homem lançou-lhe um olhar suplicante.
— O que aconteceu? Perguntou, ajoelhando-se ao lado dele.
— Um tiro! Balbuciou e desmaiou.
Mendes levantou a camisa da vítima. Havia duas perfurações na altura da cintura. Rápido, tirou a camiseta e a enrolou no ferimento. Bateu levemente no rosto do homem para acordá-lo. Quando conseguiu, com imenso esforço o levantou e o incentivou a ir ao hospital. Colocou os braços dele sobre seus ombros e o arrastou até a aeronave.
Arfando com dificuldade, sentou-se na relva para recuperar as forças após ter acomodado o ferido no pequeno espaço do avião.
Levantou ainda ofegante e assumiu o comando de seu companheiro de aventuras. No caminho, já emitiu um SOS para que o homem fosse atendido rapidamente. Ao aterrissar na curta pista de seu sítio, uma velha ambulância os esperava.
Levado ao hospital, o homem foi atendido com rapidez e foi submetido a uma cirurgia para a retirada dos projéteis, que felizmente não tinham atingido nenhum órgão. Fora de perigo e se recuperando bem, o fazendeiro contou que seu agressor era um vizinho, que comprara terras naquela região recentemente, e invadira uma grande área de sua fazenda. Quando foi notificado pelos meios legais de que tinha que devolver o que roubara, ficou furioso.
Naquela manhã, tinha ido ao pasto examinar uma vaca prenhe, que estava próxima de ter um bezerro, quando de repente, o vizinho chegou a galope e atirou.
Mendes foi homenageado pela sua coragem e eficiência no salvamento ao fazendeiro.
E quando o velho avião decolava para novas aventuras, olhares de respeito o seguiam. E sorrisos lembravam da frase preferida do destemido aviador.
“Não tenho medo de morrer e sim de não viver”.
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