PRAIA
DOS AMORES
Hélio Fernando Salema
Há vários anos que a família de Santiago dos Santos, no
verão, viaja da pequena cidade no interior do Estado, para o litoral. Viagem
longa, cansativa, mas sempre muito gratificante. Normalmente tinha a companhia de
outras famílias da mesma cidade ou de cidades vizinhas.
Desta vez, no entanto, viajaram somente os três. Santiago, a esposa Madalena e a única filha, Melissa. Também desta vez resolveram ficar num hotel de frente para a praia.
No mesmo andar do hotel se hospedaram, o casal Ricardo e Selma. Residentes na Capital. Este ano para comemorar o quinto aniversário de casamento, escolheram ir para o litoral e não viajar para a fazenda dos pais de Selma no interior.
Numa manhã de sol com todo esplendor, a multidão de turistas lotava a praia. O casal aluga uma tenda e cadeiras. Apesar de parecer que não havia mais espaço, o dono das cadeiras, acostumado com a situação, vai procurando. Muito habilidoso que é, e também interessado em atender seus clientes, consegue um lugar para colocá-los. Finalmente, instalados bem perto da família Santiago.
Enquanto eram colocados os apetrechos de praia na barraca, Ricardo percebeu que a jovem, que estava junto com os pais, olhava em sua direção. Para não deixar que sua esposa percebesse, evitou olhar e se posicionou de costas.
Não demorou muito para a jovem levantar-se e ir em direção ao mar. Ricardo pode então admirar todo o monumento da natureza física, que desfilava, tendo o céu e o mar ao fundo, como querendo abraçar todo aquele esplendor de juventude.
Em poucos minutos as esposas já se entrosaram, falando de
suas cidades. Madalena ao saber que Selma residia na Capital, logo se apressou
em dizer que jamais moraria numa grande cidade. Selma respondeu que também era nascida
e criada numa pequena cidade. Assim que se casou teve que se mudar. Seu marido
sempre morou e trabalhou na Capital. Bastou alguns meses, para ela se sentir à vontade.
Os maridos também, sem dificuldades, descobriram que
torciam pelo mesmo time. Assim o assunto de futebol dominou a conversa entre
eles.
Melissa ao retornar junto aos pais, percebendo o entrosamento, aproveitou para ficar de pé, com a desculpa de pegar um pouco mais de sol. Por mais que Ricardo tentasse evitar, a todo momento a tentação vencia. Algumas vezes os olhares se encontraram e as reações foram inevitáveis. Certo momento Santiago percebeu, e uma preocupação atormentou aquele pai muito tradicional. Olhou para o relógio, chamou a esposa e filha para irem para o hotel. Tomar banho e almoçar antes que o restaurante ficasse cheio.
Durante o almoço nada de anormal. Saíram depois para andar pelas lojas. Esposa e filha aproveitaram para fazer algumas compras. De volta ao hotel, quando estavam só os três, Santiago aproveitou e calmamente falou para a filha tomar cuidado com Ricardo. Era um homem experiente demais, pois sempre viveu na Capital. Também por ter demonstrado não ser uma pessoa da qual se podia confiar. Que não era capaz de respeitar qualquer pessoa. Melissa ouviu em silêncio, já que nunca se atreveu a contrariar o pai.
No dia seguinte Santiago escolheu um outro ponto da praia para ficar com a família. No restante do dia não se encontraram com o outro casal. À noite, quando eles estavam sentados no calçadão apreciando as belezas do luar sobre o mar, Melissa disse que ia até a sorveteria. Afastou dos pais e caminhou ansiosamente. Como demorou, seu pai preocupadíssimo, foi procurá-la. Deixando a esposa sozinha. Não viu sua filha na sorveteria, nem nas proximidades. Continuou a procurar sem êxito durante alguns minutos. Ao se aproximar de um bar, viu sua filha saindo daquele local. Ficou paralisado. Não teve forças para se locomover, nem voz para chamá-la.
Enquanto ela se afastava, ele respirou fundo e conseguiu
dar alguns passos. Lentamente conseguiu chegar até a porta do bar. Ao olhar
para dentro, viu Ricardo sentado sozinho. O garçom estava próximo, parecia que estava
pagando a conta. Deu mais alguns passos e ficou atrás de uma banca de jornal.
Em poucos segundos Ricardo sai carregando um pacote, que parecia de lanche, e
vai sozinho, em direção ao hotel.
Santiago volta ao local onde deixou sua esposa. Lá estavam as duas. Lembrando-se da reação que teve minutos antes, e temendo que se repetisse, ficou em silêncio.
Na manhã do dia seguinte, antes do sol nascer, a família Santiago retorna à sua pequena e tranquila cidade.
Duas semanas depois, Melissa que obteve uma excelente nota
nos exames, recebe a notícia de que conseguiu vaga na Faculdade Federal de
Medicina. Alegria total na casa. Mistura de risos e choros. O que para muitos
parecia impossível, aconteceu. Primeira vez que ela tenta e consegue, o que ela
mesma achava que seria muito difícil. A notícia de que era na Capital não
abalou o entusiasmo de toda a família.
Poucas horas depois, lembrando-se de que outras moças da mesma cidade já cursavam a mesma faculdade. Começaram os preparativos para que a adorada filha fosse realizar seu grande sonho, um dia se tornar uma DOUTORA.
Depois de receberem informações a respeito da nova moradia para a filha, embarcaram os três para a Capital. Poucas dificuldades. Melissa ficou numa casa na qual duas conhecidas já residiam.
Após algumas semanas, Melissa estando a sós no seu quarto resolve pegar aquele pedaço de papel que Ricardo lhe entregou. Era o número do telefone do escritório e o melhor horário para encontrá-lo. Pensou duas vezes e o guardou.
Nos fins de semana, junto com as amigas, ia ao shopping comer alguma coisa ou tomar sorvete. Raramente ia ao cinema. Numa dessas idas ao shopping viu ao longe alguém que parecia ser o Ricardo. Foi naquela direção, mas não o encontrou.
Na segunda-feira resolveu ligar. Na primeira vez ele não
estava. A secretaria disse que ele retornaria dali a pouco. No final da tarde
ligou. Ele atendeu muito surpreso. Ficou mais surpreso com a notícia de que ela
estava estudando na Capital.
Os telefonemas se sucederam. Os encontros aconteceram.
JORNAL DA CAPITAL
CASAL ENCONTRADO MORTO NO QUARTO DE HOTEL
Advogado casado, e jovem estudante solteira
Suspeita de vazamento de gás ou suicídio
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