FINAL DE TARDE
Hirtis
Lazarin
Finalmente
Lívia achou um cantinho aconchegante capaz de amenizar seu sofrimento, um
refúgio deserto onde podia gritar até perder a voz e chorar uma cachoeira de
lágrimas. Um sofrimento sem fim que
herdou após o rompimento de um namoro prestes a virar noivado.
Suas
tardes tornaram-se rotineiras. Caminhava
quase um quilômetro até chegar à praia.
Sempre no momento em que o sol agonizava detrás de uma cortina
alaranjada, mas garantindo que, na manhã seguinte, voltaria. As ondas chocando-se com os rochedos, a
espuma branca cobrindo a areia, a imensidão azul-esverdeada cheia de mistérios,
transmitiam-lhe um pouco de paz. A paz
que se foi de um jeito incompreensível e brusco quando a verdade se mostrou
inquestionável.
Fazia
exatamente dois anos que Lívia conhecera Luca, numa exposição de pinturas
impressionistas de artistas brasileiros.
Estava ela deslumbrada diante de um quadro de Washington Maquetas. Já lera o suficiente sobre o impressionismo
iniciado por Monet, mas era a primeira vez que estava diante de obras dessa
escola de arte. Impressionante a técnica
das pinceladas rápidas e soltas, retratando as coisas exatamente como o pintor
as vê a luz do sol, ao ar livre para que pudessem reproduzir melhor as nuances
de cores da natureza.
Lívia
foi despertada dessa contemplação por um perfume amadeirado e suave.
Olhou pros lados e não havia ninguém. Atrás dela estava o causador de sua
desconcentração. Luca aproximou-se e,
como apreciador dessa arte, o papo foi longo e interessante. Estabeleceu-se uma sintonia que virou namoro
e chegou aos preparativos do noivado.
Dois
meses antes da festa, Luca viajou à Europa a negócios. Depois de alguns dias, as mensagens foram
rareando, os telefonemas não mais atendidos até o desaparecimento dele das
redes sociais. O choque maior aconteceu
quando a família informou que o rapaz estava bem e não voltaria tão cedo ao
Brasil. Lívia foi nocauteada e, sem dó,
jogada ao chão. Por mais que pensasse não
descobria nenhuma pista do porquê desse rompimento sem uma palavra, sem qualquer
explicação.. Nenhum desentendimento...
Como era possível acreditar? Luca parecia tão
verdadeiro, tão seguro dos planos. Uma
pessoa não muda de ideia sobre coisas tão sérias de um dia pro outro... Um
turbilhão de perguntas sem respostas... "Aqueles olhos grandes me olhavam
de um jeito que até parecia poesia?"
O
conto de fadas acabou e a jovem caiu numa tristeza profunda. Abandonou o trabalho, afastou-se dos amigos,
trancou-se dentro de casa e dentro de si mesma.
Durou uma eternidade até que, num entardecer conseguiu caminhar até a
praia. E a primeira música que conseguiu
ouvir foi cantada pelas ondas do mar. O
mar cantava só pra ela...
"
Sabe, a gente cresce e tem vontade de ser menino outra vez, Os joelhos ralados
doem menos que a desilusão de um grande amor'.
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