O
GATO QUE NÃO MIAVA
Helio Fernando Salema
Era uma vez uma aldeia rural, onde cada lavrador tinha
seu pedaço de terra para cultivar as mais variadas espécies de alimentos. Uma
vez por semana, eles se reuniam e transportavam para a cidade mais próxima a
produção colhida. Não era muita, mas o suficiente para se manterem. Sempre que
havia algum problema com qualquer morador, os demais corriam para socorrê-lo.
Tudo transcorria em plena harmonia.
Entretanto, nos últimos meses, estava ocorrendo uma redução
na colheita, pois eles faziam questão de só levar o que fosse de boa qualidade
e assim conseguir um bom preço. O resultado financeiro a cada semana diminuía. Este
problema estava incomodando muito a ponto de realizarem reuniões para encontrar
uma solução. Todos concordaram que a terra talvez estivesse cansada pelos anos
que já teria produzido. Porém, o aumento na quantidade de adubação natural não
foi suficiente, também, o rodízio das plantações não produziu o efeito
esperado.
Um dia quando caminhava pelo campo, uma menina viu um
gato muito bonito. Ficou encantada pelo animal, que até então ela nunca tinha
visto, pois não havia nenhum naquela região. Aproximou-se dele com todo cuidado
e, como ele parecia manso, logo começou a acariciá-lo. O animal, também
encantado com ela, aceitava com muita satisfação. Ela fala mansinho com ele que
parecia entender o que era.
Acostumada com outros animais e aves, resolveu levá-lo
para sua casa, depois de ter brincado com ele por alguns minutos.
Quando seu pai retornou da lavoura no final do dia, ficou
surpreso, e ele que conhecia esta espécie, mas não tinha a menor simpatia por
gatos, disse que aquele animal não poderia ficar na casa. Imediatamente o
colocou para fora aos berros. A menina começou a chorar e como era obediente
foi para o seu quarto.
Na manhã seguinte, assim que o pai saiu para trabalhar,
ela pode então ir à procura do bichinho, que na véspera lhe deu muita alegria e
tristeza. Não sabendo como atraí-lo seguia caminhando pelo campo, emitindo os
mesmos sons que usava para chamar as galinhas, os patos e outros animais. Embora
não obtendo êxito, também não desistiu e, ao lembrar-se do lugar onde o havia
visto pela primeira vez, foi correndo, e ao chegar teve uma surpresa… O gato
olhava para ela com um olhar de espanto e alegria. Ela lentamente foi em
direção a ele, que também se movia para junto dela.
Depois de ficarem juntos por alguns minutos se
acariciando, a menina teve um lampejo de tristeza. Como evitar que o pai ao ver
o animal, que ele tanto detestava, não pensasse em “dar um sumiço com ele”.
Olhando atentamente para o gato, ficou imaginando como mantê-lo próximo dela e
longe dos olhos e dos pensamentos do pai. Surpresa ao ver que o animal olhava
nos olhos dela e parecia que entendia seus pensamentos e também tudo que ela dizia,
pois a obedecia imediatamente.
Lembrou-se de que no rancho em que o pai guardava as
ferramentas e os produtos da lavoura, havia uma porta de tábuas pela qual o seu
animal queridinho poderia entrar e sair. Foi andando naquela direção e à medida
que caminhava ele a acompanhava.
Ao chegarem ao galpão, ela mostrou para o gato um local
bem escondido, onde ela colocou alguns panos velhos para que ele ali pudesse
ficar. Explicando para ele que ia buscar água e comida e que ele deveria ficar
ali escondido e, mais uma vez, ela se surpreendeu com o olhar atento do animal.
Assim o manteve escondido, perto dela e fora do alcance dos olhares do pai.
Como por um milagre, as plantações começaram a demonstrar
melhora não só na qualidade como também na quantidade. Aos poucos os lavradores
perceberam a mudança e por mais que tentassem, não obtiveram uma resposta. A
satisfação de todos era maior a cada semana, aumentada e comentada. Planos não
faltaram para a aquisição de bens, que até pouco tempo não imaginavam.
Até que um dia, quando
o pai saiu para levar as mercadorias para a cidade, a menina aproveitou e foi
até o galpão e lá ficou brincando com o gato, despreocupadamente, inclusive
deixando a porta do galpão aberta.
O pai, quando percebeu que havia esquecido de levar uma
ferramenta para devolver a um amigo, volta correndo e, terrivelmente assustado
fica ao ver o galpão aberto. Logo pensa em coisas ruins. Entra correndo… Ao ver
a filha sentada no chão… Se espanta. Ao olhar para o outro lado vê o gato,
volta em direção à filha e, aos berros:
— O que este animal está fazendo aqui?
Uma voz estranha e suave ecoa:
— ESTOU AQUI PARA COMER OS RATOS QUE ESTRAGAVAM AS PLANTAÇÕES.
Helio, adorei sua história. Muito bonitinha e com um final fantástico, bem próprio para as crianças.
ResponderExcluirInteressante como foi correlacionada a presença do gato com a evolução das plantações, o que só foi revelado ao final, dando fecho ao conto. O começo, com o tradicional "Era uma vez..", também caracteriza como uma história boa para crianças. Muito bom, parabéns.
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