O
RIO WHARFE
Henrique Schnaider
O Sr. Green nasceu numa casinha senhorial em estilo
Tudor às margens do rio Wharfe, perto da Abadia de Bolton. Foi uma criança
muito bem-educada já que se tornou filho único, pois o irmão morreu
provavelmente afogado nas profundezas das águas do rio. Teve a dedicação total
dos pais depois do infausto acontecimento.
Sua mãe ficou tão deprimida com a morte do filho,
acabou doando as terras que atravessam o rio, para a construção do mosteiro de
Bolton Priory. Dentre as lendas que dominam os moradores ribeirinhos, está história
trágica da morte do irmão do Sr. Green, que foi imortalizada por William
Wordsworth “A Força da Oração”.
Existem lendas que levam ao fantástico e a pura
fantasia que é o caso, pois os moradores dizem se a pessoa puder respirar debaixo
d’agua e nadar em direção ao fundo, chegará ao outro lado do mundo. Infelizmente
não se sabe se alguém tentou e nem se voltou para contar tal façanha.
Também aprendeu com seu pai a lidar com este rio tão
misterioso quanto cruel. As histórias fantásticas que viu e vivenciou, onde o
rio é sempre o protagonista. Nunca se aproximava do monstro das águas sem a
companhia do pai, conhecedor profundo de tudo que rodeava o rio.
Existem trechos do rio com suas margens tão próximas
que muitas pessoas imprudentes no passado foram tentadas a saltar de sobre as
pedras ou atravessar sua água, acreditando que ela só chegaria aos joelhos. Acabaram
mortas e seus corpos nunca foram encontrados. Green não só sabia destes perigos,
como presenciou muitas mortes de pessoas descuidadas. O pior é que cada vez
mais o rio atrai pessoas curiosas.
Há placas de avisos por todos os lados para que
ninguém se arrisque tentando nadar ou mergulhar. Mas, sempre existem os
teimosos e valentões e as mortes continuam acontecendo e as explicações
continuam sem nexo. Pois não há pistas daqueles que somem. Se você mergulhar
ali nem adianta a família encomendar o caixão pois não vão ter quem enterrar.
Para complicar as coisas tem um trecho do rio Wharfe
que desce a montanha em meio de uma floresta com águas serenas e tranquilas,
mas é uma verdadeira armadilha da natureza.
O senhor Green pretende escrever um livro sobre tudo
que viu e ouviu à beira deste rio misterioso, e a primeira história que vai abrir
o livro é do lenhador Oliver. Homem corajoso forte, um touro musculoso que
derrubava com poucas machadadas tão profundas que eram, uma árvore de tronco
bem grosso, mas que vinha abaixo não resistindo à força bruta.
Dizem as lendas que Oliver se apaixonou por uma bela
mulher misteriosa, que aparecia sempre que ele adentrava à floresta e se
aproximava dele. A sua beleza deslumbrava o lenhador. O perfume que envolvia
todo o ambiente era algo que o homem de origem simples nunca havia sentido.
Esta mulher de nome Laura dizia que habitava a
floresta e se encantou com seu corpo másculo e sua alma pura, já que ela tinha
poderes para ver coisas além deste mundo. Oliver apaixonou-se por Laura
loucamente e ela se deixou envolver. O amor nasceu entre as duas criaturas.
Oliver começou a ficar cada vez mais na companhia de
Laura e até parou de derrubar árvores, pois achou que não precisaria mais de
lenha para esquentar sua cabana. Então sua amada o convidou para morar no seu
reino que ficava do outro lado do rio. Mas para isso ele precisaria
atravessá-lo nadando.
Oliver se assustou ao saber que teria que enfrentar
o rio traiçoeiro, mas seu amor por Laura foi mais forte do que qualquer temor, e
vendo que ela já o esperava do outro lado do rio, mergulhou com toda coragem e
começou a nadar em direção da felicidade.
Porém, como esta história vinha sendo contada desde
os tempos muito antigos e sendo passada de pai para filho, alguns davam um
final feliz para Oliver e Laura. Mas outros moradores contavam de outra maneira
e diziam que o rio furioso venceu o corajoso lenhador que morreu afogado. Green
resolveu que esta primeira história do seu livro não teria um desfecho.
Cada um que decida como esta história deve terminar.
Mas outras histórias virão pois Green sabe um bocado delas.
Henrique gostei muito. Eu que nasci e cresci às margens do Rio Paraíba do Sul. Inúmeras historias sobre mortes inexplicáveis, ocorridas nas águas do Paraíba, ouvi. Também conheci algumas vitimas. Seu conto me agradou muito. Parabéns.
ResponderExcluirHelio F. Salema
Parabéns Henrique! Um ótimo texto! Muito bem conduzido! Adelaide
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