Vinicius,
o fotografo
Alberto
Landi
Vinicius desde criança gostava
de andar de bicicleta e apreciar fotos da natureza.
Tudo começou na
juventude com a oferta feita por um de seus amigos para trocar a bicicleta por
uma câmera.
A partir desse momento passou
a registrar não apenas amigos e familiares, mas também a cidade de São Paulo
que era o alvo principal de sua lente. A experiência transformou-o num dos
melhores profissionais a evidenciar os principais acontecimentos da cidade
Entusiasmado com o seu
trabalho, a prefeitura oferece a ele um estágio de retratista documentarista,
até então inexistente.
Com o tempo foi
efetivado e a sua função era registrar a execução e inauguração de obras,
documentar logradouros, estabelecimentos ligados ao município, prédios
históricos, flagrantes cotidianos. Passou a ser fotografo oficial.
A prefeitura então enfatizou a importância de se ter
um departamento de laboratório fotográfico.
Esse cargo propiciou uma
oportunidade de entrar em contato com pessoas importantes.
Abriu também um estúdio,
recebendo muitos convites de particulares para registrar festas, casamentos,
batizados, acontecimentos em geral.
Chegou a ceder a jornais
e revistas da época como O Cruzeiro, Realidade, Grande Hotel, imagens de
acontecimentos importantes.
Ao longo dos anos
produziu muitos registros, mas pelas sucessivas administrações municipais e a
pouca valorização, se perderam.
O que sobreviveu ao
tempo ficou em diversas instituições de memória da cidade, podendo ser
encontrados no Arquivo Geral da cidade, no Museu de Imagem e som.
Na década de 60, havia
muitas reformas urbanísticas, ele assumiu o projeto das elites cujas imagens,
ajudaram a construir a vitrine de uma importante cidade do Brasil.
Ele sempre dizia:
— Um momento nunca é
apenas um momento, sempre existe algo além da imagem, que podemos ver, que
enxergamos e passamos a sentir.
Após muitos anos na sua
profissão, chegou o momento da aposentadoria. Quis imortalizar a essência da
natureza registrando imagens, como áreas naturais e parques.
Sempre dizia:
— A fotografia de uma
paisagem tirada na luz dourada do sol da tarde, mostra um ponto de vista da
natureza que pessoas raramente observam a olho nu, riquezas de cenários, cores.
Em qualquer lugar se consegue ótimos temas para protagonizar imagens. Algumas delas
podem ser tiradas junto à vida selvagem, mas isso requer um abrigo seguro, um
posto de observação, muito tempo e outras providências necessárias.
Agora como amador, escolheu
como lazer visitar os cemitérios da cidade.
Percorria as infindáveis
alamedas, fotografava esculturas, monumentos e jazigos que ele julgava ser belo,
interessante ou curioso.
Ele dizia sempre que esses
lugares eram museus ao ar livre, pois podia se encontrar esculturas de
artistas renomados, túmulos de personalidades notáveis, uma verdadeira riqueza
arquitetônica e belíssimas obras de arte.
Ressaltava que a cruz era
um dos símbolos mais destacados, em seus tamanhos, texturas e estilos, atraíam
atenção e tocavam as pessoas de algum modo, independente de religião ou credo.
Enquanto a cultura
gótica era representada por sofrimento, dor ou angústia, na de Roma antiga servia
para punir condenados à morte por crucificação.
Os mausoléus mais
sofisticados indicavam o poder aquisitivo da família na época. Muitos deles
pertenciam à elite do século passado, onde seus antigos casarões já foram
demolidos, sobrando hoje apenas o tumulo para lembrança de uma época em que a
ferrovia e o café dominavam a economia da cidade. Quem ganhava eram os
visitantes, pois havia até disputas para se ter o jazigo mais belo.
Dizia sempre que seria
ótimo desmistificar a ideia de que é apenas tristeza e de desconforto, de
dor e luto, mas sim um espaço de contemplação, meditação, de preces pela
memória daqueles que já se foram, de reverenciar a lembrança e saudade.
O encontro com as obras
na paisagem natural é um convite agradável à reflexão e propicia pensamentos e
sentimentos positivos para aqueles que visitam e que levam consigo a magia da
arte, e inspiração.
O jazigo de Monteiro Lobato,
um bloco de granito negro que lembra a forma de um grande baú, onde se pode
imaginar que lá se escondem personagens criados por ele, muito interessante de
se apreciar.
Andando pelas longas alamedas
pode se chegar ao modernismo, nas esculturas com assinaturas de grandes
artistas.
Há também mausoléus de personagens
históricos, como o de Washington Luis e Campos Sales
Há obras incríveis: diversos
tipos de pedras, granitos belíssimos, mostrando contraste entre a porção serrada
e polida das mais diversas cores, muito interessante de se apreciar. Os cantos
dos pássaros nos ciprestes e pinheiros, flores sobre túmulos, anjos, por do sol
em meio às árvores, refletindo o brilho sobre os belos querubins, tudo
embelezando o local.
É um espaço especial
destinado a homenagear a memória daqueles que partiram, onde elementos como vitrais,
bancos, imagens religiosas, enriquecem e contribui para aliviar dor do luto.
Uma ocasião, ele presenciou
uma senhora chorando, sobre um lindo tumulo de mármore e granito.
Ela estava com os braços
cheios de rosas-vermelhas, uma vestimenta que cobria completamente o corpo, que
lembrava uma mulher oriental, era bela como uma flor.
Em seu pranto dizia em
voz alta:
— Toninho! (Antonio)
minha joia preciosa, por que você me deixou tão cedo? A sua ausência me provoca
dores, sem você a vida não tem mais sentido, não tenho mais vontade de viver.
Ele observava a certa distância esse lamento.
Ficou comovido e
resolveu se aproximar dela com objetivo de oferecer seu amparo, num gesto de
carinho e consolo.
Mas, surpreso, viu que na
placa sobre o jazigo estava gravado o nome Samir Assad e não “Toninho” que era
o objeto do lamento da viúva.
Ele incrédulo se acercou
mais ainda, pediu licença e após reverenciá-la fez uma observação;
— Senhora, me emocionou
muito o seu lamento e dor, todavia esse tumulo não parece ser do seu marido,
pois aqui consta o nome de Samir.
Ela, carinhosamente,
ouve Vinicius e diz:
— Meu jovem, um dia
sentiremos falta de tudo o que não pudemos viver, das coisas mais belas que
deixamos de fazer, das tardes com um horizonte todo tingida de laranja, das
noites enluaradas. Somos feitos de retalhos, que a vida nos doa, e no dia a
dia, vamos costurando nossa história entre sorrisos e lágrimas. Somos feitos de
pedaços que ficam e que vão embora.
— Para uma árvore há
esperança; se for cortada, brota de novo e torna a viver, mesmo que suas raízes
envelheçam, e o seu toco morra na terra, basta um pouco de água, e ela brota, soltando
galhos como uma planta nova, mas isso não acontece com pessoas, que vão e não
retornam mais.
— Estou no lugar certo,
pois Toninho quando vivo, devido ao fisco do imposto de renda, não colocava
nada em seu nome!
— Ele, querendo
confortá-la, e muito gentil, argumentou que a morte infelizmente surge a qualquer
momento e por vezes leva pessoas que nos sãos especiais. Não chore a beira de
seu jazigo, pois ele não está lá!
Procure visualizá-lo no
sopro dos ventos, nas chuvas de verão e nos chuviscos da primavera, no brilho
das estrelas e no canto dos pássaros. A saudade eterniza a presença de quem se foi... Com o tempo esta dor se aquieta, se transforma em silêncio, que espera pelos braços
da vida, um dia Reencontrar!
Continuou perambulando registrando imagens
sabendo que em cada tumulo havia uma história linda, triste ou curiosa para se
contar e não somente a beleza que cada imagem mostrava.!‘