O
BOM RAPAZ...
Do Carmo
Parte I - Sínico e Malandro.
É
incrível a criatividade de meu vizinho de apartamento, Eduardo! Mais conhecido
por Dudu, sempre tem uma justificativa sentimental para suas malandragens.
Choraminga
mais que uma carpideira para safar-se das mentiras e safadezas, culpando as
crueldades dos invejosos. Ele é mestre na invenção de falsas justificativas
dolorosas, com requinte de sofrimento, propiciando a falta que contra sua
vontade, viu-se obrigado a cometer.
Uma
das desculpas mais estapafúrdia que aplicou, para fugir da cotização entre os
condôminos para presentear os funcionários do condomínio, pelo Natal, foi
homérica.
Descaradamente,
fingindo conter lágrimas nervosas para rolar, pede aos amigos presentes isenção
de pagamento, uma vez que foi assaltado há alguns dias e ficou sem tostão sequer,
para uma refeição. Os colegas de trabalho é que o têm ajudado, até o próximo
pagamento. Ainda com expressão de desespero, pede para que concedam a ele fazer
parte do Cartão de Natal coletivo aos funcionários.
Por
unanimidade, seu pedido foi aceito.
Diante desse comovente depoimento, a pauta continuou.
Poucos
minutos para o encerramento, toca o celular de Dudu, que se desculpando,
levanta-se e atende ao chamado. Com voz melancólica, pede para sair, uma vez
que um amigo está enfartando e precisa de ajuda.
Sai
apressadamente e ao chegar à garagem, enquanto pega seu carro, retorna a
ligação e pergunta em qual boteco eles estão reunidos, seria mais umas noite de
orgia.
Parte
II - Mas o que é isso?
Passados
alguns dias, da reunião de condomínio onde o Dudu e eu residimos, da qual saiu
para socorrer um amigo enfartando, acontece uma convocação, em caráter de
urgência, para nova reunião, cujo teor da pauta é de interesse geral e
gravíssimo.
Estando
todos presentes, o Presidente da Assembleia dá início a sessão e diz que muito
decepcionado, fez essa nova convocação para exibir um filme, que sabiamente um
condômino realizou para mostrar o abuso de sensibilidade que sofremos.
Displicentemente
sentado e tranqüilo, Dudu, de caderneta e caneta nas mãos, pronto para
anotações sobre o tão importante assunto a ser tratado, espera a gravíssima revelação.
As
luzes foram apagadas e o filme começa.
Uma
exclamação de horror foi geral. Cenas de orgia depravada, danças eróticas e
bebidas descontroladas. Um bacanal indecente.
O
Presidente então diz:
-
Dentre os participantes vê-se ridiculamente seminu, o nosso atencioso
participante desta reunião, o digníssimo amigo leal e socorrista: Senhor
Eduardo, carinhosamente por todos chamado de Dudu.
-
Mas o que é isso? Grita Dudu.
Tranquilamente
o Presidente da sessão continua:
-
Senhor Eduardo, estas são as cenas de seu atendimento ao amigo enfartando, na
noite de nossa reunião passada, há dois dias, quando nos contou sobre o assalto
sofrido e que sequer tem recursos para alimentar-se.
Sem
comentários senhores. Sessão encerrada.