RUBENS: CULPADO OU INOCENTE?
Henrique Schnaider
Rubens era uma pessoa que teve uma infância difícil,
lado escuro da vida, nunca comeu a cereja vermelhinha do bolo, quando muito um
pão velho duro, verde de tão embolorado. O pai, sujeito bruto, um cavalo, só
faltava relinchar, alcoólatra inveterado, vivia alterado, trabalhava em serviço
duro.
Quando chegava em casa, o cenário se transformava no
inferno de chamas azuis de Dante, a esposa já aguardava pelas agressões, depois,
várias salmouras, para curar os vergões roxos por motivos não faltavam para o
marido, a comida que não estava do seu gosto, o fato dela ter engravidado, que
não a perdoaria, se o nenê chorasse, total falta de paciência. E, as agressões
aconteciam.
A mãe, um doce de pessoa, aguentava tudo calada, não
reagia, apanhava e chorava, era dependente do marido, que nunca admitiu que ela
trabalhasse. Ela não queria relatar à família, o drama de cores trágicas,
desesperado que vivia. A alegria que aquecia sua alma gélida de tanto
sofrimento, era o pequenino Rubens.
Assim o menino cresceu, apanhando calado por
qualquer motivo, recebendo do pai, desprezo e violência, o único prêmio, era a
fada mãe, que tinha a varinha de condão, que lhe dava amor profundo e carinho.
O tempo passou, Rubens se tornou um adulto, com uma
mistura de sentimentos, de amor e de ódio, se encheu de revolta, com o coração aos
pedaços, pelos recalques que dominaram o rapaz. Era difícil para ele trabalhar com
seus sentimentos.
Nos estudos, era bom aluno, não teve dificuldade de
chegar à Faculdade, resolveu que seguiria a carreira de Advogado, assim,
formou-se numa instituição famosa, onde todos almejavam estudar. Começou como
estagiário, numa banca de Advogados.
Na época da Faculdade conheceu Aurea, por quem se
apaixonou, finalmente conheceu a felicidade. O sofrido coração se aqueceu com o
fogo da paixão, e foi correspondido. Formaram-se juntos, faziam planos para casar-se,
juntaram forças, Aurea não notava nada de errado, na conduta de Rubens,
conseguiram dar entrada, na compra de um pequeno apto.
Mobiliaram o lar com muita cor, combinando com as
paredes em tom bege claro, um ninho do amor. No começo eram tudo flores, mas os
espinhos não demoraram a chegar.
Depois de dois anos de completa harmonia e
felicidade, Aurea começou a notar uma mudança de atitude da parte de Rubens, já
não era mais aquele homem amoroso, do qual recebia tanto carinho e mimo, sua
casa vivia, cheia de rosas, vermelhas, amarelas etc. um caleidoscópio de cores.
Começou a chegar bem depois dela, já que ambos
trabalhavam, não dava nem um mísero oi, entrava mudo, mal a tocava, o amor se
esvaeceu, escorreu como a chuva, no fim da primavera. Ela começou a notar, que
Rubens chegava com hálito de bebida, se tornando cada vez mais agressivo.
Parecia que o espírito brutal do pai tomou conta do
pobre rapaz. Aurea tentou dialogar com ele, chamá-lo à razão, tudo em vão. Daí
para as agressões foi um pulo. Só que a esposa, não era como a mãe de Rubens,
deu queixa na delegacia da mulher, a Delegada determinou que ele não poderia
chegar a cem metros dela.
Rubens entrou em desespero, mil promessas de mudança
e pedidos de reconciliação, Aurea irredutível, não aceitava a volta do marido,
vivia com medo, de que, em algum momento, Rubens pudesse invadir o apto e praticar
uma desgraça. O lar já não tinha mais alegria, as cores perderam a graça, se
desmancharam.
Um dia quando Aurea menos esperava, sem dar chance a
ela de avisar a polícia, Rubens invadiu o apto. Tinha o rosto desfigurado, a
pele seca e amarelada, um tremor visível nos membros inferiores, e um revólver empunhado
na mão: “se você não quer mais ser minha, não será de mais ninguém! ”. Os
disparos puderam ser ouvidos de longe, mas ele não se incomodou com o que
viria. Foram cinco tiros no peito da
indigitada mulher. Uma tragédia anunciada e cumprida à sangue frio. Rubens
entregou-se a polícia, sem ter mais nenhum motivo para viver, condenado de
forma justa a vinte anos de reclusão.
A pergunta que fica no ar é esta: Rubens foi vítima
de seu pai? Inocente que era, de tantos maus-tratos, se tornou um assassino, e
culpado por tirar a vida da pessoa que mais amava.
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