O
CAÇADOR
Henrique
Schnaider
João Cajuru era um caçador dos bons. Vivia sempre no
meio da mata, tiro certeiro. Era integrado ao meio em que vivia, uma árvore no
meio de tantas outras. Era o rei da floresta, tinha a vantagem não se fixar e de
se movimentar. Olhos de lince, estratégico, usava seus instintos de olho vivo e
faro fino.
Sua pele vibrava aos poucos e ia aumentando cada vez
mais com a intensidade do momento em que acertava um tiro no animal que caia
ferido mortalmente.
O João caçava coelhos, ficava à espreita com
respiração presa para não assustar o orelhudo. Para os javalis, o enfrentamento
era cara a cara com aquelas presas enormes prontas para fincar nele. Chegava o
mais próximo possível e o tiro perfeito no coração do bicho que batia cada vez
menos até parar. Com os catetos era a mesma coisa.
Os cervos eram um capítulo à parte, pois o porte
destes animais era de médio para grande. Eles são muito ariscos e o tiro tinha
que ser dado de longa distância para não espantar a presa. Era a carne nobre
que João comia saboreando vagarosamente. Da pele João cerzia uma roupa que
servia nele perfeitamente.
Para cada um dos animais ele tinha a armadilha
certa. As vezes conseguia matar uma onça parda para sua alegria, animal
perigoso bravo, agressivo pronto pegar um inimigo ou para matar a fome.
João morava numa caverna bem escondida, mas à noite,
enquanto descansava, ficava alerta com todos os sentidos. Ouvidos atentos,
instinto pronto. Aguardando os primeiros raios do sol de outono com uma luz
pálida e macia.
Saindo na manhã acolhedora para vagar sem rumo. João
ia preparando a visão para enxergar uma presa. Uma águia lá do alto, no céu
azul, espreitando com olhos de visão infravermelha. Tudo que conseguiria num
ataque mortal a sua caça.
Naquela noite finalmente o encontro esperado, João
coração acelerado atingiu o auge de seus sonhos de caçador. Prendeu a
respiração e foi fazendo o coração bater mais compassado. Uma estátua imóvel. Ficou
cara a cara com a onça pintada. O duelo foi rápido, um tiro bem na fronte do
animal. Que tombou ferido mortalmente. Aquela pele seria um troféu, arduamente
esperado e finalmente atingido.
João estava orgulhoso de seu feito, se achava o
grande caçador, o melhor. Não havia outro do seu nível. Exultava tremendamente
ao lado da sua oponente morta.
Até que um dia, chegaram as máquinas e os piores
inimigos do valente caçador João Cajuru. As serras elétricas agiram em toda sua
potência, árvores caiam às pencas, transformando-se em troncos mortos e prontos
para serem levados para as serrarias.
O desmatamento não perdoou nada e a floresta foi
respirando cada vez menos, até o fim do seu verde. Áreas enormes descampadas,
nada impedia a sanha mortal dos inimigos da floresta.
Foi de doer na alma do pobre caçador João Cajuru,
que viu a sua vida destruída e sem futuro. Se transformou num morto vivo.
Estava nu, despido da sua amada floresta.
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