DIREÇÃO ERRADA
Hirtis
Lazarin
A
noite estava escura. Nem a lua nem as estrelas para clarear a estrada estreita
e esburacada. Apenas uma brisa
irrequieta ciscando a relva esbranquiçada e miúda que se estendia a perder de
vista. Árvores, muito poucas.
Depois
de quilômetros e quilômetros rodados num carro velho e perdido no rumo, aparece
uma placa indicando um restaurante de estrada.
Estaciono
e observo detalhadamente tudo à minha volta. Nenhuma luz acesa, nenhuma voz.
Parecia abandonado.
Senti
medo, mas desci. Minhas pernas inchadas e cansadas doíam. Muito tempo na mesma
posição tensa de gente que está perdida e não sabe onde vai parar. A garganta
seca exigia água. Impossível não encontrar uma única torneira.
A
recepção estava vazia. Sobre uma escrivaninha de verniz rabiscado, uma máquina
Olivetti e numa folha de papel branco e intacto encaixada nela, uma palavra que
não foi concluída.
Da
janela envidraçada, coberta de gordura e pó, era impossível ver o que acontecia
do outro lado. Uma porta que já foi pintada de branco está com a maçaneta
quebrada.
Empurro-a
cuidadosamente para não chamar a atenção, mas de velhice ela reclama. Nem
vozes, nem barulho do outro lado, apenas a minha respiração ofegante. Um cheiro
azedo de comida estragada.
Meus
olhos, aos poucos, vão se acostumando com o escuro: uma cadeira caída, cacos do
que já foi louça, roupas esparramadas e muitas moscas rodeando alimentos apodrecidos.
O maior susto foi quando vi sobre a cama uma moça seminua, amordaçada, presa à
cama, pés e mãos amarrados. Os olhos arregalados suplicam, pois acredita ela
que chegou o seu fim.
Aproximo-me
de um jeito cordial e transmito-lhe confiança. “Não se assuste. Vou ajudá-la. Sou
alguém alheio a tudo que está acontecendo”.
Com
dificuldade, liberto-a das amarras. Seus pulsos e tornozelos estão feridos,
sangram. Peço que não fale nada. “Temos
que abandonar esse lugar o mais rápido possível, antes que apareça alguém”.
Ela
está confusa e fraca. Não consegue dar um passo à frente. Carrego-a no colo e
chegamos ao carro sem sermos incomodados. Reviro os bolsos da calça, do casaco
e não encontro as chaves. Deito-a na grama quase desfalecida.
A
noite está agora mais escura. Nuvens acinzentadas prometem chuva a qualquer
momento. ”Ótimo para assentar a poeira
que levanta do chão seco e ataca minha rinite crônica”.
Olho
o relógio e são vinte e duas horas e dez minutos. Já se passaram mais de duas
horas desde que cheguei ali.
“Preciso
voltar àquela casa e procurar as chaves. Corremos o risco de sermos
surpreendidos a todo minuto perdido”.
Dou
alguns passos rápidos e paro.
Ouço
o trotar de cavalos que chegam cada vez mais perto...
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